quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Mais uma Personagem Monárquica: Aires de Ornelas

Aires de Ornelas foi filho do deputado e conselheiro Agostinho de Ornelas e Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura e Teive e de sua esposa Maria Joaquina de Saldanha da Gama, pertencendo pelo lado paterno a uma das mais antigas e distintas famílias madeirenses, a dos senhores do morgadio do Caniço. Pelo lado materno era neto dos oitavos condes da Ponte.
Foi muito cedo para Lisboa, fazendo os seus estudos secundários no Colégio de Campolide, um estabelecimento da Companhia de Jesus frequentado pelos filhos da elite portuguesa. Concluídos os estudos secundários frequentou os estudos preparatórios ministrados na Escola Politécnica de Lisboa e ingressou no curso de Estado-Maior da Escola do Exército. Concluiu o curso em 1889, ano em que foi despachado alferes da arma do Estado-Maior do Exército Português.
Para além dos seus estudos militares, interessou-se pela escrita, tendo fundado em 1893 a Revista do Exército e da Armada, em colaboração com outros alunos da Escola do Exército, da Escola Naval e com militares no activo. Foi um dos mais assíduos colaboradores daquele periódico. Foi também colaborador e depois director do Jornal das Colónias.
Foi promovido a tenente em 1892 e em 1895 foi enviado para Lourenço Marques, integrado na expedição liderada por António Enes que naquele ano foi enviada para a África Oriental. Em Moçambique, tomou parte nas operações contra o régulo vátua Gungunhana, destacando-se na preparação das colunas que tomaram Marracuene e Inhambane. Revelou-se um militar exímio, alcançando grande reputação no Exército e junto da opinião pública. Destacou-se no combate de Marracuene pela sua valentia e sangue frio, qualidades que confirmou nos combates de Coolela.
Essas qualidade fizeram com que Mouzinho de Albuquerque, nomeado para o cargo de governador-geral de Moçambique, demonstrasse depois grande estima e consideração por Aires de Ornelas, o que viria a resultar na sua nomeação em 1896 para chefe do seu Estado-Maior. Mouzinho de Albuquerque refere-se a Aires de Ornelas como sendo o oficial mais completo que tinha conhecido, possuindo todas as qualidades de oficial de cavalaria de campanha e de oficial de Estado-Maior. Estes louvores valeram-lhe a promoção ao posto de capitão no ano de 1897.
Quando em 1898, Mouzinho de Albuquerque terminou a sua comissão em Moçambique, regressou a Portugal, onde reatou a sua colaboração na Revista do Exército e da Armada e no Jornal das Colónias. Entretanto, a fama que granjeara em África garantiu-lhe reconhecimento público e a sua aceitação como detentor de grandes conhecimentos sobre assuntos coloniais.
A 15 de Agosto de 1900 casou no Lumiar, em Lisboa, com D. Maria de Jesus Maria José de Sousa e Holstein Beck (Lisboa, Alcântara, 18 de Setembro de 1873 - ?), filha do qº Marquês de Sesimbra, de quem não teve descendência.
Esse mesmo reconhecimento público levou a que em Abril de 1901 assumisse a direcção política do Jornal das Colónias. Nesse mesmo ano foi feito par do reino por direito hereditário, assumindo o seu lugar na Câmara dos Pares.
Os seus conhecimentos em matéria colonial fizeram com que fosse escolhido para representar Portugal no Congresso Militar que decorreu em Madrid por ocasião do centenário de Cristóvão Colombo. As mesmas razões levaram a que fosse nomeado mais tarde delegado técnico na Conferência de Haia de 1899 de onde saíram os primeiros tratados internacionais sobre leis e crimes de guerra.
Quando se levantou a questão das fronteiras orientais de Angola, no âmbito da chamada questão do Barotze, foi escolhido, com o almirante Hermenegildo Capelo e o capitão-de-fragata Ernesto de Vasconcelos, para em 1900 integrar a comissão técnica que discutiu com os britânicos os limites do Barotze. Tão bem se houve nesta comissão que recebeu a comenda da Ordem Militar de Santiago da Espada.
A convite de João de Azevedo Coutinho, ao tempo governador-geral de Moçambique, em 1905 desempenhou o cargo de governador do Distrito de Lourenço Marques, cargo onde se manteve por apenas oito meses. Tendo regressado a Lisboa, colaborou em diversos periódicos, assumindo a direcção do Diário Nacional, cargo que manteve durante alguns anos.
Quando em Maio de 1906 o Partido Regenerador-Liberal, liderado por João Franco, foi chamado por D. Carlos I para formar governo, coube a Aires de Ornelas o cargo de Ministro da Marinha e Ultramar. Nestas funções, em 1907 acompanhou o Príncipe Real D. Luís Filipe numa viagem às colónias da África, visitando Cabo Verde, Angola e Moçambique.
Com o regicídio de 1908 e a consequente queda do governo presidido por João Franco, foi forçado a abandonar o cargo, o que contribuiu para o descontentamento entre os militares, em particular os da Armada, e para a degradação da imagem do regime monárquico perante as forças armadas e em particular os círculos africanistas.
Monárquico convicto, com a implantação da República Portuguesa demitiu-se do Exército e abandonou Portugal, residindo em Londres durante algum tempo. Quando as condições políticas permitiram o seu regresso a Lisboa, foi um dos obreiros da reorganização da causa monárquica, sendo nomeado lugar-tenente do rei D. Manuel II de Portugal, então exilado em Londres, substituindo no cargo, por iniciativa do monarca, o seu amigo João de Azevedo Coutinho.
Envolvido na tentativa de restauração monárquica de 1919, o episódio da Monarquia do Norte, liderada pelo seu correligionário Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, foi preso durante alguns meses na Penitenciária e no Forte de São Julião da Barra, de onde saiu graças a uma amnistia oferecida aos revoltosos de 1919.
Reingressou na vida política, e em 1918 e 1922 foi, respectivamente, deputado pela Madeira e por outro círculo.
Erigiu em 1927, às suas custas e num terreno do seu morgadio sito na Ponta do Garajau, ilha da Madeira, um monumento ao Sagrado Coração de Jesus, actualmente conhecido como o Cristo Rei da Madeira.
Foi um dos militares mais condecorados do seu tempo, sendo detentor, entre outras condecorações, do grau de grande-oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, concedida pelos serviços em campanha de Moçambique no ano de 1895), a comenda da Ordem Militar de Avis e três medalhas de prata de valor militar (Moçambique, 1895; Campanha dos Namarrais,1896-1897 e Gaza, 1897).
Faleceu em Lisboa a 14 de Dezembro de 1930, sendo os seus restos mortais transferidos para o cemitério das Angústias no Funchal, no ano de 1934. Encontra-se em sua memória, uma estátua no Largo da Achada, freguesia da Camacha. É também lembrado na toponímia de diversas localidades, entre elas a cidade de Lisboa.
Na varanda da residência do Comissário Régio. Sentados da esq p/dir: Vieira da Rocha, Baltazar Cabral; Luiz Gaivão; Maria José Mouzinho de Albuquerque e Joaquim Mouzinho de Albuquerque. De pé: Conde da Fonte; Aires de Ornelas; ordenanças e criados

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