Visitei, pela primeira vez, em Agosto, a vila portuguesa de Olivença, a
que os espanhóis chamam Olivenza. Cumpri, um desejo e sonho antigo. A história
de Olivença, começou a fascinar-me através dos artigos de Carlos Luna. Até aí,
sempre pensei tratar-se de uma questão menor, alimentada, em ocasiões certas,
pela direita monárquica.
Estava errado, admito-o, por que nem os defensores da monarquia têm de
ser, fatalmente, de "direita", nem Olivença era, apenas, a
"questão" do orgulho nacional ferido que eu supunha.
E, percebe-se, melhor, este problema, visitando, com tempo e
disponibilidade, esta terra (e concelho) colonizada de forma
"cirúrgica" durante o século passado, mas onde estão bem patentes, de
forma exuberante, as marcas de séculos da presença e administração lusitana,
desde a Praça de Santa Maria e a respectiva igreja que não pudemos visitar,
devido a obras, até à magnífica Igreja da Madalena, riquíssimo exemplar da
arquitectura manuelina e ao não menos importante Museu Etnográfico González
Santana, com um acervo patrimonial a todos os títulos grandioso e onde fomos
recebidos com extrema simpatia.
Fiquei fascinado com a limpeza e preservação do Centro Histórico de
Olivença, a luz da cal alentejana que brilha nas fachadas dos edifícios, a
conservação da toponímia lusa, mesmo tendo em conta alguns abusos e crimes de
lesa memória que não passam despercebidos.
Nota-se, na urbe, um grande investimento do estado espanhol através da
Junta da Extremadura e do município local, quer em infra-estruturas desportivas
- ao nível do que de melhor existe nas cidades portuguesas – quer noutras áreas
do desenvolvimento humano.
Olivença é portuguesa, de lei, mas espanhola, "de facto". O
"facto" é a usurpação da soberania legítima e a manutenção do poder
político e administrativo por parte de Espanha, à revelia do direito
internacional.
Perante este dilema, não é fácil a um oliventino responder qual a sua
nacionalidade. Dirá, como me disse uma jovem, que "és igual", para
logo acrescentar "mas temos orgulho no nosso passado português".
Olivença é logo ali, a dois passos de Elvas, um "pulo" pela
nova ponte sobre o Guadiana. O rio, outrora cenário de guerras e da
intolerância entre nações, é hoje um traço de união e convergência entre os
dois países, uma passagem que nos aproxima dos nossos irmãos oliventinos.
Em Olivença, senti-me em
casa. Hei-de voltar, uma vez e outra, porque são os povos, a
força dos seus afectos e raízes, que derrubam as barreiras das convenções.
Mário Mendes in "Alto
Alentejo" - 05/09/2012
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