domingo, 19 de fevereiro de 2012

Isabel I de Inglaterra e o seu Médico Português (Isabel Machado)


A promessa de um país mais tolerante e onde uma nova era começava levou Rodrigo Lopes, médico judeu português, a Inglaterra. Naqueles primeiros dias, quando assistiu à coroação da soberana, esperava uma vida mais promissora que a que levava em Portugal, mas estava longe de imaginar que viria a ser o médico pessoal de Isabel I. Mas, num reino em mudança e onde o percurso da própria Isabel até ao trono viria a ditar muitos dos valores do seu reinado, cedo o sonho se transformaria em ambição. E, com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, Rodrigo passaria a desempenhar também outras funções. Funções que acabariam por ditar o seu destino...
Há muito de interessante para descobrir na época histórica relativa à dinastia Tudor e o reinado de Isabel I é, por si só, um percurso fascinante. Assim, há, à partida, bastante de cativante na época histórica que serve de base para esta narrativa. E é precisamente a linha temporal deste romance um dos pontos que, desde cedo, o tornam envolvente: ao começar num período relativamente avançado (mas determinante tanto para as acções de Inglaterra como para a própria interacção entre o médico e a soberana), recuando depois para a história de Isabel, desde os últimos anos do reinado de Henrique VIII, seguindo para a sua caminhada até ao trono e, depois, o seu reinado, revela-se, desde logo, a ligação entre os dois protagonistas, que se irá evidenciando à medida que a narrativa evolui, mas que é conhecida desde o leitor desde bastante cedo.
A decorrer num longo período de tempo e com uma multiplicidade das personagens, tanto na história da rainha, como na de Rodrigo, é natural que o ritmo da narrativa seja relativamente pausado. Ainda assim, e à medida que tanto a hierarquia como a própria personalidade das personagens se tornam mais familiares, o enredo cresce em intensidade, também devido aos vários momentos emotivos que vão surgindo ao longo da narrativa.
A nível de caracterização de personagens, destaca-se, naturalmente, a personalidade de Isabel I. Nota-se um cuidado em mostrar a soberana tanto no seu papel de monarca (com todas as difíceis decisões associadas), como de mulher - sensível, amada e capaz de amar, vulnerável à perda e capaz de lealdades para toda uma vida. Humana, em suma, com todas as forças e fragilidades associadas a essa condição.
Importa referir, por último, e no que toca à escrita, algumas falhas de revisão. Não sendo nada de muito grave, são, ainda assim, evidentes algumas gralhas, palavras repetidas e vírgulas fora do sítio. E é pena, porque acaba por quebrar um pouco o ritmo de uma leitura que é, no geral, bastante cativante.
Com um contexto histórico muito interessante, uma bem conseguida caracterização de personagens e um bom desenvolvimento a nível de enredo, este é um livro que, apesar do ritmo algo pausado (e das tais gralhas), nunca deixa de ser uma leitura envolvente e agradável. Gostei, portanto.

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