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Manuel Beninger

sábado, 11 de agosto de 2012

Plataforma de Cidadania (Natureza e organização interna)

1. Quem Somos?
A Plataforma de Cidadania é uma organização cívica e política açoriana que integra um vasto conjunto de cidadãos independentes. Pretende criar um novo paradigma na forma de participar e de fazer política. Consideramos que existe um grande desgaste no âmbito do sistema partidário tradicional, algo que está a levar as pessoas  a não participar na vida política, ou então a escolher formas radicais de protesto.
Se analisarmos o que sucedeu na década de trinta, quando as sociedades europeias enfrentaram uma situação económica e social muito semelhante à situação atual, não podemos deixar de concluir que esse divórcio encerra enormes perigos para a liberdade e para a democracia. Foi nestas circunstâncias que prosperou a mensagem antiparlamentar e emergiram o fascismo e o nazismo. Quando se olha para a Grécia, e para a forma como entrou no Parlamento helénico um partido nazi, logo na Grécia que sofreu a ocupação alemã na II Guerra Mundial, somos levados a pensar que a História se pode repetir.
O problema não está na política e na democracia, mas sim nas más políticas e no alheamento da cidadania. Se não concordamos com as decisões dos partidos e consideramos a sua gestão danosa, a única resposta plausível é participar e alterar este estado de coisas através do voto e da participação. A que sítios levam a abstenção e o voto de protesto em forças políticas, que apenas têm para oferecer o ódio e a violência?
Os partidos tradicionais estão completamente reféns dos aparelhos partidários e dos respetivos mecanismos de ascensão internos. Os deputados, ministros ou secretários não são obrigatoriamente recrutados entre os melhores, mas sim entre aqueles que lograram sobreviver no labirinto dos aparelhos partidários. É isto que queremos contrariar de forma a ultrapassar a anemia de participação, qualificação e responsabilidade que se vive, no âmbito do nosso sistema político-democrático.
O crescente alheamento político e cívico dos cidadãos, que é bem visível nas esmagadoras taxas de abstenção, está a matar a democracia. A Plataforma de Cidadania significa uma oportunidade, para a participação de todos aqueles que querem envolver-se na atividade política, sem terem de se submeter a qualquer formatação ideológica e ao processo de seleção triturador das máquinas partidárias.
A atual crise económica demonstrou, a muita gente, que não é possível fugir da política, ou pelo menos das suas consequências. Isto sucede quando as pessoas perdem os seus subsídios de Natal e de férias, basicamente porque os políticos realizaram investimentos e despesas para as quais não tinham dinheiro. Esses erros são agora pagos por todos os contribuintes, mesmo por aqueles que não gostam de política e que não votaram. Isto significa que é possível não participar na decisão, mas a participação nas consequências é inevitável.
O país, e também a Região, foram conduzidas pelos partidos do chamado arco da governação, a uma situação de quase bancarrota. Desperdiçaram-se milhões de euros em projetos faraónicos que em nada contribuíram para o crescimento económico da Região. A resposta de uma parte significativa da nossa sociedade foi a abstenção e o desinteresse. Essa atitude nada resolveu e nada resolverá, uma vez que políticos não deixarão de ser eleitos, mesmo que venham a ser os únicos a votar em si próprios. A opção correta é participar e acompanhar de perto as decisões, controlar os desperdícios, influenciar as decisões e participar na definição das prioridades.
A Plataforma de Cidadania resultou deste conjunto de reflexões. A questão que se coloca sempre que se tenta envolver alguém na vida política e cívica é o repúdio, muito generalizado, ao envolvimento numa organização partidária. Pura e simplesmente, as pessoas sentem que se integrarem um partido tradicional, a força dos interesses partidários instalados é tão grande, que acabam por perder a sua identidade e independência pessoal. Desta forma, milhares de pessoas com indiscutível mérito profissional, cívico e académico, acabam por ficar fora do funcionamento concreto do sistema político.
A nossa abordagem pretende minimizar esses riscos na nossa sociedade, e criar as condições necessárias para aumentar a participação das pessoas; pretendemos criar mecanismos de participação política abertos a toda a sociedade, premiando o mérito, a competência e o grau de compromisso comunitário. O nosso programa será construído por todos os que quiserem juntar-se à Plataforma, e a sua execução será acompanhada por uma bolsa de eleitores que influenciará o sentido de voto de cada proposta e iniciativa. Dessa forma, e aproveitando as novas tecnologias, pretendemos implementar novos mecanismos de democracia direta. A Plataforma de Cidadania permite a participação, sem a necessidade de filiação a qualquer partido, e sem correr o perigo de ser descartado na segunda-feira seguinte ao Domingo em que depositou o seu voto.
