Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Hoje é dia de recordar a Língua portuguesa que se emprega na Galiza e a sua musa

Considerada a fundadora da moderna literatura galega, a escritora e poetisa Rosalía de Castro foi a iniciadora do Rexurdimento, movimento cultural que constitui o germe do nacionalismo galego. A publicação da sua obra Cantares Gallegos, da qual extraímos o poema “Adeus, rios; adeus, fontes”, é actualmente assinalado como o Dia das Letras Galegas.
Rosalía de Castro é um dos grandes vultos da literatura galega, o mesmo é dizer da Língua portuguesa que se emprega na Galiza. E, tal como se verifica com o cancioneiro medieval galaico-minhoto, também a poesia de Rosalía de Castro e, de uma maneira geral a literatura galega, deveria ser difundida e estudada em Portugal.
Adeus, rios; adeus, fontes
Adeus, rios; adeus, fontes;
adeus, regatos pequenos;
adeus, vista dos meus olhos;
não sei quando nos veremos.

Minha terra, minha terra,
terra onde me eu criei,
hortinha que quero tanto,
figueirinhas que plantei,

prados, rios, arvoredos,
pinhares que move o vento,
passarinhos piadores,
casinha do meu contento,

moinho dos castanhais,
noites claras de luar,
campainhas timbradoras
da igrejinha do lugar,

amorinhas das silveiras
que eu lhe dava ao meu amor,
caminhinhos entre o milho,
adeus para sempre a vós!

Adeus, glória! Adeus, contento!
Deixo a casa onde nasci,
Deixo a aldeia que conheço
Por um mundo que não vi!

Deixo amigos por estranhos,
deixo a veiga pelo mar,
deixo, enfim, quanto bem quero…
Quem pudera o não deixar!...

Mas sou pobre e, malpecado!
a minha terra n’é minha,
que até lhe dão prestado
a beira por que caminha
ao que nasceu desditado.

Tenho-vos, pois, que deixar,
hortinha que tanto amei,
fogueirinha do meu lar,
arvorinhas que plantei,
fontinha do cabanal.

Adeus, adeus, que me vou,
ervinhas do campo-santo,
onde meu pai se enterrou,
ervinhas que biquei tanto,
terrinha que nos criou.

Adeus, Virgem da Assunção,
branca como um serafim;
levo-vos no coração;
vós pedi-lhe a Deus por mim,
minha Virgem da Assunção.

Já se ouvem longe, mui longe,
as campanas do Pomar;
para mim, ai!, coitadinho,
nunca mais hão de tocar.

Já se ouvem longe, mais longe…
Cada bad’lada uma dor;
vou-me só e sem arrimo…
Minha terra, adeus me vou!

Adeus também, queridinha…
Adeus por sempre quiçá!...
Digo-che este adeus chorando
desde a beirinha do mar.

Não me olvides, queridinha,
Se morro de solidão…
Tantas léguas mar adentro…
Minha casinha!, meu lar!

Rosalía de Castro, Cantares Gallegos, edição de Higino Martins Esteves

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