O presidente da Câmara de Esposende, João Cepa, mostrou-se, ontem,
preocupado com o futuro do poder local em Portugal, não poupando nas críticas
aos governantes e deputados que, «sentados nas cadeiras do poder em Lisboa,
afastados do verdadeiro sentir dos verdadeiros problemas das populações, foram
criando a aprovando leis atrás de leis, que têm condicionado sobremaneira o
trabalho das autarquias e dos autarcas do país».
Numa altura em que o Estado está a sobrecarregar os contribuintes com impostos
para tentar reequilibrar as contas públicas, João Cepa defendeu a diminuição do
número de deputados à Assembleia da República, os quais acusou de contribuirem
para convencer a opinião pública de que o poder local é o pai de todos os males
na política portuguesa.
«Para quê 230 deputados num país com esta dimensão? Para baterem à porta
dos presidentes de Câmara para apresentarem os administradores das empresas
“amigas”, sugerindo mais umas parcerias público-privadas, mesmo que dias mais
tarde subam à tribuna para atacar o modelo que levou o país à quase
bancarrota?», questionou, confessando-se «cansado de ser condicionado na sua
atividade autárquica por quem nunca soube, nunca quis ou nunca foi capaz de
trabalhar junto dos verdadeiros problemas das pessoas».
A prova disso, disse o edil, são as leis e reformas «absurdas que se
idealizam e que se implementam no país», dando como exemplo uma lei, aprovada
em 2005, que levará a que os proprietários dos terrenos localizados numa faixa
de 50 metros
a contar da linha de água em zonas ribeirinhas (rio ou mar) percam as suas
propriedades a favor do Estado, caso não provem, até janeiro de 2014, que os
seus terrenos já eram de utilização privada antes de 1864.
Referindo-se à situação do país e à descrença na política e nos
políticos, o autarca constatou que há cada vez mais atitudes e comportamentos
ao nível da administração central que os portugueses não percebem e, como tal,
«nenhum governante se poderá queixar da contestação de que possa ser alvo».
Reconhecendo que a classe política é a responsável pela «péssima imagem
que tem junto da opinião pública», aventou que «não teremos melhores
governantes enquanto não sinalizarmos um caminho destinado a erradicar primeiro
os vícios que temos como povo».
O autarca, que está a cumprir o seu último mandato, mostrou-se
preocupado com o estado a que o país chegou e acima de tudo com o que possa vir
a acontecer do ponto de vista social, referindo que tem-se tornado cada vez
mais difícil para as autarquias ajudar aqueles que mais mais necessitam, até
porque algumas das principais receitas dos Municípios registam quebras que
chegam aos 70 por cento.
João Cepa, que falava na sessão comemorativa dos 440 anos do Município e
19.º da cidade de Esposende, não escondeu que este tem sido o seu mandato
autárquico mais difícil, ainda que se tenha vangloriado de uma gestão que faz
com que Esposende seja considerado um dos 10 municípios mais eficientes do
país, sem dívidas a curto prazo.
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