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Manuel Beninger

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Maçãs podres

A promiscuidade é generalizada, os negócios privados são o quotidiano da actividade parlamentar
O parlamento português converteu-se no maior antro de tráfico de influências do país. São muitos os deputados que utilizam o cargo público para fins privados, ao serviço das empresas com que colaboram. Os conflitos de interesses são uma constante. Na comissão de acompanhamento do programa de assistência financeira ao estado português, têm assento deputados com interesses na Banca, na EDP e nos principais grupos beneficiários das medidas do programa que deveriam fiscalizar. Na agricultura, há parlamentares que tutelam a actividade do ministério que atribui subsídios às empresas de que eles próprios são gerentes. Até a comissão de avaliação das parcerias público-privadas incorpora deputados ligados ao sector imobiliário, parceiros de sector dos concessionários das PPP. A promiscuidade é generalizada, os negócios privados são o quotidiano da actividade parlamentar. Os campeões desta falta de vergonha são os advogados das grandes sociedades, que utilizam o parlamento como filial dos seus escritórios, consumindo a maior parte do seu tempo a resolver assuntos dos seus clientes. Por vezes, a sala das sessões mais parece um escritório de advogados ‘open space'.
De cada vez que alguém denuncia publicamente estas negociatas, logo se levanta um enorme coro de protestos. Em primeiro lugar, dos visados, que vêm defender que são tão sérios, que nem os conflitos de interesses os impedem de defender o povo. Não é crível. Pois, se assim fosse, esses deputados teriam forma fácil de o provar: promoviam a imediata suspensão dos pagamentos das PPP, reduziam drasticamente as rendas pagas à EDP, limitavam os privilégios atribuídos ao sector financeiro. E o povo agradeceria!
Um segundo tipo de lamúrias vem dos restantes deputados. Alegam que nem todos são vigaristas e portanto haveria que identificar apenas os culpados. Tentam desta forma generalizar a ideia de que todos são sérios.
Além de inverosímil, esta defesa parlamentar corporativa é perversa. Não combatendo o problema, contribui para a progressiva degradação da Assembleia da República. Não esqueçam, senhores deputados, que quando se misturam maçãs podres com maçãs boas, nunca são as podres que ficam boas...
Paulo Morais, Correio da Manhã

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