Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

quinta-feira, 8 de março de 2012

Se Portugal precisa de um Rei?

Preferia reafirmar, antes de dar inicio  este debate, que eu não sou monárquico. Ao contrário dos bloggers Rodrigo Moita de Deus, Nuno Miguel Guedes, Samuel Paiva Pires ou João Vacas que escrupulosamente acompanho. Ao contrário dos ilustres Gonçalo Ribeiro Telles, Pedro Quartin Graça, José Thomaz de Mello Breyner que entusiasticamente admiro. Ao contrário dos jovens activistas João Gomes de Almeida, Luís Tangarrinha ou Duarte Cruz Bucho com quem compartilho anos de amizade. Renego respeitosamente a monarquia mas a desilusão crescente trazida pelo regime vigente, tem-me levado à procura por soluções alternativas aonde a instauração duma monarquia constitucional, naturalmente possui cabimento. Quando me questionam sobre a minha posição, tento defender a república com inteligência e objectividade, sem fanatismos, sem realizar alusões histórias aos melhores ou piores episódios dos dois regimes e recordando a distinção concreta entre regime governamental e chefia de Estado. Sinto, contudo, que as recentes intervenções do infeliz presidente da república me têm feito perder argumentos. 
Toda a discussão sobre o futuro do regime, a este nível, encontra-se encoberta, de parte a parte, por uma névoa falaciosa impedindo o apolitizado cidadão de proferir uma opinião consciente. Desconstruamos as erroneidades: Monarquia não sinonimiza elitismo, aristocracia nem direitismo ideológico ou qualquer outro extremismo afim. Não é um retrocesso social nem uma mudança profunda na forma como se governa o país, muito menos significativa do que o cambio governativo como aquele que se deu em Junho passado. Este estado-sítio explicado pela sapiência nonagenária de Gonçalo Ribeiro Telles, envolve-se de uma majestosidade em nada confundível com o saloísmo inefável da pseudó-nobreza salazarista, esse mesquinho ditador sem dimensão de carácter para compreender ou sequer aceitar a realeza. Na verdade, há monarquias sociais-democratas, monarquias de Esquerda, nações monárquicas de governo socialista onde a qualidade de vida é superior e a desigualdade social é menor - Suécia, Dinamarca ou Canadá serão alguns exemplos. Todavia, se há vários argumentos caídos aquém do necessário para justificar a mudança de regime, o indutivo será um deles; outro destes será a questão financeira, i.e., é-me indiferente se a casa real é mais económica do que a presidência da república como a conhecemos. Também acho inapropriado que se baseiem em partidarismos hipotéticos que nunca antes observámos; pior, é suspeitar de que estes seriam prováveis após eliminarmos a dependência eleitoral do chefe de estado. A monarquia tem as costas largas e sobre ela têm recaído todos os preconceitos, do retrocesso civilizacional àqueles que foram dados pelos ocasionais regentes inefáveis. Continuo, no entanto, defendendo a república convencido de atribuir ao povo uma responsabilidade superior sobre todas as suas formas de representação. Não posso esquecer todavia o dito monárquico que aprendi do João - O povo tem o Rei no coração!
Tento objectivar visões sobre a república, a monarquia e a possível transição entre ambas. Houveram presidentes da República, chefes de Estado, que em nada envergonharam a digna representação do país: A coragem de Ramalho, a cultura democrática de Mário Soares ou a mestria intelectual de Sampaio, são motivos para o orgulho nacional embora o regime fracasse nesse ponto. Há quem desconheça o chefe de Estado, quem se abstenha nas presidenciais, quem reconheça a inoperância de Belém e descuide o mais efectivo símbolo da nação - denominada de República Portuguesa. Por conseguinte, também os nossos extraordinários ex-presidentes, na sua grandiosidade (e há excepção de Mário Soares que continua participando activamente nos diversos fóruns sociais) evidenciam o pior do regime: A sua condição precária, desprimora a liderança da nação,condenando as eras e seus magníficos protagonistas à indiferença da condição política consabidamente restringida à veleidade dos ciclos, consensualmente indiferente. Quantos dos nossos jovens nomeiam correctamente o primeiro presidente da república no pós-revolução? Depois da monarquia, Portugal perdeu uma facção considerável do seu território envergonhando-se em seguida da história que lhe era inerente; perdeu também a total legitimidade governativa, cedendo significativamente a autonomia legislativa à Europa e a independência financeira aos mercados circundantes; dispensámos tutelar as linhas mestras que definem fundamentalmente a língua Portuguesa, agora uma pátria perdida. Hoje atravessando uma época de permanente mudança, escasseiam símbolos de persistência, afinidade e união, suficientemente hegemónicos ou duradouros (cada ‘mandato real’ durou em média 22 anos) para que possam adquirir significância posterior. Precisamos de uma voz unificadora e representativa, não dos grupos instituídos ou dos cidadãos interessados, mas de cada Português. Atravessando uma crise de identidade, de orientação, ao constante alheamento do povo com perceptíveis repercussões até no universo socioeconómico, a soberania de um (bom) Rei pode ser uma resposta. Enquanto republicano, bater-me-ei em todos os momentos para que os vários monárquicos citados possam expor estes e outros argumentos defendendo honradamente a sua causa, por Portugal.
Chefiar a nação é uma profissão honrada como outra qualquer, mas Cavaco remete-a para o pior do mais tacanho funcionalismo público. Talvez por esse motivo o tema haja sido rebatido nos últimos meses, com o movimento monarquista recebendo um fôlego inédito - Sendo o primeiro mau presidente eleito após a queda da ditadura, obriga-nos a repensar as debilidades do actual estado-sítio. Metamorfosear a constituição coroando os herdeiros Duarte de Bragança ou Francisco Van Uden, por alternativa à manutenção da actual infeliz presidência, satisfaz-me na medida em que ambos são incomparavelmente mais lúcidos, capacitados e evoluídos do que o mísero professor Cavaco. À possibilidade de, fruto das diversas iniciativas, possam produzir um resultado consistente, levando o tema às mais elevadas instâncias (como ao parlamento ou a um referendo), só posso cordialmente saudar, satisfeito por observar tamanha pro-actividade, bravura e inovação duma população tantas vezes baptizada de imobilista e conservadora. Não sou monárquico. Mas na incessante busca por denominadores comummente Portugueses, vislumbro nestas movimentações a esperança por poder consolidar uma vernácula fragmentada. E sabe bem encontrar quem fuja aos lugares-comuns, conseguindo colocar oportunamente, as perguntas certas.

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