Em todos os tempos, alguns elementos do topo das hierarquias,
principalmente na actividade política, acham-se na necessidade de encher o papo
como um peru e abrir a cauda em leque, não para cativar as atenções das peruas
que tentam requestar, mas para deslumbrar o comum cidadão com a pomposa
excelência que, na sua perspectiva, deve corresponder ao seu faustoso porte. E
só aparecem em público, com um luzidio acompanhamento de meninos de pasta, em
passo bem ritmado e ar empertigado, imitando saloiamente uma guarda de honra
britânica em dia da passagem de sua majestade para a respectiva coroação. Com o
seu ar distante, acham-se então o supra sumo das importâncias. Claro que o
séquito e os aduladores costumeiros, procuram agradar aos seus chefes de fila,
fazendo-lhes elogios em catadupa e comunicando-lhes as excelsas qualidades que
possuem, cantando aos seus ouvidos todo o género de dislates, para tentarem
obter alguma prebenda em paga da lisonja. Ora, só um peru emplumado, um
“nouveau riche” da política, atura e acredita nos ridículos elogios ouvidos. E
vai inchando o peito e acreditando, na sua vaidosa cegueira, que é mesmo um
verdadeiro sábio da china. Pior é que qualquer português que desempenha cargos
políticos é avaliado não pelos aduladores que nas costas sempre dizem mal, mas
pela população votante que apenas vê o resultado da sua governação. E se o
sábio emplumado não governa os bens e os interesses da república, como um bom e
competente pai de família, mal vai a situação, por mais elogios que os cretinos
dos seguidores lhe façam. Aí é que é o cabo dos trabalhos, aí é que a porca
torce o rabo como se diz na minha santa terra. Pois o local próprio para se aquilatarem
as reais qualidades dos políticos e dos governantes não é nos automóveis topo
de gama que os conduzem, pagos à nossa custa, não é na prosápia ridícula que
exibem, mas muito simplesmente nas acções que cometem e no êxito das políticas
praticadas. E se a incapacidade ficar provada, não há importância atirada aos
olhos dos cidadãos, que lhes valha. Perdem num ápice a prosápia e até a
plumagem, bem como irremediavelmente o monco vermelho que tanta importância
lhes dava e lhes adornava o bico, isto é, o nariz, murcha à sua ínfima e triste
espécie.
Seria aconselhável que todos os candidatos a políticos lessem uma das
epístolas de Horácio, que sentencia que o bicho homem deve procurar ser como os
aduladores o pintam, “ Cura esse quod audis”, assim reza a frase em latim, e
não acreditar nos falsos elogios que ouve, por mais que lhe agradem. Bem
andariam os interesses da comunidade com essa preventiva terapêutica…! O mal é
que este tipo de imbecis que acreditam em tudo o que lhes dizem, se renova
permanentemente como a praga do gorgulho do feijão.
António Moniz Palme - 2012
Um dos históricos fundadores do PPM. O ilustre popular monárquico Dr.º António Cardoso Moniz
Palme, advogado, consultor jurídico, que nas horas livres gosta de estudar, de
ler, de escrever e de pintar, foi Deputado da Assembleia da República pelo PPM
nos tempos da AD (Aliança Democrática).
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