Devo prevenir o leitor de que não sou um especialista em matéria de
futebol. Nem sequer um intelectual de bancada, pois limito-me a vibrar com os
bons desafios e a sofrer quando a minha equipa preferida está em campo. Mas , procuro ter
bom senso e interpretar os verdadeiros interesses da actividade futebolística, raciocinando
como penso deve raciocinar a maioria dos cidadãos que se preocupa com o
fenómeno desportivo em
geral. Pois bem, no passado dia 13 de Março, nem queria
acreditar quando tive conhecimento de que, em sessão realizada na Liga
Portuguesa de Futebol, tinha sido decidido, por maioria, aumentar o número de
clubes nas Primeira e Segunda Ligas. Nem mais. Ora se tal acontecesse, em
primeiro lugar, no decorrer do ano em que fosse decretada e começasse a vigorar
essa aberração, inevitavelmente com clubes a quererem ganhar e clubes a não
quererem descer de divisão, uma notícia dessas iria criminosamente dar cabo da
competição futebolística. Pois, os clubes, com a falta crónica de dinheiro para
pagar salários, principalmente os que estivessem nos últimos lugares da tabela,
desinteressar-se-iam dos resultados desportivos, deixando de competir como o
tinham feito até ao conhecimento de tal novidade. Na verdade, desapareceria o
papão da descida. Deste modo, iria ser gravemente prejudicada a verdade do jogo
da bola, como se diz na minha terra. Para os clubes, com o alargamento, as
consequências dos seus resultados, quer ganhassem quer perdessem, iriam ser sempre
as mesmas. A presente e infeliz decisão que a Liga pretendia tomar, demonstra bem
o pouco senso e a falta de categoria de muita gente que dirige os destinos do
futebol.
Em segundo lugar, atendendo ao pouco público que assiste a muitos desafios,
com estádios às moscas, como se poderia pensar em aumentar o número de clubes a
competir, com o consequente aumento do número de jogos e das inevitáveis
despesas que tal acarretaria? Pois, forçosamente, o plantel de cada equipa teria
que fazer face a essa nova situação. Ora, como seria tal possível com a crise
que vivemos e com o espectáculo vergonhoso dos salários não pagos a quem ganha
a vida como profissional ligado ao futebol? É na verdade inacreditável! Claro
que foi a demagogia costumeira e a caça aos votos que fez um candidato prometer
o que não devia. Ainda tive esperança que fosse feito um estudo sério sobre tal
possibilidade e que tal irresponsabilidade eleitoral fosse justificada pela necessidade
de reparar injustiças cometidas com parece ser ocaso do Boavista que já obteve
uma decisão favorável e que, no futuro, terá naturalmente que ser reposto na
Primeira Liga. Mas não, nenhum estudo sério foi mostrado ao público. Para bem
da comunidade desportiva, restou o bom senso da Direcção da Federação Portuguesa
de Futebol, em quem a maioria dos portugueses depositou as suas esperanças. Caso
contrário, chegaríamos à triste conclusão de que se continuava alegremente a
dar cabo do futebol. Mais, de que éramos geridos e governados por aprendizes de
feiticeiro, com pouca capacidade de sentir o desporto como uma parte do todo
que é a vida do país. E se alguma dúvida tinha antes de ouvir a entrevista com
o Sr. Presidente da Liga, Mário de Figueiredo, após conhecer as justificações
para o seu posicionamento, fiquei completamente esclarecido. Tal responsável,
com o alargamento, tinha por objectivo defender os interesses da globalidade
dos clubes. Frase bonita que por si só não chega. Por outro lado, esperava com
tal decisão proteger o interesse do adepto. Não diz é como seria essa
protecção! Seria certamente obrigar os mesmos a pagarem o dobro das quotas para
as suas cores terem capacidade de fazer face ao aumento das despesas. Essa
seria a inevitável protecção. Isto além de pretender favorecer um insólito e chorudo
negócio :- a exportação de jogadores de futebol. Enfim, um inconsciente e um incompetente.
Os clubes a viverem com o resultado da exportação de jogadores, bastando para
tal, como referiu, apenas um planeamento de propaganda comercial dos nossos
jogadores no estrangeiro!!! Valhó Deus. Se este projecto tivesse ido por
diante, o futebol iria ser atirado de vez para situações irremediáveis. Ainda
por cima, mais tarde, quando nada pudesse ser feito para reparar o mal causado,
fruto da demagogia e da estupidez sem limites, os que assim decidiram, lavariam
as mãos como Pôncio Pilatos, pois sabem que o sistema judicial, infelizmente, ainda
não permite meter na cadeia os dirigentes que deliberadamente e, para
satisfazerem os seus interesses particulares, dão cabo da sustentabilidade do
sistema desportivo.
António Moniz Palme - 2012
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