Ao contrário do que já sucede no âmbito do poder autárquico, não é possível concretizar listas e candidaturas independentes no âmbito das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. A definição da composição dos órgãos de governo próprio da autonomia açoriana (Governo e Assembleia), continua a ser um monopólio dos partidos políticos. Nesta perspetiva, ninguém pode ser candidato a deputado regional se não integrar uma lista partidária. Mesmo que o façam na condição de independentes, todos os partidos lhes acabam por impor um estrito código de disciplina parlamentar que os obriga a votar, na esmagadora maioria das vezes, de acordo com a posição definida nos diversos órgãos partidários.
Neste sentido, o PPM e o PND fornecem o suporte institucional necessário, para tornar possível a candidatura da Plataforma de Cidadania, abdicando os mesmos partidos de condicionar, com base nos seus respetivos ideais e programas partidários, o Programa Eleitoral que vier a ser elaborado pelos cidadãos que vierem a integrar este Movimento. Estes partidos comprometem-se, também, a respeitar integralmente a autonomia do Grupo Parlamentar da Plataforma de Cidadania que, em nenhum caso, ficará submetido às decisões dos órgãos destes dois partidos.
A Plataforma de Cidadania assume-se, assim, como um movimento de cidadania global. Nesse sentido, o nosso programa eleitoral não terá amarras de carácter ideológico e dogmas partidários.
Queremos encontrar soluções concretas, moderadas e informadas para cada questão. A perspetiva da Plataforma de Cidadania é fazer convergir vontades e potencialidades. Queremos promover convergências e consensos em contrapartida à cultura do conflito e da disputa que os partidos não conseguem superar.
Queremos, em cada questão, encontrar justiça e racionalidade nas soluções “no governo do povo pelo povo e para o povo”. Nesse sentido, a Plataforma de Cidadania recusa as velhas fronteiras ideológicas do século XVIII. Dentro dos parâmetros da defesa da democracia, da autonomia, da liberdade, do humanismo, da igualdade e da justiça, a Plataforma de Cidadania será a casa comum de todos os que querem unir esforços em prol do progresso dos Açores.
A nossa perspetiva é que, com a informação adequada, todos podem e devem pronunciar-se sobre os assuntos que efetivamente são de todos. A maior parte das vezes, os assuntos em discussão num Parlamento, não possuem uma natureza ideológica marcada. Trata-se, apenas, de escolher e implementar a melhor solução com os parcos recursos existentes. As diferenças e as disputas partidárias funcionam, nestas situações, como agentes desestabilizadores, criando zonas de conflito em matérias em que era possível encontrar soluções equilibradas e racionais.
Noutras matérias, de natureza mais sistémica, podem surgir várias opções e uma hierarquia de valores e de prioridades diferenciada. Nestes casos, adotaremos o método democrático: ganha a proposta mais votada, e serão respeitadas as opiniões minoritárias através do diálogo permanente, e de uma aferição constante dos resultados concretos obtidos no âmbito das soluções sufragadas maioritariamente. Nas questões de carácter ético, religioso e outros valores afins, a Plataforma dará uma ampla liberdade de voto aos seus eleitos.
Outra limitação cívica do atual sistema eleitoral, e da prática política que dele decorre, prende-se com a natureza esporádica e residual da participação dos eleitores independentes, no processo de decisão e acompanhamento da prática governativa e legislativa. Após conceder o seu voto numa determinada força política, o eleitor independente passa a não ter qualquer forma prática e direta de controlar e de participar no processo de tomada de decisão do seu representante.
O que sucede é que, muitas vezes, o representante que o eleitor sufragou, acaba por fazer exatamente o contrário daquilo a que se comprometeu no âmbito da campanha eleitoral. O eleitor independente, que não pode influir de forma decisiva e direta, nos mecanismos de decisão interna dos partidos, fica assim na incómoda e pouco motivante posição de apenas ser chamado a participar na vida política e no processo decisão, de quatro em quatro anos. O cansaço do eleitor em relação a este tipo de situações, com recorrentes desilusões em relação às escolhas eleitorais realizadas, tem vindo a traduzir-se num aumento gradual da abstenção eleitoral nos Açores.
Neste âmbito, a Plataforma constitui uma solução para quem quer participar no processo político com independência face aos partidos, e para todos os que pretendem aprofundar os mecanismos da “democracia direta” nos Açores.
Na prática, isto significa que o eleitor que partilha os Princípios e o Programa Eleitoral da Plataforma, tem a faculdade de se inscrever na base digital da Plataforma. Dessa forma passa a estar integrado na bolsa de eleitores da Plataforma de Cidadania, e a manter ao longo de toda a legislatura, a capacidade de sufrágio, participação e de decisão.
Isto implica, do ponto de vista prático, que serão enviadas a todos os membros e eleitores identificados da Plataforma de Cidadania, todas as propostas legislativas e que também lhes será solicitado que participem, através do voto no site da Plataforma, na definição do sentido de voto da bancada parlamentar da Plataforma. O deputado da Plataforma terá sempre em conta, no Plenário da Assembleia, a posição definida e votada maioritariamente pela Bolsa de Eleitores da Plataforma, sempre e quando a questão em causa não estiver já contemplada no Programa Eleitoral.
