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Manuel Beninger

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Arquivo pessoal de Paiva Couceiro na Torre do Tombo

«Paiva Couceiro, Diários, Correspondência e Escritos Dispersos», do historiador Filipe Ribeiro de Meneses (Dom Quixote), é apresentado na próxima quarta-feira, 14 de Setembro, às 18h30, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, situado na Alameda da Universidade em Lisboa, numa cerimónia presidida pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.

No mesmo dia será assinada – pelos netos - a doação ao Estado português do Arquivo Pessoal de Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (1861-1944), capitão de artilharia, explorador, combatente e administrador colonial, e um dos líderes das tentativas de restauração monárquica, após a implantação da República. No total são cerca de 40 caixas contendo mais de cinco mil documentos inéditos abarcam o período de1892 a 1956.

Henrique Mitchell de Paiva Couceiro nasceu em Lisboa a 30 de Dezembro de 1861 e faleceu nesta mesma cidade em 11 de Fevereiro de 1944. Era filho de José Joaquim Paiva Cabral Couceiro e de Helena Armstrong Mitchell.

Militar de carreira, foi governador colonial. Mais tarde foi deputado na legislatura de 1906-1907, sob o governo de João Franco. Casou com Júlia Maria do Carmo Noronha, filha mais velha do Conde de Parati.

Destaca-se como militar nas campanhas militares que se desenrolam em Angola, mas sobretudo em Moçambique, sendo ajudante-de-campo do comissário régio António Enes. Mais tarde e devido ao seu prestígio torna-se também ajudante-de-campo honorário de D. Carlos a partir de 1895.

Aderiu ao Partido Regenerador-Liberal liderado por João Franco em 1905 e foi eleito deputado pelo mesmo partido, como acima se fez referência.
Em 1907 foi nomeado governador de Angola, onde realizou trabalho meritório e reconhecido, para desenvolvimento e organização administrativa do território. Regressa a Portugal em 1909, onde se encontra aquando do 5 de Outubro de 1910, sendo dos poucos dispostos a resistir à revolta que conduziu à proclamação da República.

Com a instauração do regime republicano demitiu-se do Exército e exilou-se em Espanha. A partir da Galiza organiza várias tentativas de invasão, com particular destaque para os anos de 1911 e 1912, em que tentou restaurar a Monarquia. Porém todas as tentativas fracassaram, mesmo a que ocorreu em 1919, conhecida como a Monarquia do Norte, que deu origem a uma situação de guerra civil quase generalizada no Norte do País. Volta novamente a exilar-se e afasta-se da vida política.

Regressa depois já durante o consulado salazarista, quando assume posições públicas e políticas de discordância em relação à política ultramarina que estava a ser desenvolvida, facto que lhe valeu novamente a expulsão de Portugal em 1935. Regressa em 1937, mas porque toma novamente posição contra a orientação política que se seguia e foi obrigado a retirar-se para Espanha, instalando-se depois nas ilhas Canárias.

Um monárquico com firmes convicções que não vergou ao regime republicano nem ao salazarismo, afirmando-se sempre na defesa das suas posições e manifestando uma coerência que lhe valeram sérios dissabores.

A documentação agora entregue será certamente uma importantíssima fonte para se compreender as dificuldades da I República, o pensamento de Paiva Couceiro, as suas ligações internas e externas, bem como alguns dos sectores monárquicos de oposição ao Estado Novo.

A acompanhar com todo o interesse.

Fonte: Aqui