domingo, 12 de agosto de 2012

Afinal de que vive José Sócrates?

Sócrates foto
No seu próprio interesse era importante que o ex-primeiro-ministro esclarecesse
Já muito se escreveu e falou sobre a vida aparentemente folgada de José Sócrates em Paris. Jornais e revistas debruçaram-se sobre o assunto ao jeito dos paparazzi. Na sociedade portuguesa tecem-se especulações. Uns garantem que herdou. Outros dizem que sempre foi rico. Outros ainda asseguram que o seu enriquecimento é recente. Há, finalmente, quem ache que o seu trem de vida nada tem de especial e é perfeitamente comportável para um cidadão nas circunstâncias dele.
Em bom rigor, ninguém deveria ter quaisquer dúvidas sobre a vida do ex-primeiro-ministro. E porquê? Pura e simplesmente, porque deveria ser ele o primeiro a fazer questão de esclarecer o assunto.
É certo que não é obrigado. É certo também que há declarações de rendimentos impecáveis que sempre apresentou enquanto esteve na vida política, mas não é menos certo que quem como ele passou pela vida pública ao mais alto nível tem obrigação de explicar, não propriamente todos os cêntimos que tem, mas, pelo menos, a origem genérica dos rendimentos que lhe permitem manter um elevado nível de vida, mais a mais quando se transmite a ideia de que em Paris não faz outra coisa a não ser estudar, viver com o filho e encontrar-se com uns amigos em sítios caros.
Já se sabe que, ao abordar o assunto, qualquer editorialista é imediatamente invectivado através do anonimato da blogosfera. Não obstante, vale a pena evocá-lo, até porque quem não deve não teme.
O ex-chefe do governo deveria dar uma explicação sobre a matéria. Não é natural que em Portugal, onde desde há anos existe toda uma panóplia de limitações a vencimentos e à acumulação de rendimentos e de proibições de actividade em sectores que se tutelou, além de um sem- -número de incompatibilidades, um ex-primeiro- -ministro que mandou objectivamente em tudo e mais alguma coisa não se sinta obrigado a dar uma explicação pública sobre os seus rendimentos.
Se o fizesse, Sócrates contribuiria decisivamente para a transparência democrática e até para dissipar eventuais dúvidas externas a respeito da nossa sociedade.
Em regra, a esmagadora maioria dos políticos portugueses têm vidas absolutamente normais e, salvo alguns casos mal esclarecidos de excessivo enriquecimento associado a negócios que deram para o torto, a nota geral tem de ser positiva, apesar de a população ter deles uma ideia negativa.
No caso de José Sócrates, e tirando insinuações não demonstradas no caso Freeport, não há nota de relação de menor seriedade com qualquer tipo de negócios.
Por isso mesmo, seria desejável que o ex-primeiro-ministro esclarecesse esta situação, mesmo que a isso não seja legalmente obrigado.
Essa atitude contribuiria para melhorar a imagem global da classe política a que Sócrates continua a pertencer como uma referência e (porque não?) deixava-lhe ainda mais espaço para um dia regressar à vida pública nacional, se assim o entendesse.
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