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Manuel Beninger

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Complexidades humanas, por Sílvia Oliveira

Não haverá maior entrave ao crescimento humano do que procurar incessantemente a razão das dificuldades e fracassos no exterior de si mesmo.
Conhecermo-nos a nós mesmos através de quem nos rodeia é uma fonte gratuita a jorrar conhecimento e paradoxos sobre a nossa pessoa. Todos, despidos de preconceitos e em plena consciência, devemos saber usá-la para crescer e atingir a plena realização do nosso ser.
A experiência da vida, na sua essência humana, permite a cada um percorrer o caminho, descobrindo, com isso, a subjetividade que há em nós.
Mas, habitualmente, crescemos a embelezar assuntos incómodos, a alimentar justificações infundadas sem saber enfrentar com humildade a verdadeira causa dos problemas, enclausurando-nos em justificações para não assumirmos as responsabilidades dos nossos atos, descuidando, assim, o nosso ser verdadeiro e quebrando, com isso, o mais elementar dos princípios: o de causa/efeito que nos informa que todas as ações têm em nós consequências.
Procuramos incessantemente os defeitos dos outros para justificar a nossa incompetência, a nossa fraqueza e a nossa falta de talento.
Despimo-nos de humildade, de franqueza, e partimos para o fatalismo do destino, na demonstração de falta de condições e na procura de causas externas a nós mesmos, para justificar o nosso insucesso.
Esquecendo-nos que a franqueza permite “jogar limpo”, permite que mais pessoas participem na tomada de decisão, que mais ideias existam. Permite, também, atacar os problemas, mas de forma mais rápida e objetiva, sem ruído, sem perturbação, sem “jogo sujo”. Em boa verdade, para se obter franqueza, esta tem de ser alimentada, pois é assim que qualquer valor floresce.
Algumas pessoas são mais inteligentes que outras. Umas têm mais experiência, são mais criativas; outras têm mais poder ou capacidade de influência, mas todas, sem exceção, devem ser ouvidas e respeitadas. Ser humilde não significa ser inferior aos outros. Significa, sim, autoconsciência e consciência emocional, e com isto ter a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. A consciência emocional traduz o não passar por cima de tudo e de todos para levarmos a cabo os nossos ideais e realizarmos os nossos sonhos. Ter humildade é querermos saber e aceitarmos ser quem realmente somos, como são avaliadas as nossas ações, como são consequentes as nossas fraquezas. É, de facto, ter a maior das inteligências.
Pobres daqueles que vêem nas suas ideias a verdade absoluta, que rejeitam, por uma postura abusiva e inflexível, ou outros. Com isso não conseguirão viver em sociedade, não irão comungar da partilha de felicidade que é viver em harmonia com aqueles que nos rodeiam.
Para ser humilde é necessário praticar a humildade, ter ações e gestos simples, como reconhecer que o nosso ponto de vista, por vezes, não é melhor do que o dos outros e que os outros são seres como nós, com ideias e convicções, que necessitam do seu caminho.
Em boa verdade, somos capazes de ver o mais pequeno defeito de quem nos rodeia, mas simultaneamente somos tão limitados que não nos permitimos sequer perceber as nossas maiores restrições.
Por maior elevação que tenhamos, olhamos para a nossa vida pelo filtro dos nossos padrões, valores e vivências, que não coincidem exatamente e que estão desajustados a tantos outros pensamentos, de tantos outros seres.
Partimos, na maioria das vezes, de uma educação de base com graves deficiências, sem desenvolvermos um valor essencial para viver em harmonia com a sociedade.
A obra da educação é, talvez, um dos principais processos que mais condicionam o nosso desempenho futuro. Passamos por experiências na nossa infância que muito determinam a nossa forma de estar na vida. Observamos, recorrentemente, situações de ausência exagerada de feedback negativo ou, em muitas circunstâncias, uma proteção extrema que inibe o desenvolvimento de cada ser que há em nós.
Também no nosso dia a dia, a falta de franqueza limita-nos as ideias inteligentes, bloqueia a tomada de decisão, não obtém o que de mais genuíno há em nós, proporcionando um ambiente de animosidade em que o próprio inimigo da prosperidade floresce internamente.
Mas, em boa verdade, ninguém se conhece a si mesmo, pois todas as nossas ações têm, no mais recôndito do nosso ser, uma justificação plausível capaz de enfrentar a mais cabal das contrariedades, tornando-se o maior inimigo de nós próprios, sentenciando, frequentemente, a nossa evolução.
Também experimentamos incessantemente argumentos capazes de demonstrar cientificamente por que é que determinado problema ocorreu, por que é que determinado insucesso era inevitável, por que é que determinado evento adverso surgiu. Perdemo-nos infinitamente a divagar sobre potenciais causas, justificações, até nos sentirmos psicologicamente confortáveis e concluirmos que “tinha de acontecer” e portanto não somos responsáveis.
Sílvia Oliveiradeputada municipal pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal “Diário do Minho” de 15 de Maio, pág., 21

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