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Manuel Beninger

sábado, 14 de abril de 2012

A BARBEARIA MATOS FECHOU! “Conhecida no Mundo, Desprezada em Braga!”

Às duas horas da madrugada do dia 11 de abril de 2012 o conhecido barbeiro bracarense, Sr Manuel Matos, esvaziava o espaço onde funcionou a secular barbearia da rua do Souto em que seu pai trabalhou e depois geriu, passando o negocio ao filho. Uma barbearia secular, com uma localização especial e um mobiliário que faziam dela uma peça singular em Braga e um exemplo nacional e internacional desse tipo de patrimônio cada vez mais raro e merecedor de uma preservação efetiva.
A Barbearia não resistiu a uma ação de despejo que, finalmente, se cumpriu e, em face à Lei que regula essa matéria, o assunto estava fechado. Mas como é sabido a ASPA, anos atrás, mais precisamente a 26 de fevereiro de 2005, desencadeou o processo de classificação de interesse concelhio tanto para a Barbearia sita num edifício setecentista, como a da famosa Sala Egípcia integrada nas instalações vizinhas do Sindicato dos Empregados do Comércio, entretanto encerradas. E sobre a qual as notícias vagas que nos chegam dizem que as pinturas no estuque dos anos vinte do séc.XX estão a diluir-se por erosão da humidade intensa e persistente.
O pedido de classificação incidia sobre o mobiliário da Barbearia, bancada, cadeiras, espelhos e móvel-lavatório indispensáveis à atividade funcional do barbeiro, desenvolvida num espaço físico concreto. Preservar o mobiliário é, em automático, preservar a atividade profissional e esta dimensão foi sendo valorizada e discutida a par do problema fechado do despejo. O IGESPAR remeteu, em tempo, ou seja, a 8 de fevereiro de 2006, o processo de classificação à Câmara Municipal de Braga para que, no uso de seus poderes, outorgasse favoravelmente essa fundamentada pretensão. No entanto o vetusto Executivo socialista de Braga habitou-nos a um procedimento matreiro e paradoxal: tão ativo foi durante décadas a fazer e promover obras que modificassem e modernizassem a cidade e tão inerte soube e sabe ser em processos de preservação patrimonial!... A inércia cínica funcionou... O dono da loja de roupa masculina e, por aquisição relativamente recente, proprietário do imóvel da dita loja e da Barbearia empenhou-se em ter o que a Lei lhe garantia: a posse do espaço para empreender a sua legitima expansão de negócio, atacando, porém, o direito da cidade de Braga a ver preservada a mais representativa das suas Barbearias.
A 16 de setembro de 2011 a Assembléia Municipal de Braga aprovou, ficando de fora apenas o CDS-PP, a proposta de classificação desencadeada pela ASPA e secundada pelo IGESPAR. Esta iniciativa que partiu do PPM fez renascer a esperança de que a Lei civil iria ser balanceada com a necessidade de preservar um patrimônio que, afinal, é de todos. Mas...
O cinismo autárquico bracarense vai certamente refugiar-se no argumento astuto de que um assunto de direito privado paraliza a ação pública, não podendo esta interferir... Não pode?
Será que o Município de Braga não poderia ter promovido um movimento de concertação de interesses, à margem da questão dirimida em tribunal, abrindo caminho a que uma recomendação que se enquadra na Lei de defesa do Património tivesse viabilidade, ou seja, permitisse salvar a Barbearia?! E será que o Município de Braga não pode impor condições ao projeto que o proprietário do edifício venha a apresentar e que não contemple a manutenção da Barbearia?! Se o Município nada pode fazer então este pais de magníficas e avançadissimas leis é um pais de faz-de-conta e ridiculamente “surrealista”, sobre o qual e com o qual não “vale mesmo a pena” grandes ou pequenas preocupações, nem sequer perder tempo, porque nada é a sério, nada é para tomar seriamente para o Bem de Todos.
No vidro da porta da Barbearia, encimando um comentário enviado em japonês por um turista nipônico, de entre os milhares que de todos os cantos deste Mundo já se deslumbraram in loco com a surpreendente Barbearia Matos, podia ler-se em português: “Conhecida no Mundo, Desprezada em Braga!”
Braga está prestes a, comprovadamente, ter desprezado a sua Barbearia e assim sendo, pergunta-se à Assembléia Municipal que tão diligentemente puxou o assunto para seu seio e deliberou – não há nada, nada, nada mais a fazer? Vossa deliberação foi só para entreter as consciências e fazer um “vira de política local”?
Esperamos, senhores deputados municipais, que a vossa voz se faça ouvir de novo – agora sim, agora é a hora... - e que a vossa determinação e o vosso bom senso nos faça sentir algum orgulho em sermos bracarenses, com tantos séculos de história e herdeiros de um patrimônio a sério. Um patrimônio que continue onde está e não passe só para uma vida de papel ou digital em cartazes à entrada da urbe ou em slides de website-city para mero efeito de propaganda enganosa e mentirosa...
Bracarenses! Escutemos e observemos, atentos, a reação dos nossos lídimos representantes na Assembléia Municipal (ao Executivo Municipal não faço apelos, desconsidero...), que são cidadãos sérios e responsáveis, e não réplicas desqualificadas do espantosamente ôco Conselheiro Acácio do ácido Eça...
Braga, 12 de abril de 2012
Armando Malheiro da Silva
(Presidente da ASPA)

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