Há coisas na vida que a gente não mais esquece, como sejam certos lugares paradigmáticos que muitas vezes calcorreamos, na azáfama de que hoje em dia ninguém se safa, mesmo que esteja aposentado…
Deambulo frequentemente pela cidade desde há muitos anos, pelo que, como diria o poeta latino Públio Terêncio, e adaptando um pouco a tradução literal, “nada do que é humano me é estranho”, também eu acrescentaria: nada do que é de Braga me é indiferente… por isso foi, com muita mágoa primeiro, depois com grande revolta, que tomei conhecimento da triste notícia: fechou a barbearia do senhor Matos!
Herdada do pai, um simpático barbeiro/calista que atendia os clientes ali por cima da sapataria Arcádia, a quem tive o gosto de pessoalmente conhecer e com quem algumas vezes de bom grado cavaqueei, a dita barbearia era por muitos considerada um verdadeiro ex-líbris desta eterna Bracara Augusta, agora cada vez mais “nova”(…), por obra e graça de certas mãos que hora a hora a vão lamentavelmente descaracterizando…
Ao que parece, nem as prudentes recomendações do ISPAR surtiram qualquer efeito nas intenções dos nossos mandantes; agora, o facto está consumado: por ordem do tribunal, a ação de despejo foi inevitavelmente executada, vencendo a legalidade em desfavor do património. Pena que os homens, tanto os mentores, como os fazedores e executores das leis, nem sempre tenham em conta o bom senso e sensibilidade artística para, através do diálogo e da “concertação”, (como agora está na moda dizer-se…) criarem as condições necessárias de preservação do património que, afinal de contas, é de todos nós; caso contrário, os vestígios histórico/artísticos desta vetusta e nobre cidade de Braga vão sendo lamentavelmente substituídos por “novidades”, quase sempre tão intrusas, quanto bem dispensáveis…
Doravante, não mais poderei olhar de frente aquela simpática mensagem que o turista japonês ali deixou, visivelmente agradado com o tipicismo da barbearia do senhor Matos.
“Conhecida no Mundo; desprezada em Braga” – que pena e que vergonha! …
PS: O nosso reparo e o nosso lamento igualmente se estendem às já muito deterioradas pinturas da Sala Egípcia, ali bem perto, e onde em tempos não muito distantes funcionaram os serviços do Sindicato dos Empregados do Comércio – é só abandono e degradação, certamente à espera que tudo desapareça quanto antes…
Aguardemos, pois, e serenamente, pelo julgamento da História e da Consciência Colectiva dos Bracarenses...
Domingos Alves
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