O momento era solene na Quinta do Espingardeiro. Sua Alteza Real El-Rei D. Duarte II, novo rei de Portugal, recebia os conjurados que o haviam restaurado na Coroa depois dos extraordinários eventos daquela manhã.
Assinalando-se como de costume a romagem do 1º de Dezembro, grupos monárquicos haviam convocado para esse dia e através do Facebook e SMS uma manifestação contra o regime no Terreiro do Paço em protesto contra a degradação das instituições e do prestígio do país. Bloggers do 31 da Armada, João Braga, Paes do Amaral, Paulo Teixeira Pinto, entre outros, estavam entre os promotores e cedo se juntaram no local onde em 1908 o saudoso rei D. Carlos fora assassinado por cobardes carbonários.
Habitualmente discreta e pouco participativa, desta vez muita juventude marcava presença, descontente com o estado das coisas, afinal os melhores anos de glória nacional foram sob a égide de reis e em novecentos anos oitocentos haviam sido em monarquia.
Rápido alguns milhares acorreram em apoio. O fadista João Braga, usando da palavra, incitava contra os corruptos e vendilhões da Pátria, momento em que um grupo mais determinado apelou a que se restaurasse a monarquia no país. Inflamados e fugindo ao controlo dos poucos policias destacados, marcharam até à fragata Corte-Real, ancorada em Alcântara, onde em dia de folga só o oficial de dia e alguns marinheiros permaneciam. Invadindo a mesmo e aprisionado o pobre tenente de serviço, fuzileiros veteranos à paisana apoderaram-se do navio e do paiol, para gáudio da populaça, com nacionalistas e skinheads à mistura, bem como alguns noctívagos pouco antes vindos duma noite nas docas, conduzindo o amotinado vaso de guerra para Belém, onde via rádio e já frente ao palácio presidencial contactaram o Estado Maior da Armada. Mal este imaginava que vinha aí um 31…
Enquanto grupos civis cortavam os acessos a Belém e S. Bento e as saídas dos cacilheiros e metro, os do Corte - Real ameaçavam com fogo sobre o Palácio e exigiam a rendição do Presidente da República. Este encontrava-se na residência da R. do Possôlo, ironicamente acabando uma fatia de bolo-rei... O Chefe da Casa Militar tentava parlamentar com os revoltosos, enquanto o presidente era evacuado para a Base Aérea nº1, em Sintra.
Entretanto, Paes do Amaral, conde Cantanhede ia-se desdobrando em contactos com a comunicação social, captando apoios e tempos de antena, a CNN ,alertada, tinha já um correspondente no terreno. D. Duarte, que se encontrava tranquilamente a beber um café na Natália, em S. Pedro, pelo telemóvel ia sendo informado do curso dos acontecimentos.
O ministro Relvas, informado pelo telefone, ameaçava com a força militar. A Armada ainda tentou accionar o novo submarino, o Tridente, mas este tinha o pessoal ainda em formação e nunca fizera tiro real. Os Comandos, surpreendidos, não tinham operacionais ou artilharia, estava tudo no Kosovo e Afeganistão.
Pelas quatro horas, os conjurados com o apoio de forças civis invadiram o Palácio de Belém, apeando a foto de Cavaco Silva e içando a bandeira azul e branca. Uma proclamação ao país circulava já nos SMS e no Facebook. Mais bandeiras azuis e brancas se multiplicavam agora nas ruas da Baixa e no mastro do Castelo de S. Jorge.
Às cinco horas, sem tropas ou apoios e sem derramamento de sangue, caía a III República implantada a 25 de Abril de 1974.As redes sociais estavam entupidas e os telemóveis saturados, o Hino da Carta era o vídeo mais visto no You Tube.
Por essa hora, na casa de Sintra, D. Duarte recebia uma delegação de conjurados que em exaltação patriótica o proclamaram legítimo herdeiro do trono gritando real por el-rei de Portugal. Ainda atónito e rodeado de Isabel Herédia e dos filhos, aceitou o pesado fardo que o povo português, nação de gente boa lhe pedia, e em cortejo triunfal partiu para a Ajuda num UMM blindado, escoltado por motards e campinos a cavalo. O bisavô D. Miguel, derrotado em Evoramonte exultaria por certo lá onde estivesse.
Na sala do trono no Palácio da Ajuda logo as forças armadas prestavam lealdade ao novo monarca, enquanto as chancelarias europeias mandavam felicitações, quase todas monarquias por sinal, os primos da Holanda, Juan Carlos, Alberto II, Beatriz, tudo família.
Dirigindo-se da janela ao povo eufórico que aos milhares ali se juntara e envergando o manto branco que pertencera a D. Carlos, o novo rei prometia democracia e pluralismo, respeito pela tradição e julgamentos isentos para os derrotados, seria um monarca constitucional e moderno. Frente à multidão inflamada, uma banda no final tocou o Hino da Carta. Os Braganças estavam de volta.
Depois, as primeiras medidas: a extinção da Guarda Nacional Republicana substituída pela Guarda Real, a convocação de Cortes, a nomeação dum governo, chefiado por Paulo Teixeira Pinto. A aclamação oficial de D. Duarte II ocorreria na Sé um mês depois, perante o clero, a nobreza, e os parceiros sociais.
Ainda nessa noite, o deposto presidente Cavaco Silva partiu para o exílio em Lanzarote, ficando com residência fixa numa vivenda onde outro português já morara. Perturbado, ao embarcar falava sozinho e soltava frases sem sentido, como alimentar o monstro e violar e-mails. O ex-primeiro ministro Passos Coelho, ameaçado com prisão se regressasse, ficou pela Guiné, onde visitava a família da esposa, onde lhe foi oferecido um lugar numa empresa de Ângelo Correia. Nas ruas, o povo exultava, grupos de forcados de Salvaterra e ganadeiros de Alter acorriam a celebrar o novo rei, agora reinstalado e não mais embuçado. Uma corrida à antiga portuguesa celebraria com pompa a entronização, a velha nobreza, os marialvas estavam vingados.
Refreadas as emoções desse dia histórico, havia que retomar a administração da coisa pública. Três dias depois, Conselho de Ministros das Finanças da UE em Bruxelas. O novo ministro, agora rebaptizado da Fazenda, o marquês da Amareleja, muito cumprimentado pelos outros colegas ouvia o plano de resgate para a economia portuguesa: liberalizar os despedimentos, tirar mais 3% suplementar aos vencimentos, privatizar toda a segurança social. Desolado, pedia tempo para o novo regime atacar os problemas e dar a volta à trapalhada herdada dos republicanos, ainda estavam em estado de graça. Sorumbáticos, os colegas negaram, monarquia ou república estavam ali para resolver problemas a sério e não para reinar….
Fonte: Café com Adoçante