Este artigo se marca como objectivo contribuir para o
entendimento de um tema que é pressuposto fundamental na sobrevivência e
crescimento das várias dimensões económicas. A economia do conhecimento é
caracterizada pela incerteza e descontinuidade em que a mudança é a principal
constante de desenvolvimento económico. Tampouco, a elevada volatilidade e
sofisticação das necessidades da demanda e da sociedade determina que a
produtividade, heterogeneidade dos recursos, competitividade e interdependência
são factores de vantagem competitiva da economia do conhecimento, que
caracteriza a actualidade económica e social. Assim mesmo, o êxito das
organizações reside na capacidade de se ajustar e reagir às novas formas de
funcionamento e exigências sociais, que ditarão os paradigmas civilizacionais
em transformação ou emergentes. Sem embargo, os produtos têm de estar adaptados
às necessidades, desejos e satisfação dos usuários e clientes. Transpondo este
pressuposto as politicas estratégicas os modelos de gestão ou governança tem de
se adaptar às necessidades e satisfação da sociedade. Isto implica, o
surgimento do conceito de qualidade em que as politicas de gestão e modelos têm
de estar adequados aos requerimentos, desejos e necessidades, e satisfação dos
usuários, clientes ou do meio social, isto porque os hábitos e exigências
sociais se alteraram. Assim sendo, a era da incerteza, descontinuidade e
volatilidade que caracteriza a era da sociedade do conhecimento, a mudança
processa-se a um ritmo elevado nas economias de dimensão individual,
organizativa, local/regional ou nacional, têm de ter a capacidade de se ajustar
e reagir às novas formas de funcionamento organizativo e comportamento socioeconómicos.
Na era da sociedade do conhecimento, as economias têm de estar adaptadas e
ajustadas ao ambiente competitivo de forma a criarem vantagem competitiva
sustentável, que lhes permita sobreviver e crescer num ambiente de elevada
turbulência e ambiguidade. Ademais, vai originar a evolução e sofisticação das
necessidades da demanda. As economias têm de ter a capacidade dos seus recursos
gerarem valor através da criação de riqueza mediante actividades de produção e
inovação. Na literatura estratégica, o conceito de vantagem competitiva é a
capacidade de uma economia, organizacional, local/regional ou nacional obter
rendas financeiras ou sobrelucros positivos, acima da média das economias
concorrentes, isto significa ter um desempenho competitivo superior à média das
outras economias. De acordo com distintos autores, a vantagem competitiva tem
como marco conceptual e teórico que uma organização tem vantagem competitiva
quando implementa estratégias de criação de valor de forma não paralela ou
inexistência de duplicação estratégica de qualquer economia concorrente, e esta
não poder duplicar os benefícios originados dessa estratégia. Ademais, a
vantagem competitiva é a impossibilidade ou incapacidade dos concorrentes de
uma dada economia em implementar estratégias de criação de valor em
simultaneidade ou paralelo. Este paradigma é entendido como a impossibilidade
dos concorrentes em implementarem, de forma simultânea, estratégias
competitivas de valor, isto é, estratégias que conduzem à criação e maximização
do valor com base nos recursos estratégicos.
Este construto não invalida ou posterga, que a acção
competitiva da concorrência, pode implementar estratégias competitivas de
criação de valor, similares ou sucedâneas às de outra organização económica,
obtendo taxas de rentabilidade análogas ou superiores. Assim mesmo, a vantagem
competitiva é resultante da capacidade da empresa realizar eficientemente um
conjunto de actividades necessárias à obtenção de um custo mais baixo que os
concorrentes ou de organizar essa actividade uniformemente, capaz de gerar
valor diferenciado para os clientes ou usuários ou incremento de valor no bem-estar
económico e social. Qualquer organização independentemente da sua dimensão
económica, na [EBC] ou economia do conhecimento, tem como condição básica a sua
sobrevivência, isto significa vencer, manter-se viva e crescer. Porquanto as
organizações têm de desenvolver e adaptar estratégias que garantam a sua sustentabilidade
ao longo do tempo, através de uma performance superior a outras economias e que
conduzam à criação de vantagem competitiva sustentável. Estas estratégias permitem
obter mais valor que a concorrência e deste modo ter uma performance superior
em termos de quota de mercado, volume de negócios, maiores taxas de retorno e
crescimento e maior cotação bolsista nos mercados financeiros. Todavia, a
vantagem competitiva sustentável se mantém ao longo do tempo e por isso é sustentável
e nunca é alvo de duplicação competitiva, não trará à organização que a
duplicou os mesmos resultados da organização precursora. Emerge daqui uma
questão como é possível determinada economia sustentar elevadas taxas de
crescimento e desenvolvimento e outra não? Esta questão está fundamentada na
correlação com a questão da criação de valor nas organizações ou outra dimensão
económica, através de actividades
produtoras de conhecimento, em que o conhecimento das pessoas – recursos
intangíveis – é incorporado e cristalizado em novos produtos e serviços,
conduzindo à criação de uma dinâmica de crescimento e desenvolvimento
sustentado.