No fundo, isto implicará uma pequena revolução no sistema político açoriano. Os partidos perderão o monopólio da representação política, e o eleitor ganhará uma soberania permanente sobre o andamento prático dos assuntos da governação, algo profundamente diferente do envolvimento residual, de quem é apenas chamado a intervir de quatro em quatro anos. Trata-se, portanto, de devolver aproveitando as novas potencialidades do progresso tecnológico, o poder de forma ininterrupta, à cidadania.
Neste âmbito, convém reiterar que todas as propostas a integrar no programa eleitoral, terão de respeitar os Princípios da Plataforma (que postulam a democracia, a liberdade individual, o compromisso com o processo autonómico açoriano, a igualdade de género, a solidariedade e a igualdade de oportunidades, o respeito pelos direitos humanos, etc.), a coerência geral do Programa Eleitoral a apresentar à população e, por fim mas não menos importante, a sua exequibilidade prática.
A situação dos Açores é, em muitas áreas, verdadeiramente dramática. Está tudo em suspenso até às eleições, mas a partir daí a situação irá agravar-se muito substancialmente. Devem ignorar-se todas as promessas demagógicas que para aí andam a apregoar os candidatos dos partidos hegemónicos. Depois das eleições, o candidato vencedor dirá simplesmente, que não sabia que a situação era tão má e que por isso não poderá cumprir o que prometeu.
O que tem sucedido nas eleições que se disputam em toda a Europa, é a derrota de quem governa. Nesta conjuntura, tanto são derrotados os partidos governamentais de esquerda como os de direita. Em alguns casos, os partidos tradicionais perderam hegemonias com mais de trinta anos. A crise económica é tão grave, e o descrédito dos partidos hegemónicos é tão amplo, que é expectável uma alteração profunda do “status quo”.
Nas atuais condições sistémicas e de conjuntura, a Plataforma pode alcançar um resultado muito significativo e mesmo decisivo. Temos já centenas de pessoas envolvidas neste processo de mudança, e estamos a construir um programa eleitoral de grande responsabilidade. Não queremos captar o voto de protesto, mas sim o da participação e da responsabilidade coletiva. Queremos afirmar-nos como a opção de quem acaba com a irresponsabilidade governativa e a demagogia eleitoral.
A Plataforma defende um projeto político de grande qualidade para os Açores. Temos consciência que a situação atual é muito má, mas acreditamos que é possível inverter este estado de coisas. Vamos terminar com os investimentos faraónicos e os elefantes brancos, e vamos investir o dinheiro de forma conscienciosa. Temos de aplicar com grande rigor os nossos recursos, para conseguir inverter a atual situação. Estamos ainda a elaborar o nosso programa eleitoral e esperamos obter uma grande participação de todos.
2. Organização Interna
A Plataforma de Cidadania possuirá apenas dois órgãos internos de âmbito regional, sendo que a presença em qualquer deles não exigirá qualquer militância partidária: O Conselho Coordenador da Plataforma de Cidadania e a Assembleia Geral da Plataforma. A condução política e organizativa da candidatura, será da responsabilidade do Conselho Coordenador da Plataforma de Cidadania, abreviadamente designado por Conselho Coordenador.
O Conselho Coordenador será constituído por 45 membros. Este grupo, sem qualquer hierarquia interna, coordenará a organização do esforço eleitoral e a construção do programa eleitoral. O Conselho Coordenador elegerá um porta-voz que será o responsável pela divulgação pública das posições da Plataforma.
A Assembleia Geral da Plataforma será constituída por todos aqueles que se inscreverem na Plataforma como candidatos, delegados, coordenadores temáticos do Programa Eleitoral ou membros da Bolsa de Eleitores da Plataforma. Os trabalhos da Assembleia da Plataforma serão dirigidos por um Presidente indicado pelo Conselho Coordenador. Este órgão destina-se a permitir amplos debates programáticos, e a formular as sínteses finais dos conteúdos a integrar no Programa Eleitoral que a Plataforma apresentará aos eleitores.
A nível de cada ilha, a Plataforma possuirá o conselho de ilha, órgão que integrará todos os que estiverem envolvidos no esforço eleitoral deste Movimento. O coordenador de cada conselho de ilha da Plataforma será, por razões de eficácia, o cabeça-de-lista local da Plataforma de Cidadania às próximas eleições regionais. Em todas as freguesias onde existir uma implantação significativa da Plataforma de Cidadania, podem ser criados núcleos de freguesia.
Após as eleições, os membros da Plataforma de Cidadania criarão uma Associação com o mesmo nome, cujo fim será institucionalizar a Plataforma de Cidadania, e fornecer-lhe os mecanismos necessários para que a mesma possa promover os princípios que presidiram à sua criação.

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