Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

terça-feira, 29 de maio de 2012

Forrobodó na organização do futebol profissional..!


Devo prevenir o leitor de que não sou um especialista em matéria de futebol. Nem sequer um intelectual de bancada, pois limito-me a vibrar com os bons desafios e a sofrer quando a minha equipa preferida está em campo. Mas, procuro ter bom senso e interpretar os verdadeiros interesses da actividade futebolística, raciocinando como penso deve raciocinar a maioria dos cidadãos que se preocupa com o fenómeno desportivo em geral. Pois bem, no passado dia 13 de Março, nem queria acreditar quando tive conhecimento de que, em sessão realizada na Liga Portuguesa de Futebol, tinha sido decidido, por maioria, aumentar o número de clubes nas Primeira e Segunda Ligas. Nem mais. Ora se tal acontecesse, em primeiro lugar, no decorrer do ano em que fosse decretada e começasse a vigorar essa aberração, inevitavelmente com clubes a quererem ganhar e clubes a não quererem descer de divisão, uma notícia dessas iria criminosamente dar cabo da competição futebolística. Pois, os clubes, com a falta crónica de dinheiro para pagar salários, principalmente os que estivessem nos últimos lugares da tabela, desinteressar-se-iam dos resultados desportivos, deixando de competir como o tinham feito até ao conhecimento de tal novidade. Na verdade, desapareceria o papão da descida. Deste modo, iria ser gravemente prejudicada a verdade do jogo da bola, como se diz na minha terra. Para os clubes, com o alargamento, as consequências dos seus resultados, quer ganhassem quer perdessem, iriam ser sempre as mesmas. A presente e infeliz decisão que a Liga pretendia tomar, demonstra bem o pouco senso e a falta de categoria de muita gente que dirige os destinos do futebol.
Em segundo lugar, atendendo ao pouco público que assiste a muitos desafios, com estádios às moscas, como se poderia pensar em aumentar o número de clubes a competir, com o consequente aumento do número de jogos e das inevitáveis despesas que tal acarretaria? Pois, forçosamente, o plantel de cada equipa teria que fazer face a essa nova situação. Ora, como seria tal possível com a crise que vivemos e com o espectáculo vergonhoso dos salários não pagos a quem ganha a vida como profissional ligado ao futebol? É na verdade inacreditável! Claro que foi a demagogia costumeira e a caça aos votos que fez um candidato prometer o que não devia. Ainda tive esperança que fosse feito um estudo sério sobre tal possibilidade e que tal irresponsabilidade eleitoral fosse justificada pela necessidade de reparar injustiças cometidas com parece ser ocaso do Boavista que já obteve uma decisão favorável e que, no futuro, terá naturalmente que ser reposto na Primeira Liga. Mas não, nenhum estudo sério foi mostrado ao público. Para bem da comunidade desportiva, restou o bom senso da Direcção da Federação Portuguesa de Futebol, em quem a maioria dos portugueses depositou as suas esperanças. Caso contrário, chegaríamos à triste conclusão de que se continuava alegremente a dar cabo do futebol. Mais, de que éramos geridos e governados por aprendizes de feiticeiro, com pouca capacidade de sentir o desporto como uma parte do todo que é a vida do país. E se alguma dúvida tinha antes de ouvir a entrevista com o Sr. Presidente da Liga, Mário de Figueiredo, após conhecer as justificações para o seu posicionamento, fiquei completamente esclarecido. Tal responsável, com o alargamento, tinha por objectivo defender os interesses da globalidade dos clubes. Frase bonita que por si só não chega. Por outro lado, esperava com tal decisão proteger o interesse do adepto. Não diz é como seria essa protecção! Seria certamente obrigar os mesmos a pagarem o dobro das quotas para as suas cores terem capacidade de fazer face ao aumento das despesas. Essa seria a inevitável protecção. Isto além de pretender favorecer um insólito e chorudo negócio :- a exportação de jogadores de futebol. Enfim, um inconsciente e um incompetente. Os clubes a viverem com o resultado da exportação de jogadores, bastando para tal, como referiu, apenas um planeamento de propaganda comercial dos nossos jogadores no estrangeiro!!! Valhó Deus. Se este projecto tivesse ido por diante, o futebol iria ser atirado de vez para situações irremediáveis. Ainda por cima, mais tarde, quando nada pudesse ser feito para reparar o mal causado, fruto da demagogia e da estupidez sem limites, os que assim decidiram, lavariam as mãos como Pôncio Pilatos, pois sabem que o sistema judicial, infelizmente, ainda não permite meter na cadeia os dirigentes que deliberadamente e, para satisfazerem os seus interesses particulares, dão cabo da sustentabilidade do sistema desportivo.
António Moniz Palme - 2012

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