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Manuel Beninger

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Será crise na família, no casal ou em ambos? Artigo de opinião de Sílvia Oliveira

Não há dúvidas que construir uma família na época em que vivemos não é fácil, estamos a viver momentos históricos de grandes mudanças, onde o casal e a família também se têm ressentido. Também não há dúvidas da crescente fragilidade do sistema-casal e familiar dos nossos dias, que parecem estar em profunda crise, enquanto instituição, disto é prova o crescimento vertiginoso do número de rompimentos de casais nas suas mais diversas formas, o que nos leva a ter um sinal de alarme, até mesmo para os casais mais experientes e unidos, pois assistimos a separações precoces de relacionamento em fase de “teste”, ou mesmo depois de um brevíssimo período de convivência, rompimentos de casal depois da chegada do primeiro filho, separações dolorosas após 20 ou 30 anos de vida em comum e, ainda mais inacreditável, em idade avançada.
Por um lado, a sociedade ocidental de hoje tem como meta a liberdade individual a ser alcançada a qualquer custo, esquecendo-se um pouco de libertar o homem do “mito” ou mesmo do “complexo de liberdade”, este sim o limite, ou seja, o grande obstáculo do homem ser livre, comprometido e responsável. Por outro lado, o próprio desenvolvimento do casal parece ameaçado em seu interior por fortes rupturas, cada parceiro inicia uma vida a dois, consciente de que neste período da história desapareceram as certezas e previsões plausíveis sobre como manter viva a ligação do casal ao longo do tempo.
Neste contexto, surgem novas formas de família, sendo o tipo de família mais crescente da actualidade – as famílias reconstruídas -, onde os irmãos passam a ser adquiridos e onde os fenómenos de recomposição familiar passam de um primeiro núcleo mais restrito para configurações mais ampliadas com a presença de crianças e adolescentes nascidos e crescidos em casas diferentes.
Todas estas realidades levam os novos casais a romper com os velhos estereótipos sociais de visões mais idealizadas e tradicionais, o que vai contribuir para aumentar a confusão entre o casal e não favorecer os novos processos de vida familiar.
Em tudo isto podemos observar a crise do casal que na sequência lógica será também a crise da família, esquecendo-nos em certa medida de toda a positividade e até potencialidade que estas novas formas, de se organizar a família têm. Chegando mesmo a esquecermo-nos do “laço hipócrita” de muitas das famílias ditas tradicionais que a qualquer custo, tentam manter um casamento, mesmo quando há falta de autenticidade e respeito recíproco, vivendo, mesmo, anos a fio divórcios invisíveis, convencidos, por tanta ingenuidade ou até ignorância que mantendo-se assim, serão um exemplo para os filhos.
Também será bom ter-se consciência que longe estamos do modelo ultrapassado em que o marido munido de um cansaço físico e psicológico por ser o único provedor da família se “desalinhava” no sofá num sono profundo, deixando todo o encargo da organização, manutenção e educação para a esposa, situação aceite, porque o estabelecimento de regras, metafóricas de então, cingiam-se unicamente à atribuição de funções, regras e direitos em função do género. Também será bom lembrar que longe estamos do conceito ou “mito” de intimidade fusional, “a minha cara metade”, procurando-se, hoje, descobrir como fazer para encontrar “duas unidades” capazes de dialogar de modo harmónico e duradouro.
Antes mesmo de terminar, gostava ainda, de referir as dificuldades de muitos casais em afastar-se da necessidade tantas vezes negada ou mascarada de dependência das próprias famílias de origem, onde o Édipo mal resolvido os faz voltar constantemente a essa dependência, sendo isso mesmo, a causa de graves sofrimentos conjugais. Por outro lado, em nada nos faz mal, reflectirmos, um pouco, sobre a raiva e a dor dos filhos que se sentem como que “bagagem” de uma casa para outra, sem conhecerem ou partilhar o itinerário e o ponto de chegada. Situação comum nos nossos dias e tornada “invisível” em muitas famílias que por resistência e/ou conflito não satisfazem as necessidades destas crianças magoadas e esquecidas.
Termino com a ideia de ter dito tão pouco daquilo que gostava de partilhar convosco, mas prometo voltar, quiçá, com reflexões sobre o terreno fértil às crises de casal e às novas formas de nos podermos adaptar ao ciclo vital do casamento e da família, de forma, a conseguirmos pensar em conjunto alguma felicidade através do funcionamento saudável de viver um “casamento”.

Sílvia Oliveira
Deputada Municipal do PPM
Jornal "Diário do Minho" de 18 de Abril, pág. 16

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