Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Incompetentes, mas intocáveis nos seus vencimentos e lugares.

Tal como às moedas cerceadas faltavam as letras dos seus bordos, devido à sua antiguidade e à erosão que sofreram ao longo dos tempos, aos políticos actuais, muitas vezes, falta o mínimo de cultura para desempenharem os cargos para que são nomeados.
Não quero entrar na má língua, mas recordo sempre o esclarecimento de um grande homem da política portuguesa, quando lhe faziam a observação de que determinado presidente da república tinha grandes falhas em matéria cultural, não se percebendo qual o motivo dessa visível carência. Após criar uns segundos de expectativa, respondia secamente com ar compenetrado e solene, que simplesmente lhe faltava o liceu….!
Bolas, que falta de caridade nesta explicação, concluía eu com os meus botões. Mas reconheço que a mesma era verdadeira e está na ausência do mínimo de conhecimentos e da medíocre cultura base, as duas grandes fontes da incompetência que onera grande parte dos nossos políticos.
O conhecido Princípio de Peter devia servir para, nas carreiras profissionais, cada um se ficar pelo seu nível de competência, não subindo mais na hierarquia, única maneira de não ter a possibilidade de tratar de assuntos para que não tem um pingo de capacidade. “Não suba o sapateiro à perna”, frase que simboliza o atrevimento do sapateiro a quem foi pedido um parecer sobre o calçado de uma dama pintada numa tela e logo abriu as asas da vaidade e fez comentários ao modo como estava pintada a perna da retratada. Mas actualmente, com a falta de preparação dos nossos políticos, o grande alfobre das nomeações para as empresas públicas, o nível de incompetência verifica-se num escalão muito mais baixo. Cada vez mais baixo.
Nas carreiras profissionais tal fenómeno, infelizmente, ocorre praticamente mal os responsáveis são nomeados para os cargos. E os titulares dos cargos, claro está, nem sequer discernimento e conhecimentos escolares e culturais têm para se aperceberem da sua total incapacidade para desempenhar determinada função. E nessa situação vão permanecendo, arrastando-se nos lugares, pensando que pelo facto de ocuparem determinado cargo têm legítimo direito ao ordenado respectivo, façam ou não coisa que se veja. E vão sendo mesmo promovidos economicamente falando, apesar da sua inteira inutilidade, a não ser desbaratar dinheiro do erário público.
Esta desgraça não para, pois como os lugares são de nomeação política, ninguém lhes vai à mão para lhes comunicar a simples verdade: - “Não tem a mínima capacidade intelectual e técnica para ocupar o lugar para onde foi escolhido, ponha-se no olho da rua”. E os poucos que reclamam da incapacidade dos gestores públicos, são prontamente silenciados pela maré-alta da incompetência e pelas muletas partidárias onde esta se apoia. E as empresas públicas tudo vão aguentando até ao colapso.
Ora, o dinheiro mal aplicado e gasto não é dos autores políticos dessas nomeações e sim da população que paga impostos ao Estado. Naturalmente, muitos responsáveis que estão a desempenhar cargos nesse tipo de empresas, nem para simples porteiros têm capacidade profissional. Pelo contrário, numa empresa particular é bem diferente. A responsabilidade pela escolha dos elementos dos cargos de chefia, é dos proprietários das mesmas e uma má escolha vai recair sobre os seus bens e interesses. E o dinheiro mal gasto, como lhes sai dos bolsos, obrigam-nos a pedir contas aos responsáveis pelas gestões negativas, sendo estes naturalmente corridos dos lugares, sem dó nem piedades.
Nas empresas públicas, se a escolha foi feita por motivações políticas e não por um exame à competência dos candidatos aos lugares, como já referi, ninguém vai levantar o problema da incapacidade dos responsáveis nomeados, com receios de represálias de diversa ordem. Ainda por cima, posteriormente, a responsabilidade por essas nomeações desastrosas, infelizmente, fica esquecida e atenuada no colectivo e no tempo. Mas o grave dessas nomeações políticas, é que as asneiras e as omissões dos que desempenham os cargos caiem nos ombros de todos nós, isto é, de toda a comunidade que paga com os seus impostos os maus serviços prestados pela camaradagem política escolhida. Direi como o corajoso juiz jubilado do Tribunal de Contas, Carlos Moreno, no seu importante livro, que aconselho a todos lerem, “ Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro”, não só pagamos os impostos, como a factura da má gestão da máquina do estado e das empresas públicas. Claro que ao gastar alegremente mais do que tem, o Estado acumula as dívidas. E quem tem que as assumir somos nós, os contribuintes, que pagamos o descontrolo das finanças do Estado com novo apertar do cinto e sacrifícios que nunca mais acabam.
António Moniz Palme - 2011

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