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Manuel Beninger

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Long live the Queen

A data nunca foi para grandes festejos: a 6 de Fevereiro de 1962, a princesa Isabel passeava com o seu marido Filipe num parque natural do Quénia quando lhe foi comunicada a inesperada morte do seu pai, Jorge VI. Aos 25 anos, Isabel era chamada a uma função que, ao contrário de muitos familiares antepassados, não lhe estava destinada desde o nascimento.
Aquele que é hoje o segundo maior reinado da história do Reino Unido não aconteceria se o rei Eduardo VIII, seu tio, não tivesse abdicado do trono para casar com Wallis Simpson – uma norte-americana cujos dois casamentos passados chocavam com os valores da Igreja de Inglaterra e dos costumes da família real britânica. Aos 10 anos, a pequena 'Lilibet' passava de sobrinha a filha herdeira do Rei britânico.
A passagem pelo Quénia, que seria apenas a primeira paragem de uma viagem que levaria o novo casal da monarquia britânica até à Austrália e Nova Zelândia, foi bruscamente interrompida para um regresso de emergência a Londres. E já foi como Isabel II que aterrou na capital do império, onde foi recebida pelo então primeiro-ministro Winston Churchill.
O título atribuía-lhe o estatuto de Chefe de Estado em locais como o Paquistão, África do Sul e Ceilão – hoje Sri Lanka –, além da Austrália, Canadá ou Nova Zelândia – que ainda hoje fazem parte dos Estados dos quais Isabel II é a primeira figura institucional. Na Austrália, o estatuto foi referendado em 1999 mas 6,5 milhões de australianos escolheram continuar com Isabel II como Chefe de Estado em vez de inaugurar uma república.
Em 1955, ano em que a pasta de dentes Gibbs SR estreia os anúncios televisivos em Inglaterra, a jovem Rainha estreia-se a empossar um primeiro-ministro devido à demissão de Churchill na sequência de constantes problemas cardíacos. Anthony Eden tornava-se o segundo chefe de Governo do seu reinado, numa lista onde já se contam 13 inquilinos do n.º 10 de Downing Street. Um deles, John Major, lembrou esta semana que «a maioria dos actuais ministros ainda não tinha nascido quando a Rainha chegou ao trono», o que prova que «há pouco que ela não tenha visto, pouco que ela não perceba».
Mas mesmo na altura em que os ministros eram ainda mais velhos do que ela, já Isabel II se mostrava difícil de influenciar: quando Eden pediu a demissão, o Partido Conservador não conseguiu chegar a um consenso sobre o seu sucessor, cabendo à Rainha a decisão de convocar eleições ou nomear um membro do partido para a chefia do Governo. O Guardian lembrou na segunda-feira que a monarca «escolheu Harold Macmillan em vez do favorito da comunicação social, Red Butler». Seis anos depois, ao mesmo tempo que os Estados Unidos choravam a morte de John F. Kennedy, a Rainha era chamada a tomar decisão idêntica devido às divisões no partido do poder.
A nova Vitória
Ao completar agora 60 anos de trono, o Jubileu de Diamante, Isabel II igualou um feito só alcançado pela sua trisavó Vitória, que prolongaria o seu reinado por mais três anos. Mas as comparações de Isabel com a trisavó já têm mais de 50 anos: em 1960 dava pela terceira vez à luz, a primeira Rainha a fazê-lo desde Vitória, com o nascimento do filho André, hoje Duque de Iorque. A descendência, que então já contava com a Ana, princesa Real, e Carlos, príncipe de Gales, viria a aumentar quatro anos depois com o nascimento de Eduardo, conde de Essex.
Seriam os filhos os principais responsáveis por aquele a que chamou o ‘annus horribilis’ de 1992. Ao divórcio de Ana e Mark Phillips juntou-se a notícia da separação entre Carlos e Diana de Gales e de André e Sarah Fergunson. Abalos familiares a que se juntou um incêndio que destruiu parte do Castelo de Windsor. O acontecimento voltaria a aproximar Isabel do seu povo: perante as críticas da opinião pública ao anúncio do primeiro-ministro de que o castelo seria reconstruído com dinheiro público, a Rainha decretou a abertura do Palácio de Buckingham para visitas gratuitas durante os meses de Agosto e Setembro. O sucesso da iniciativa foi tal que ainda hoje se repete anualmente.
Inspirada por uma década revolucionária que levara o homem à Lua, dera a conhecer os Beatles e culminara no Maio de 68, a Rainha britânica autorizou, em 1969, a realização de um documentário que retratava o dia-a-dia dos membros da família real. O filme é transmitido na BBC e na ITV mas a Rainha decreta a proibição da sua repetição, até hoje. Noutra demonstração de arrependimento, considerando que o povo já a vira o suficiente, substituiu a tradicional mensagem televisiva de Natal por um documento escrito.
No ano seguinte troca de estratégia: em visita à Austrália e Nova Zelândia, onde já foi 15 vezes como Chefe de Estado, quebra o protocolo e abandona o carro real para se dirigir ao povo que a saúda. Uma tradição que mantém até hoje mas que não fez parte da visita oficial a Portugal, realizada no longínquo mês de Fevereiro de 1957.
Até ao momento, o seu reinado conheceu cinco Papas e 12 Presidentes dos Estados Unidos. Em 1980 Isabel II_tornou-se o primeiro monarca britânico a realizar uma vista oficial ao Vaticano. Já com os Presidentes dos EUA privou com todos – à excepção de Lyndon Johnson. E nesse mundo diplomático recebeu em 1975 um raro reforço monárquico numa Europa cada vez menos dada a histórias de reis e rainhas: Juan Carlos, seu primo por também ter a Rainha Vitória como trisavó, ascende ao trono espanhol após a queda da ditadura de Franco.
Quando assumiu o trono era difícil imaginar que Isabel II algum dia visitasse a Rússia, mas fê-lo em 1994, um ano antes de voltar a comemorar o fim da II Guerra Mundial no Palácio de Buckingham – desta vez ficando-se pela varanda, ao invés de se misturar no meio do povo como fizera em 1945, com 18 anos.
Isabel II não celebrou o seu Jubileu de Diamante no dia da morte do pai. Irá, como sempre, festejá-lo ao longo do ano, com o ponto alto marcado para Junho, quando uma frota de mil barcos, encabeçada pelo navio da Rainha, encher o rio Tamisa. Até lá, a Soberana dará a volta a todo o país e os seus familiares visitarão os 16 Estados que respondem à coroa. Foi assim também há dez anos, apesar de naquela altura a monarca ter perdido a mãe e a irmã, num curto espaço de tempo. E será assim daqui a outros dez, se Isabel II mantiver a saúde.
Fonte: SOL

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