No Concelho de Reguengos de Monsaraz, existe uma povoação dentro de uma
antiga fortificação construída durante a ocupação da Península Ibérica pelos
árabes. Monsaraz é uma das mais preciosas jóias arquitectónicas portuguesas.
Conquistada aos Mouros pelo mítico Geraldo Geraldes Sem Pavor, um dos
notáveis homens de armas coevo de D. Afonso Henriques, caiu novamente nas mãos
da moirama e só foi reconquistada pelos exército de D. Afonso II, O Gordo,
tendo tido Foral concedido por D. Afonso III. É uma beleza, um encanto e tanto
os nacionais como os estrangeiros que nos visitam, percorrendo as suas bonitas
ruas, pensam estar a viver um autêntico conto de fadas. Não ia lá já há alguns anos.
Ao contrário de outros locais, tem tido um desenvolvimento harmónico sem
desequilíbrio da sua traça medieval e sem atentados ao património natural e
imóvel construído. E aquela antiga guardiã da liberdade portuguesa, contra os
avanços dos sarracenos e dos castelhanos, continua a encantar quem a visita,
incluindo os nossos “hermanos” e o visitantes oriundos do Norte de África.
Pois bem, este ano ia tendo um ataque de fúria quando verifiquei que na
porta de entrada principal da Medieval Monsaraz, existem duas placas de mármore,
à falta de uma, instaladas no granito, desfeando o bonito arco de entrada e
atentando gravemente contra o património. Nem queria acreditar no que estava a
ver.
O que rezavam tais dísticos horrorosos. Nem mais nem menos do que a visita
de dois Presidentes da República. Mário Soares em 1987 e Jorge Sampaio
igualmente em 1987. Uma aberração bem visível, supinamente pacóvia e de
tremendo mau gosto. O fruto edificante das chamadas engraxadelas dos políticos
medíocres que temos. Acredito que Mário Soares não saiba deste atentado contra
o património edificado, perpetrado em seu nome. Quando lá for Cavaco Silva, lá
vai outra horrorosa placa para a portada e assim sucessivamente...!
Havia tanto local dentro das muralhas para prantarem placas a comemorar
uma trivial visita de um chefe de estado e foram logo escolher a porta
principal para exibirem o seu mau gosto de ignaros e de incultos, manifestações
de gente que pensa que a história começou no dia em que foram paridos e acaba
no dia em que forem para o Quinto dos Infernos. Grandes filhos da mãe. Não
encontro outro adjectivo para os apelidar.
Vou mandar esta carta para a Secretaria de Estado da Cultura. É preciso
acabar com este tipo de bandalheiras que afrontam o nosso património e a memória
colectiva portuguesa.
António Moniz Palme 2012
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