Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo
(às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus
dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de
televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram
falar de despedimentos por gravidez.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível
salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento,
o mais igualitário. Apesar de serem produtores de petróleo, só extraem
anualmente quantidades mínimas para compensar alguns custos sociais, tendo a
preocupação estratégica de preservar as suas reservas de petróleo para que a
muito longo prazo as gerações futuras também dele possam vir a beneficiar.
Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado
em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros
dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos "da especulação
imobiliária" mas deficitária para o Estado, nem Euros-futebolisticos.
É tempo de os empresários e os portugueses em geral constatarem que, na
Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de
dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades
móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal,
país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os
poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica. Em Portugal existem
propriedades enormes (quintas, herdades, lotes de terrenos) com luxuosas
moradias e/ou palácios, repletos de riquezas, que pagam de IMI o mesmo que paga
um T3 no Cacém. Na Noruega isto era impossível de acontecer, não por serem
comunistas, bloquistas ou outra coisa qualquer, mas simplesmente por serem sociais-democratas,
mas não neo-liberais
Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os portugueses pôr os
olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos.
Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança
que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas
frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por
tu. Aqui, em Portugal, nesta terra de parolos e novos ricos nascidos e
multiplicados pela corrupção e outras vigarices pequenas, grandes e colossais,
cada Ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados
para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros
portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão
maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos
verdadeiramente importantes.
Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com
despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas
públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um
tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões
de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa
causa.
Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus
congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos
seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola.
Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali
montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo
polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo
para viver e à segurança social.
Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos
de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam
por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado»,
para depois exigirem isenções e subsídios, fazerem negócios fabulosos com o
Estado onde este sai sempre lesado, e que o Estado (os contribuintes) entrem
com somas astronómicas, em condições muito favoráveis, para ajudar a
"capitalizar" os Bancos privados que, durante décadas acumularam
lucros fabulosos e que sempre tiveram um regime tributário escandalosamente
favorável.
É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.
Seria meio caminho andado para nos civilizarmos.
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