Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

sábado, 27 de outubro de 2012

O Professor Gaspar Astromar


As gerações dos trinta para cima recordar-se-ão desse grande sucesso de horário nobre televisivo chamado: “Roque Santeiro”. A telenovela da Globo relatava a história de um herói/vilão do interior brasileiro, que de santo tinha pouco e de mártir ainda menos. O enredo girava também em torno das histórias de outras personagens que ficaram celebrizadas, como a Viúva Porcina ou o Sinhôzinho Malta (“estou certo ou estou errado?”).
De todo esse imenso rol de personagens, aquela que mais intrigava era a do professor Astromar, um misterioso sujeito, sinistro até, que dedicava o seu tempo à astronomia e ao amor pela filha do Prefeito da terra. Vivia aluado, sempre com o telescópio apontado ao firmamento, esperando ser o primeiro de todos a observar a passagem do cometa Halley.
Só que esta figura enigmática, aparentemente inofensiva, guardava um segredo macabro: à meia-noite de quinta para sexta-feira, nas noites de lua cheia, transformava-se no terrível lobisomem e espalhava o terror pelo pacato povo da cidadezinha de Asa Branca.
Os portugueses que na época não perdiam um único episódio desta telenovela, estariam longe de imaginar algum dia a transposição da terrível figura do professor lunático numa personagem real. Aliás, bem real porque todos os  dias lhes mete a mão no bolso.
Quem melhor poderia reproduzir a figura desta lúgubre personagem, que não o actual ministro das Finanças? Sim, essa figura amorfa tecnocrata vinda dos meandros da finança europeia, com a sua fisionomia mirrada e a sua dialéctica monocórdica ininteligível. Porém, esta mosca-morta ambulante e de aparência inofensiva, por vezes transforma-se na mais terrível das criaturas que a humanidade já viu. E sem esperar pelas noites de lua-cheia (prefere as horas que antecedem as partidas de futebol), lá vem a abominável criatura espalhar o terror austero por Portugal inteiro, anunciando os cortes com que nos trincha as carcaças em farrapos de carne e os sucessivos impostos que nos consumem até ao osso.
- “MEDO, TENHAM MUITO MEDO!”
Haverá fórmula ou poção mágica que nos livre das agruras do professor lunático obcecado pela austeridade, na ilusão de tudo conseguir com esta receita maligna? Haverá um quebranto capaz de finar com a maldição e levar para as profundezas o monstro que tudo consome com o seu apetite voraz?
Não perca os próximos capítulos desta telenovela bem portuguesa, cada vez mais se assemelhando a uma tragédia grega.

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