No seu próprio interesse era
importante que o ex-primeiro-ministro esclarecesse
Já muito se escreveu e falou sobre a vida
aparentemente folgada de José Sócrates em Paris. Jornais e
revistas debruçaram-se sobre o assunto ao jeito dos paparazzi. Na sociedade
portuguesa tecem-se especulações. Uns garantem que herdou. Outros dizem que sempre
foi rico. Outros ainda asseguram que o seu enriquecimento é recente. Há,
finalmente, quem ache que o seu trem de vida nada tem de especial e é
perfeitamente comportável para um cidadão nas circunstâncias dele.
Em
bom rigor, ninguém deveria ter quaisquer dúvidas sobre a vida do
ex-primeiro-ministro. E porquê? Pura e simplesmente, porque deveria ser ele o
primeiro a fazer questão de esclarecer o assunto.
É
certo que não é obrigado. É certo também que há declarações de rendimentos
impecáveis que sempre apresentou enquanto esteve na vida política, mas não é
menos certo que quem como ele passou pela vida pública ao mais alto nível tem
obrigação de explicar, não propriamente todos os cêntimos que tem, mas, pelo
menos, a origem genérica dos rendimentos que lhe permitem manter um elevado
nível de vida, mais a mais quando se transmite a ideia de que em Paris não faz
outra coisa a não ser estudar, viver com o filho e encontrar-se com uns amigos
em sítios caros.
Já
se sabe que, ao abordar o assunto, qualquer editorialista é imediatamente
invectivado através do anonimato da blogosfera. Não obstante, vale a pena
evocá-lo, até porque quem não deve não teme.
O
ex-chefe do governo deveria dar uma explicação sobre a matéria. Não é natural
que em Portugal, onde desde há anos existe toda uma panóplia de limitações a
vencimentos e à acumulação de rendimentos e de proibições de actividade em
sectores que se tutelou, além de um sem- -número de incompatibilidades, um
ex-primeiro- -ministro que mandou objectivamente em tudo e mais alguma coisa
não se sinta obrigado a dar uma explicação pública sobre os seus rendimentos.
Se
o fizesse, Sócrates contribuiria decisivamente para a transparência democrática
e até para dissipar eventuais dúvidas externas a respeito da nossa sociedade.
Em
regra, a esmagadora maioria dos políticos portugueses têm vidas absolutamente
normais e, salvo alguns casos mal esclarecidos de excessivo enriquecimento
associado a negócios que deram para o torto, a nota geral tem de ser positiva,
apesar de a população ter deles uma ideia negativa.
No
caso de José Sócrates, e tirando insinuações não demonstradas no caso Freeport,
não há nota de relação de menor seriedade com qualquer tipo de negócios.
Por
isso mesmo, seria desejável que o ex-primeiro-ministro esclarecesse esta
situação, mesmo que a isso não seja legalmente obrigado.
Essa
atitude contribuiria para melhorar a imagem global da classe política a que
Sócrates continua a pertencer como uma referência e (porque não?) deixava-lhe
ainda mais espaço para um dia regressar à vida pública nacional, se assim o
entendesse.
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