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Manuel Beninger

terça-feira, 9 de julho de 2013

Um perfil no meio de muitos; artigo de opinião de Sílvia Oliveira


O perfil que abordarei trata um tipo de expressão psíquica perversa e silenciosa que embora sempre tenha existido, talvez encontre na cultura atual um terreno particularmente fértil, tornando-se mais comum do que poderíamos imaginar. Esta perversão tem como mote o poder, que hoje é incentivado pelos meios de comunicação social.
Para iniciar a sua caracterização afirmo desde logo que se trata de uma violência que se estende ao longo do tempo e não de uma violência pontual, ela imiscui-se no dia a dia, nos pequemos atos, tendendo assim a passar despercebida. A própria vítima tem dificuldade em a perceber e mais ainda em a reconhecer, tornando-se, por isso mesmo, uma cúmplice de uma teia não desejada, que lentamente lhe vai desmoronar a auto-estima e paz interior, isto acontece na dominação de um sobre o outro, em relações que tanto podem ser profissionais, como familiares e até intimas, onde a dependência emocional e/ou material existe e, onde o agressor nutre o sentimento de ódio pelo outro, mas simultaneamente sente que não pode sobreviver sem ele, como se o outro fosse a sua sustentação, recusando neste quadro os desejos e necessidades do outro em proveito das suas próprias necessidades.
A violência silenciosa que refiro é velada e insidiosa, existe e mantêm-se por vias indiretas e complexas da relação humana, sendo logo apriori negada e renegada pelo agressor, que de forma subtil inverte a relação acusando o outro de ser o culpado das ocorrências que lhe são desagradáveis, compensando através deste poder e controle sobre o outro, os seus conteúdos psicológicos perturbadores que passam por uma melancolia e/ou depressão com certo cunho psicótico. A sua maldade cria-se através de um cálculo imaginário e fantasmático com toques paranóicos explícitos e uma deformação da apreensão da realidade, uma projecção de sentimentos defensivos e medos primários sobre as acções dos outros, onde a falta de confiança interna estrutural é vincadamente inscrita.
Este perverso silencioso por dificuldade de defrontar-se com os seus próprios problemas viverá uma existência insuficiente e superficial que lhe confirmará um fundo inseguro e fadado ao fracasso, que procura a todo o custo esconder dos outros e de si mesmo. Remetido à sua fraca integração, às suas falhas, ao seu sentimento de menos valia, que tanto ameaça o seu silêncio, à revolta que o faz odiar o mundo e duvidar da bondade alheia, à dificuldade de amar a vida e o outro, sobretudo em amar aqueles que o amam, acreditando, enfim, que só pode sobreviver dominando, manipulado e escondendo. Os seus ataques são crescentes quando se sente acusado, quando perde o domínio sobre o outro e vê ameaçada a situação que o favorece. Ou seja, o ataque é de fato uma defesa contra a possibilidade de a vítima insurgir-se contra a sua “vampirização”, contra o seu controle e manipulação, contra a situação por ele lentamente criada que favorece a dominação em que se sente seguro. 
Mas, o mais grave destas situações é que o agressor atua inconscientemente, acreditando que as suas construções paranóicas de ataque ao outro são vindas de um sentimento e são, absolutamente, imprescindíveis para a sua sobrevivência, vindo-lhe, por isso, à consciência de que o outro merece os seus ataques, silenciosos e precisa estar sob controlo e sob o seu domínio, pois caso contrário esse outro ameaçá-lo-á na sua continuidade. Quase que poderei arriscar dizendo que, este tipo de agressor tem pavor de enfrentar-se a si mesmo, medo devido ao reflexo do vazio, à ausência de integração, à falsa imagem ou melhor à inexistência de amor na sua vida primária, aquela onde cuidadores, progenitores e pais inscrevem a sua expressão. Mas, isto não pode justificar as ações de uso e apropriação do outro para fazer frente à sua própria fragilidade, encarando-a como se de uma questão de sobrevivência se tratasse, em que o ataque silencioso vem em sua legitima defesa.
Em suma o que este tipo de agressor não pode fazer é projetar no outro o que de ruim ele sente em si próprio, destruindo, como se estivesse a destruir-se a si mesmo ou a controlar os seus próprios fantasmas, passando a viver da vitalidade do outro, isto porque nem a vitalidade que retira ao outro passa a ser sua, nem as suas dificuldades findam ou modificam.

Sílvia Oliveira
Deputada do PPM na Assembleia Municipal de Braga

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