Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

quinta-feira, 31 de maio de 2012

MONARQUIA ESPANHOLA


Felipe VI, pronto para ser Rei

Juan Carlos foi rei de Espanha aos 37 anos. Felipe está com 44.
Era evidente o desconforto do príncipe Felipe de Bourbon quando na manhã de 16 de abril passou por entre os muitos microfones e câmaras em riste à porta do Hospital de San José, em Madrid, onde tinha ido visitar o pai, o rei Juan Carlos, recém-operado para implante de uma prótese na anca fraturada numa secreta e muito condenada caçada a elefantes no Botswana.
Felipe é habitualmente afável com os repórteres. Mas naquele dia havia um clamor de indignação pela inimaginável travessura do rei.
Sena Santos
Sena Santos
Ouça o relato completo desta história na crónica de Francisco Sena Santos. 








Mesmo a imprensa mais juancarlista criticava a exibição de frivolidade e distância pelo rei face ao sentimento coletivo de uma Espanha a viver tempos baixos, com grande amargura económica. Com o desemprego nos 24% e em cima dos 50% entre os jovens, com a economia em hecatombe e em risco de resgate internacional, quando ninguém confia em ninguém, a imagem é fatal para Juan Carlos:  os espanhóis sofrem e o rei diverte-se a matar elefantes.
 Na manhã daquela segunda-feira de abril, um dos mais reconhecidos jornalistas de Espanha, Inãki Gabilondo, fechou um editorial no El Pais com um desafio antes impensável, nos 35 anos de monarquia: Majestade: divorcie-se e abdique!
 Aquela secreta caçada real de elefantes num bantustão introduziu uma dramática alteração na relação de muitos espanhóis com o seu rei: perderam-lhe o respeito. Por um acidente e por um erro, o rei que era venerado e intocável passou a ter a sua decência julgada e criticada em sucessivas tertúlias nas rádios, televisões e jornais. Subitamente, passara a ser público que o casamento entre o rei e a rainha de Espanha é apenas um contrato de aparências e que o comportamento do rei não corresponde à exemplaridade que ele próprio pede a todos.
Juan Carlos tinha sido proclamado rei de Espanha em 22 de novembro de 1975, horas depois da morte do ditador Franco. A princípio havia muito desconfiança sobre a preparação de Juan Carlos para ser chefe de Estado de um país em transição complexa da ditadura para a democracia. A tentativa golpista com ataque ao parlamento em 23 de fevereiro de 1981 mostrou um rei com alta estatura a impor-se na defesa da democracia.
Rei Juan Carlos
Rei Juan Carlos
Juan Carlos, rei de Espanha aos 37 anos de idade, tornou-se sólido símbolo do grande pacto democrático de Espanha.Tornou-se um grande capital político de Espanha e um garante da plurinacionalidade espanhola.
Ao longo de mais de três décadas, Juan Carlos soube conquistar o afeto e respeito dos espanhóis e consolidar a monarquia num país que tem às costas duas repúblicas, um PSOE de tradição republicana e várias esquerdas e setores nacionalistas declaradamente antimonárquicos.
Tudo correu bem até há alguns meses. A monarquia espanhola está a viver o seu annus horribilis. Antes da escapadela real para o safari elitista, já havia as ac
usações de corrupção e fraudes ao marido de uma das princesas, que vai ter de responder em tribunal, tinha havido a brincadeira com armas que atirou para o hospital, com um tiro no pé, o filho da outra infanta.
Ultimamente sussurrava-se sobre a vida privada de Juan Carlos, as sucessivas viagens sem a rainha e os frequentes internamentos hospitalares, mas por respeito ao rei, ninguém levantava a voz, tudo ficava em surdina.
Até à desastrosa caçada no Botswana, em meados deste último abril, que deixou a nu o rei de Espanha. Juan Carlos tratou de tentar explicar o inexplicável. Pediu desculpa, reconheceu que se equivocou, prometeu emendar-se. Juan Carlos, que tem apurado olfato político, percebeu a profunda deceção e indignação dos espanhóis com o seu rei. O tempo dirá como é que a ferida aberta pode cicatrizar.
Fica desde já uma certeza: o debate sobre a sucessão está instalado. Há cada vez mais espanhóis a desejarem que Juan Carlos abdique do trono, a favor do herdeiro, o príncipe Felipe.
Felipe, a reserva moral da monarquia espanhola
Felipe e Letizia estão por estes dias em Lisboa
Felipe e Letizia estão por estes dias em Lisboa
O prestigiado sociólogo Manuel Castells que foi professor de Felipe na Universidade Autonoma de Madrid escrevia há dias: “Posso atestar a inteligência dele, bem como a respeitabilidade e a ética. Felipe é capaz de regenerar uma instituição que só tem sentido se inspira confiança e confere legitimidade.
Felipe é uma reserva moral da monarquia e a Espanha necessita muito de autoridade moral, de alguém que esteja acima dos dirigentes partidários cada vez mais desligados da cidadania”.
Felipe, Felipe Paulo Afonso de Todos os Santos de Bourbon e Grécia, assim o nome de batismo, nasceu em janeiro de 1968. Tinha 7 anos quando o pai foi proclamado rei. Felipe foi toda a vida formado para ser rei. Depois dos estudos básicos em Madrid, aos 16 anos foi mandado por 10 meses para um colégio no Canadá. Estudou depois três anos na Academia Militar de Saragoça, onde ficou tenente de Aviação, alferes de Marinha e tenente de infantaria. Entre 88 e 93, estudou Direito e Ciências Económicas na Universidade Autónoma de Madrid. Depois dois anos de Relações Internacionais na Universidade de Georgetown, em Washington.
Dizem-no bem preparado, tranquilo, ordenado, meticuloso, paciente e prudente. 
“Sabe ouvir, sabe perguntar e sabe ser discreto”, comenta Enrique Iglesias, diplomata uruguaio, secretário geral das cimeiras ibero-americanas, que muitas vezes coincidiu com Felipe em atos oficiais.

O ex-presidente português, Jorge Sampaio, elogia-lhe a preparação e nota que Felipe conjuga o melhor do pai com o melhor da mãe.
“É responsável como a mãe”, acrescenta um líder sindical espanhol.

O facto de estar casado com uma plebeia divorciada contribui para humanizar a figura do que há de ser Felipe VI, rei de Espanha. Dizem que Letizia lhe deu segurança pessoal e melhor comunicabilidade.
Juan Carlos foi rei de Espanha aos 37 anos. Felipe está com 44.
A expectativa reside agora na capacidade de Felipe VI, o rei em espera, de se ligar com os cidadãos.

Sem comentários:

Enviar um comentário