quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A 23 de novembro de 1860, D. Pedro V visita a Cadeia da Relação do Porto, encontra-se com Camilo e Ana Plácido

O Rei apeara inopinadamente à porta da cadeia.

O carcereiro era um alferes dos veteranos…

… D. Pedro V correu-o com os olhos, e disse:

- Conduza-me às enxovias.

Abriram-se os alçapões dos calabouços…

Sua Majestade desceu rapidamente, como se pisasse os tapetes das marmóreas escadarias dos régios paços. À sua chegada uns presos petrificaram, outros ajoelharam, e alguns, voz em grita, pediam a liberdade…

… Passou Sua Majestade à enfermaria dos presos, e à das presas, em seguida. Na extrema desta há uma porta que se abre para o quarto de uma senhora, que ali estava presa.

- Que é ali dentro?

- Saberá Vossa Majestade – disse o carcereiro – que é o quarto da senhora [D. Ana Plácido].

O rei entrou, e a senhora foi chamada do corredor aonde tinha a seu asilo de trabalho.

Com a senhora veio um menino nos braços de sua ama.

D. Pedro V cumprimentou a presa, perguntando-lhe o tempo de sua prisão. Reparou no menino, e acarinhou-o, perguntando-lhe o nome e a idade. A mãe respondeu pela criancinha, e o rei deteve-se a contemplar a infeliz. Ao lado do monarca compungido estava o marquês de Loulé, pensando, porventura, que naquele dia tinha de banquetear-se no palácio de ima irmã daquela encarcerada.

Saiu Sua Majestade e, ao descer as escadas, proferiu as palavras iniciais deste capítulo:

Isto precisa de ser completamente arrasado.

In Memórias do Cárcere