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Manuel Beninger

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Os Papas não são escolhidos pelos ditames da roleta - 2ª Parte


Os Papas não são escolhidos pelos ditames da roleta
O Poder Político e o Poder Religioso e a Interferência do Divino Espírito Santo

Utilizo esta expressão que pode parecer crua, mas tem a finalidade de chamar a atenção dos leitores para determinadas circunstâncias especiais que determinam a escolha do Papa.
Antes de entrarmos na eleição propriamente dita de um novo Papa, convém referir que em diversas épocas da história, para os cristãos não bastava deixar de ser perseguido e possuir Liberdade Religiosa, pois havia um outro problema que afligia a Igreja. Na verdade, o Poder Temporal invadia permanentemente o campo da competência e de actuação da Igreja, em matéria religiosa, criando conflitos gravíssimos com a Cúria Romana. Assim, não se limitava a exercer a soberania nas coisas temporais e, por sistema, imiscuía-se na esfera do exercício das funções puramente religiosas das igrejas locais, apesar de ameaçado pelos Papas com uma excomunhão ou mesmo com a aplicação desse terrível castigo. Mas tal, por vezes, não impedia nem estancava a invasão abusiva do Poder Temporal no âmbito do Religioso. Bastam alguns exemplos para se verificar a gravidade desse género de conflitos de competência. Por causa da Ordem dos Templários e das perseguições de que foram vítimas os seus membros, pelo rei francês Filipe O Belo, o Papa Bonifácio VIII foi vítima de um rapto miserável por parte de mandatários militares do soberano francês, tendo sido salvo pela valente população local. Porém essa terrível desfeita acabou por O matar, pois não resistiu às atribulações violentas sofridas e o Papa seguinte, Bento XI, que se opôs frontalmente a Felipe o Belo, mantendo a excomunhão ditada pelo Papa anterior, sucumbiu envenenado pelos esbirros do mesmo monarca.
Aliás, os cismas foram sempre ocasionados por interferências do Poder Temporal na vida da Igreja, tentando o poder político, à revelia da hierarquia religiosa, impor bispos da sua escolha para chefiar a Igreja Local, ou interferir na escolha de Papas que fizessem o seu jogo político e aceitassem de bandeja as suas vontades e caprichos.
De tal modo os Papa se viam assediados pelo Poder Temporal que, no Século Nono depois de Cristo, o Papa Leão IV mandou levantar muralhas bem sólidas à volta do Vaticano, com excepção do lado da Praça de S. Pedro. E nem calculam o número de vezes que ficaram os Papas prisioneiros dentro do Vaticano, sem poderem sair e completamente isolados da Igreja que deviam dirigir. Foi aliás esse o motivo por que, através do Tratado de Latrão, em 1929, a cidade do Vaticano se converteu num Estado Independente. Simbolicamente, o único modo de a Igreja obter o respeito e a protecção internacional dada aos estados soberanos.
Claro que os Papas, na sua Mensagem de Paz, perante os conflitos entre países e entre blocos, como aconteceu nas duas Grandes Guerras, procuravam não fechar a porta a qualquer uma das partes beligerantes, para tentarem obter um compromisso de paz que pusesse fim ao conflito e protegesse populações inteiras das desgraças das guerras. Pio XII bem tentou diplomaticamente não cortar com qualquer das trincheiras em luta, sempre esperançado em estancar o desfiar de dor e de desespero que a Guerra estava a causar. Na verdade, o dia seguinte era sempre pior do que a véspera. Assim, havia sempre esperança que o amanhã não chegasse e o pior não acontecesse. Claro que tal estratégia da Igreja, após o conflito, motivou que não católicos criticassem o Papa por não ter tomado uma posição radical contra um dos lados. Aproveitando-se da ignorância da generalidade das pessoas daquilo que na realidade aconteceu e da existência de fotografias dos Papas com representantes políticos deste ou daquela potência em conflito. No fundo, a crítica fácil para tentar denegrir a Igreja, que ainda hoje se faz ouvir.
E um pouco por todo o lado, tais situações eram criadas aos ministros da Igreja de toda a hierarquia, como aconteceu com o Beato João Paulo II, que na sua juventude até num campo de concentração esteve. Bento XVI saiu do exército para poder defender as populações contra as prepotências nazis e o actual Papa Francisco teve que conviver com o ditador Vilela da Argentina para poder exercer alguma influência nas tentativas de apaziguamento e de salvaguarda dos direitos do seu povo. Alias, em relação à presidente da Argentina, na minha perspectiva, uma boa representante do populismo corrupto da América Latina, após lhe ter feito acusações e críticas violentas em público, na defesa dos direitos dos mais pobres, o que lhe acarretou ter sido objecto de ameaças tremendas, o Cardeal Jorge Bergoglio, após ser eleito Papa, na sua nova Missão de Paz, selou tais dissensões com o chefe temporal da sua pátria com um ósculo da paz, certamente esperando que o poder político da sua terra seja influenciado pelos bons princípios da seriedade e da solidariedade cristãs. Já se sabe que foi pedido ao novo Papa que, junto do Governo Inglês, interceda pela resolução do intrincado problema das Malvinas
Mas ainda é oportuna uma pequena e significativa chamada de atenção. Pois, sendo a Igreja formada por Homens e Mulheres, acaba a mesma por adquirir as virtudes e os defeitos do complexo humano que a forma. O Vaticano é um estado, sendo o exercício de muitas funções desse estado, entregues a pessoas que por vezes acabam por não ser consideradas as adequadas para o exercício dessas mesmas funções, quer por incompetência ou mesmo por corrupção. E os chefes da Igreja têm combatido e combatem tais situações, mesmo que sejam obrigados a criticar publicamente elementos do clero e da própria hierarquia, como aconteceu com o crime de assédio sexual praticado por elementos da Igreja. Mas tal não belisca a essência da própria Igreja, formada por homens com virtudes e com defeitos. Ora, na eleição de um Papa, além dos defeitos dos membros da hierarquia, debatem-se muitas vezes diferentes princípios, formam-se grupos mais conservadores, outras mais progressistas, que se digladiam intelectualmente, tentando impor as suas concepções para a Missão da Igreja. Esses diferendos desenrolam-se do mesmo modo que na política normal. Simplesmente, na escolha de um novo Papa, existe uma circunstância diferente, decorrente da Trilogia Pai, Filho e Espírito Santo.
O Espírito Santo é a presença de Deus no mundo. É o chamado Paráclito, repito, a presença de Deus no meio dos Homens. Eu vou tentar explicar sem cometer qualquer heresia:- Quando Jesus falou aos seus discípulos durante a Ultima Ceia, anunciou que voltaria de novo independentemente da Sua Vinda no Fim dos Tempos. Pela sua intercessão, Deus concedeu aos homens, o Paráclito, isto é a descida do Espírito Santo sobre a cristandade. Pelo Mistério da Santíssima Trindade, o Espírito Santo estará no meio de nós. Durante a escolha do Papa, nas suas orações a Deus, os crentes pedem a descida do Espírito Santo, isto é do Paráclito, que ilumine os Cardeais. Apesar das suas diferentes opiniões, os eleitores, iluminados pelo Espírito Santo, escolhem o melhor Pastor para a Cristandade e para o Mundo. Assim o creio firmemente.

António Moniz Palme – 2013 (Publicado na Gazeta da Beira de 9 de Maio de 2013)

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