sábado, 21 de janeiro de 2012

Um pesadelo nortenho chamado Corvacho e a tomada de posição corajosa do então PPM do Porto

A notícia do recente falecimento do Brigadeiro Corvacho fez emergir, na lembrança de cada um, os tristes tempos do seu tumultuoso consulado, integrado nos desenvolvimentos da consolidação democrática da revolução do 25 de Abril, onde gente havia a procurar consciente ou inconscientemente implantar uma ditadura marxista-leninista.
No Norte e no Porto, como em todo o resto do país, o panorama repetia-se invariavelmente. Independentemente das complicadas manobras levadas a cabo e que destruiriam por dentro o exército, se não fossem estancadas a tempo, são de referir as tristemente célebres prisões sem culpa formada, as sevícias vergonhosas praticadas e os fuzilamentos simulados de que muita gente foi vítima, para provar os tempos negros vividos pelos Nortenhos e que testemunham o comportamento criminoso de Corvacho e dos seus indefectíveis apaniguados.
Isto para não falar já da actuação revolucionária inconcebível levada a cabo em algumas empresas, com perseguições miseráveis a empresários, técnicos e simples operários e que além do censurável comportamento em si, iam atirando a economia portuguesa irremediavelmente ao charco. Isto já para não referir a lamentável intervenção em estabelecimentos de ensino, contra professores e estudantes que foram sujeitos a prepotências praticadas com a sua cobertura.
Claro que os seus esbirros não actuavam fardados, mas através de pequenos grupos revolucionários enquadrados por civis bem conhecidos da política, que tinham guarida no Quartel-General e as bênçãos da chefia da Região Militar. E essa gentinha, que já deve ter esquecido as malandragens que andou a fazer, naturalmente até tendo a lata de as negar, são pessoas, na generalidade, sem qualquer categoria tanto moral como social, e que aproveitaram a maré para subir na vida, pois não tinham as mínimas qualidades de trabalho e de carácter para, como qualquer vulgar cidadão, fazerem frente às dificuldades do dia a dia e à sua custa progredirem numa qualquer carreira.
Na verdade, sempre é mais fácil aproveitar a conjuntura e arranjar um bom lugar em qualquer lado com as brilhantes bênçãos das baionetas. Tem graça que, posteriormente, no fatal ajuste de contas, esses mesmos marmanjos para se tentarem agarrar aos tachos onde foram colocados ilegitimamente, ao arrepio das regras existentes, logo vieram invocar os seus direitos constitucionais e quejandos, que por si, anteriormente, tinham sido escandalosamente espezinhados e desrespeitados, contrariando os princípios democráticos e a vontade da comunidade.
E se gente havia sem qualquer categoria social, a chamada ralé moral que infelizmente sempre inferniza a vida em comunidade, muita outra havia com responsabilidade e que, oportunistamente e com a maior desfaçatez, tomou o eléctrico da revolução para ocupar cargos de chefia por nomeação da política caseira. Como já referi, actualmente já esqueceram a falta de coragem e o vil oportunismo em que caíram. Mas deles não reza a história. Todavia, não posso deixar de recordar tantas pessoas dignas e sérias, vítimas inocentes da conjuntura, que foram presas e perseguidas pelo facto de não alinharem com a actuação ditatorial dos responsáveis de então da cidade Invicta, centro tradicional da Liberdade e da Soberania da Vontade do Povo, pois desde a Fundação da Nacionalidade que tais cromossomas não são apenas letra de canção e de versos, mas fazem parte da textura material e anímica de cada um.
E as manifestações colectivas da gente do Porto denotaram essa ancestral coragem e valentia, como foi os casos das manifestações de modestos trabalhadores exigindo, às portas do Quartel General, a libertação imediata de Rui Moreira, responsável da empresa Molaflex, bem como dos técnicos e dos trabalhadores presos sem vislumbre de culpa formada. Por outro lado, a defesa feita pelos populares que acorreram a colocar-se ao lado dos corajosos militares que defendiam as instalações do CICAP contra a ameaça feita por um exército de facínoras, arrebanhado em todo o país. Por último, a vontade indómita revelada pelos que se dirigiram para o Quartel da Serra do Pilar (RASP) para, à força, libertarem aquelas instalações militares de um grupo de bandalhos, pseudo revolucionários, que delas tinha tomado conta. Todavia, para alguns as consequências foram bem difíceis e traumatizantes.
É por essa razão que não posso deixar de recordar, entre muitas dessas vítimas, as figuras de Camarate dos Santos, de Rui Moreira, de Guilherme Fontes, de Manuel Peixoto Vilas Boas, de Vieira de Carvalho, o grande maiato a quem o Norte tanto deve, e de todos os que foram presos na altura, incluindo os jovens que foram encarcerados apesar da sua pouca idade.
Igualmente, não posso deixar de recordar a figura de Sá Carneiro e dos responsáveis políticos do Norte, de vários partidos, que souberam resistir à onda anti-democrática que tudo pervertia e tudo atemorizava, não se importando de por em risco a sua própria vida, sublinhando a actuação dos dirigentes de então do P.P.M. do Porto que foram ao Quartel General, pessoalmente, dar um ultimato de 48 horas a Corvacho para libertar de Custóias, os presos sem culpa formada, sob pena de serem de lá resgatados à força. Foram acontecimentos que todos procuramos esquecer, mas que não podemos deixar de lembrar, na altura do desaparecimento físico de Corvacho.
A sua figura representa para os homens livres o causador imediato e o actor principal do mais recente episódio da luta das Populações Nortenhas contra quem lhes procurou tirar a Santa Liberdade.

António Moniz Palme - 2012

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