Alguns
distintos autores estratégicos, definem que os gestores ou líderes necessitam
definir as suas organizações como criadoras de valor em lugar de apropriadoras
de valor. Dois construtos fundamentais configuram estruturalmente a base da
evolução do pensamento sobre estratégia competitiva; (1) vantagem competitiva,
(2) mudança organizativa e estratégia. No actual contexto de mudança, as
decisões estratégicas deverão se basear num interface entre estratégia e
comportamento organizativo. Assim mesmo, a implementação de uma estratégia
deverá ser direccionada para adaptação ou ajustamento competitivo às condições
económicas. Significa que a implementação da estratégica deverá se ajustar aos
factores endógenos de uma economia, à estrutura do mercado ou à sua posição
competitiva mais vantajosa e favorável. As diferenças de performance entre as diferentes
economias, de uma determinada dimensão económica, são justificadas pelos seus
recursos terem a capacidade de gerar bens e serviços comercialmente viáveis. Na
tradição da economia neoclássica, a economia de mercado é estável porque tem
uma dinâmica de transição de um estado estacionário para outro estado ou de
equilíbrio dinâmico para outro. O sistema capitalista é visto numa perspectiva
evolucionista, em que os equilíbrios são dinâmicos e por isso a economia nunca
atingiria o equilíbrio nem estaria em permanente dinâmica de mudança. Na
tradição da escola austríaca
Schumpeteriana a economia é preconizada numa situação de equilíbrio
geral estacionário, em que existe um movimento mas não existe qualquer variação
das condições fundamentais, o que significa a inexistência de um fluxo circular
de bens e serviços num sentido e moeda em sentido contrário.
Assim sendo, o crescimento e desenvolvimento ocorre
quando as organizações desenvolvem inovações, alterando o equilíbrio das forças
competitivas. De acordo com Schumpeter a renovação constante de produtos,
processos e formas organizativas, que permitam o estabelecimento de rendas financeiras
temporárias são factores de impedimento do mercado de manter uma posição de
equilíbrio. O sucesso de uma economia é mensurado pela variável crescimento.
Como surge o crescimento económico e quais são as suas consequências? a
resposta a esta questão, Schumpeter chama a atenção para a função inovação. A
inovação, mudança, surgimento de novos concorrentes, os fenómenos de rendimento
crescente e os resultados financeiros diferenciados da média do mercado são
fenómenos comuns, já que são ocorrências esperadas num modelo que gera as
diferenças de performance.
A inovação é resultante do conhecimento incorporado
em bens e serviços, processos, modelos e métodos. Numa era em que a economia é
caracterizada pela ambiguidade, incerteza e descontinuidade, em que os mercados
são dinâmicos a condição fundamental de sobrevivência e crescimento é a
adaptação à alteração das condições iniciais, através da introdução de spillovers de inovação - introdução de
inovações na economia como um processo sistemático, de forma a criar uma dinâmica de crescimento
sustentado e assim vantagem competitiva. Assim sendo, as capacidades
organizativas de uma economia são os factores alvancadores ou estabilizadores
estratégicos de crescimento e por conseguinte de vantagem competitiva. A capacidade
organizativa é constituída por duas componentes de recursos; tangíveis (físicos
e financeiros) e intangíveis (capital humano, capital estrutural e capital relacional).
O capital humano (conhecimento, competências, habilidades) é o principal recurso
estratégico que contribui em maior percentagem para a inovação através do
conhecimento incorporado em bens e serviços que gera uma dinâmica de criação de
valor conduzindo à criação de diferencial competitivo sustentável.
