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Manuel Beninger

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A síndrome de burnout na função pública; por Sílvia Oliveira

Apesar de vivermos uma época de crise no Estado e na Administração Pública, onde a gestão organizacional apresenta múltiplas limitações, a missão de prestar serviços à sociedade continua, interessando, por isso, cuidar da absoluta versão da crise, os “Seres Humanos” ou neste caso, os Funcionários públicos, revalorizando-os como sendo os únicos recursos seguros e estáveis para a vencer.
A gestão na função pública apresenta excessivas regras e rotinas, que impedem a participação criativa, a autonomia e as consequentes tomadas de decisões, emperrando muitas das atividades que deveriam ser realizadas. Também possui uma supervalorização da hierarquia e rigidez no seu funcionamento, para além do aferro ao poder. Os trabalhadores são controlados por papéis, normas e procedimentos, as condições do trabalho tendem a uniformizar-se, encaminham-se os trabalhadores para idênticas situações laborais e de organização do trabalho, sendo a dependência da decisão política e das flutuações da capacidade económica do Estado, mais uma das questões relevantes, na medida em que determinam aspectos importantes do exercício funcional do trabalhador.
Neste contexto, vejamos a título de exemplo a profissão docente, reconhecida por ser de uma profissão de “alta tensão”, onde muitas das atribuições impostas a este profissionais ultrapassam em larga medida as suas possibilidades: além de turmas lotadas e exigentes, têm ainda que desempenhar trabalhos burocráticos, desnecessários e não relacionados com a essência da sua profissão, como são as funções de secretariado, responder à necessidade de actualização constante da sua atividade docente, orientar os alunos e atender os pais, procurar respostas às exigências que a sociedade lhe atribui, na tentativa de corrigir problemas sociais, provenientes de um domínio familiar ausente, estando simultaneamente muito expostos a críticas e a grandes cobranças pela população em geral, raramente reconhecidos pelo seu sucesso, a viverem longe da zona de residência dos familiares, com falta de condições e recursos materiais, sujeitos a adaptações constantes às muitas reformas e mudanças que o sistema de ensino-aprendizagem tem transportado, tanto a nível da organização da aprendizagem, como da própria carreira, resultando tudo isto numa sobrecarga emocional e física, proporcionadora direta de esgotamento profissional ou burnout. Mas afinal o que é isto de burnout? Burnout é uma reacção às condições de trabalho stressantes, uma síndrome que assinala exaustão emocional, respostas interpessoais frias e distantes e uma baixa realização profissional, com a perda de motivação, em relação a si próprio, família, amigos e trabalho. As consequências podem ser sérias, pois a sua ocorrência para além de se vincular à diminuição das habilidades, aumento do absenteísmo e a intenção de desistir do trabalho, diminui o comprometimento organizacional, bem como, instala o mal-estar físico e psicológico revelado nas relações interpessoais, no sentimento de inadequação e fracasso, podendo mesmo atingir estados depressivos e ansiosos para além da ocorrência de somatizações e doenças físicas graves. Ou seja, um desgaste que se instala progressivamente, até que surge o colapso, isto porque o desempenho é sempre apresentado com mais esforço e mais empenho, sendo as tentativas, em ambientes de trabalho hostis e desumanizados, infrutíferas, o que leva o profissional a desistir, adoecendo.
Neste quadro, surge a necessidade de maior saúde laboral, nos serviços públicos, evidenciando-se a urgência de mudança no processo de trabalho, de forma a se minimizar as consequências sobre a saúde dos servidores públicos. Prevê-se, porém, que à medida que seja alterada e valorizada a relevância de propiciar melhores condições laborais nestes contextos específicos surjam, também, resistências e questões de ordem política e organizacional, e isto porque coexistem, por um lado, a burocracia em seu sentido corporativo, centralizador e portanto, contrário às mudanças na organização e nas formas de operar dentro do aparelho do Estado; e, por outro lado, as próprias forças inovadoras, cuja responsabilidade é a efectiva mudança, que encontram, nestes meios organizacionais, muita dificuldade para implementar, de maneira efetiva, projetos de reforma. Mesmo assim, e independentemente das resistências criadas, a função pública, terá que quebrar paradigmas, modificar comportamentos e alterar atitudes almejando o novo e a mudança, tudo isto em proveito da continuidade e saúde dos únicos Recursos que possui seguros e estáveis, os Funcionários públicos.

Sílvia Oliveira
Deputada pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 8 de Maio, pág. 14

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