O Jornal CONTACTO do
Luxemburgo entrevistou S.A.R., o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança.
O herdeiro da Coroa Portuguesa afirma-se disponível para orientar os
destinos de Portugal. Em entrevista exclusiva ao CONTACTO, D. Duarte Pio de
Bragança acusa os republicanos de desperdiçarem os dinheiros do país e defende
que a nação com mais de 900 anos volte a ter um Rei no seu comando.
D. Duarte enaltece também a comunidade portuguesa residente no Luxemburgo,
que considera a melhor embaixadora de Portugal.
CONTACTO: Como vê as relações entre
Portugal e o Luxemburgo?
D. Duarte Pio de Bragança: O senhor embaixador Paul Schmit está
a fazer um trabalho muito bom. O Grão-Duque Henri também tem feito um grande
trabalho, e os emigrantes são os melhores embaixadores de Portugal. Todos os
luxemburgueses, começando pelos meus primos [o Grão-Duque Henri e os irmãos],
admiram imenso a comunidade portuguesa.
CONTACTO: De que modo essas relações
podem ser melhoradas?
D. Duarte Pio de Bragança: Creio que as relações e a
cooperação ainda podem ser aprofundadas. Penso, por exemplo, no trabalho que o Luxemburgo faz em vários países
lusófonos, nomeadamente em Cabo Verde, onde, possivelmente, uma cooperação com
Portugal também poderia ser útil.
CONTACTO: Há também razões históricas
a unir os dois países…
D. Duarte Pio de Bragança: Sim, mas há um aspecto de que o
senhor embaixador me tem falado, e a Grã-Duquesa Maria Teresa também, que é o
facto de os portugueses no Luxemburgo ignorarem bastante a história tanto de
Portugal como do próprio Luxemburgo, e que se devia trabalhar mais nesse
sentido.
CONTACTO: A história do Luxemburgo agora
lançada em Portugal, em língua portuguesa, é um bom contributo contra essa
dificuldade...
D. Duarte Pio de Bragança: É uma iniciativa muito boa.
Recentemente foi também publicada uma banda desenhada luxemburguesa e portuguesa
sobre a história. Foi bastante interessante.
CONTACTO: Portugal não entrou na II
Guerra Mundial, mas teve um papel muito importante no acolhimento de famílias
reais europeias...
D. Duarte Pio de Bragança: Exactamente, não só acolheu a Grã-Duquesa
Charlotte, em 1940, como muitas outras famílias reais europeias, príncipes
ingleses, franceses, muitos outros. Também centenas de milhares de refugiados,
nomeadamente os mais perseguidos, como eram os judeus, conseguiram vir para cá
com os vistos e passaportes passados pelo cônsul Aristides Sousa Mendes. Ele
conseguiu fabricar documentos de viagens no próprio consulado e foi por isso
que acabou despedido do seu cargo de diplomata. O que fez não foi legal, mas
foi muito generoso e muito correcto do ponto de vista humanitário.
CONTACTO: Esse humanismo português
foi importante para aprofundar laços com o Luxemburgo?
D. Duarte Pio de Bragança: Portugal sempre recebeu refugiados
de todo o mundo com grande abertura. Durante a II Guerra Mundial, o facto de
sermos neutros permitiu que muita gente se salvasse a partir de Portugal. Acho
que podemos aproveitar mais essa situação do ponto de vista de relações
públicas do nosso país.
CONTACTO: Como caracteriza a comunidade
portuguesa?
D. Duarte Pio de Bragança: Os próprios luxemburgueses gostam muito.
Claro que há sempre problemas culturais quando há uma comunidade imigrante
muito grande instalada num país. Uma coisa que achei graça: vai-se às aldeias
luxemburguesas e vêem-se as casas com relvado à frente e depois, de vez em
quando, vê-se uma casa com couves em vez de relva. Já se sabe que é dos nossos.
O homem que vem do campo entende que a erva não serve para nada. O terreno é
para ter legumes. Os luxemburgueses achariam mais bonito se tivesse umas
flores...
CONTACTO: Sente a existência de
choques culturais?
D. Duarte Pio de Bragança: Os choques culturais sempre podem acontecer.
Acho que o esforço dos portugueses tem sido muito grande para se integrarem
dentro da cultura do país que os recebe.
CONTACTO: Parece que regressámos aos
anos 60. Os portugueses voltam a deixar o país. Isso entristece-o?
D. Duarte Pio de Bragança: Por um lado é triste. Estamos a
perder gente nova, competente, capaz, e que tem de sair por causa do
desemprego. Temos de nos queixar não das consequências, mas das causas...
CONTACTO: Que causas apontaria?
D. Duarte Pio de Bragança: O país andou a desperdiçar os seus recursos
com luxos de país rico, e a gastar muito mais do que produzia. Qualquer dona de
casa sabe que isso iria acabar mal. Agora estamos a pagar pelo que nos últimos
anos foi desperdiçado. Estive há pouco tempo na porcaria, no monstro do Museu
dos Coches, em frente do palácio de Belém, em Lisboa. Quanto aquilo não custa e
para quê? Tantos monstros que foram feitos em Portugal nos últimos anos,
completamente supérfluos, desnecessários, ou mesmo errados, mesmo maus, feios…
Agora, por exemplo, o último estudo feito sobre as Parcerias Público Privadas
revela que o lucro dos investimentos nessas parcerias é de 16 % por ano. Assim não
há viabilidade económica possível...
CONTACTO: Agora, os que saem do país
já não usam mala de cartão...
D. Duarte Pio de Bragança: Mas, tal como os anteriores, podem
contribuir para a recuperação de Portugal. O problema é que os anteriores não
foram nada ajudados depois nos seus investimentos em Portugal. Fizeram muitos
investimentos não reprodutivos – casas, muitas vezes fora do contexto das suas aldeias,
muitas não vão ser usadas porque os filhos já não vão para lá viver. Se
tivessem sido encorajados e ajudados a criar empresas e a produzir riqueza em
Portugal, teria sido muito melhor para o país e muito melhor para eles. Uma das
grandes falhas do regime republicano é que não se preocupa com o futuro.
Preocupa-se com os próximos três ou quatro anos, com as próximas eleições... O
futuro não lhes interessa.
CONTACTO: A monarquia tem um
conceito de tempo completamente diferente...
D. Duarte Pio de Bragança: Exactamente, e isso é que faz muita
falta. A República Portuguesa tem falta de um Rei, com sentido de futuro e de
passado, e que faça lembrar que o país não começou há poucos anos atrás, mas
que tem mais de 900 anos. Temos que respeitar o passado para que o futuro nos
respeite.
CONTACTO: Se o povo português o
chamasse para orientar os destinos do país, estaria disponível?
D. Duarte Pio de Bragança: Eu sempre estive à disposição de
Portugal, ajudando no que pude, e continuarei a fazê-lo. Se me pedirem para
assumir um cargo político, também o farei.
■ Licínio Lima, em Lisboa
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