Recentes
estudos empíricos fundamentam que nas economias da administração local
portuguesa, a formação do rendimento económico ou organizativo é explicado por 91%
pelos recursos intangíveis das economias locais da administração portuguesa. Os
restantes 9% são explicados pelos recursos tangíveis (físicos e financeiros)
das economias da administração local portuguesa. Estes resultados da estimação empírica
são distribuídos da seguinte forma, nos recursos intangíveis; (1) capital
humano 42%, (2) capital estrutural (organizativo e tecnológico) 26%, (3)
capital relacional 38% os restantes 9% são afectados aos recursos tangíveis (recursos
físicos e financeiros). Da análise empírica aos resultados verifica-se que o
rendimento económico da administração portuguesa a nível de concelho (município)
é participado na sua maior percentagem (91%) pelo capital intelectual de todos
os intervenientes sociais, registando-se elevada capacidade laboriosa, criativa
e inovadora dos actores sociais. Tampouco, surge a questão porque algumas
economias locais apresentam elevadas taxas de crescimento e desenvolvimento e
por conseguinte são mais competitivas que outras economias da administração
local ou dito de outra forma porque alguns concelhos têm uma performance
competitiva e outros não? A existência de gap´s ou assimetrias de crescimento e
desenvolvimento local, na dimensão concelho, é resultante de possíveis
explicações que poderão fundamentar estas disparidades competitivas locais/
regionais tais como; (1) ausência de politicas estratégicas com enfoque nas capacidades
organizativas (recursos estratégicos) desadequadas aos requerimentos (desejos e
necessidades) e satisfação dos usuários, utentes e clientes, (2) ausência de
politicas paralelas entre as diversas economias locais/regionais, (3) inexistência
de investimentos em tecnologia, (4) falta de ajustamento competitivo e reacção
à volatilidade do ambiente local e global caracterizado por novas formas de
funcionamento e exigência sociais, (5) modelos de gestão (administração) ou
governança e liderança inadequados às necessidades e satisfação da sociedade,
(6) falta de qualidade dos recursos e ineficiência e ineficácia das politicas de
gestão e de liderança, (7) Inexistência de uma política de inovação local/
regional (sistemas regionais/ locais de inovação SRI), (8) administração
reactiva e burocrática propensa à corrupção, (9) falta de visão estratégica,
(10) falta de predição das alterações ambientais e políticos dai o fracasso dos
planos estratégicos, (11) inexistência de politicas de ajustamento tributário e
paralelas eg; taxas de derrama municipais, impostos locais etc….
A gestão de muito é o mesmo que a gestão de poucos, é
uma questão de organização. Porquanto, a competitividade de um país é o reflexo
da competitividade das sua economias organizativas, locais e regionais, em que
a capacidade produtiva de uma economia ( local/ regional ou nacional) que
determina os padrões de vida dos seus cidadãos. A este respeito, se observa que
em Portugal as diferenças de competitividade ou eficiência competitiva entre
economias locais ou regionais, é resultante da ausência de políticas de
qualidade dos recursos estratégicos com base nas capacidades organizativas
locais, por incompetência técnica, desconhecimento ou deficiência técnica. Como
assinala J. Tobin o ónus da prova tem de recair sobre aqueles que produzem
menos, em vez dos que produzem mais, os que deixem homens, maquinas, infra-estruturas
e terras desocupadas e que podem ser usadas, orçamentos desequilibrados, divida
externa excessiva, perda de confiança e défice da balança de transacções
correntes excessiva.
O problema do desenvolvimento organizativo, local/
regional e nacional, na era da economia baseada no conhecimento, consiste na
melhoria da produtividade e da competitividade das economias locais e regionais
ou organizativas. Daqui se infere que os objectivos estratégicos de desenvolvimento
local e organizacional, devem privilegiar e estar ancorados em actividades de
geradoras e criadoras de valor ou riqueza que concorram para reduzir as assimetrias
ou desigualdades organizativas ou locais/ regionais e que são; a produtividade;
através da melhoria em infra-estruturas de comunicação e redes viárias,
investimentos em drives de inovação e de eficiência, politicas de
empreendorismo, qualidade dos recursos humanos, investimento em drives de
tecnologia – sistemas ou redes regionais de inovação (SRI) -, actividades de
produção de conhecimento potenciando a capacidade inovadora dos agentes ou
actores socioeconómicos. As economias organizativas e locais/ regionais precisam
garantir e criar uma dinâmica de eficiência competitiva sustentável em relação
à concorrência, já que na era da economia baseada no conhecimento, a
concorrência não é entre produtos e serviços mas a competitividade é entre recursos
e competências. Assim mesmo, o que diferencia os recursos organizacionais é a
sua capacidade de gerar valor para os usuários, clientes e dai obterem vantagem
competitiva.
“ (….) A vantagem competitiva das nações exige um
ambiente favorável para inovação tecnológica, trabalhadores capacitados e
facilidade no trânsito de ideias e pessoas ( .. …) cit (Publicação Publica Estratégica
para Informação , Comunidade Europeia, 2000).
Doutorando em Economia e Administração de Empresas.
Universidade de Santiago de Compostela (USC)
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