1. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… Era
assim. Não é agora. Hoje, mudam-se as vontades e, por conseguinte, mudam-se os
tempos. E estes mudaram e continuarão a mudar. Olhando à nossa volta, e não
precisamos de ser filósofos ou sociólogos, constata-se, como óbvio, que os
tempos mudaram e que as vontades, os nossos objectivos valorados, colapsaram
antes. Perdemos a nossa memória colectiva, local, nacional e até familiar. Aderimos
às modas da superficialidade e do efémero. Arrumamos Deus e nem queremos ouvir
falar d`Ele. Tudo o que sai das paredes do nosso corpo, que tratamos com
cuidados que chegam a ser verdadeiras manias doentias, não nos interessa nem
incomoda. Adoramos religiosamente o nosso eu. O dinheiro foi alcandorado a
divindade. O outro só vale enquanto nos interessar e dessa relação tirarmos
algum proveito (se possível, muito e muito rapidamente!). A nossa identidade
torna-se, assim, frágil. As relações inter-pessoais, esfarelam-se muito
instantaneamente. Olhemos o que se passa com as relações conjugais…Quando há
casamento, brutalizam-se os festejos e a imaginação não tem limites nos
gastos…E, depois, às vezes muito pouco tempo depois, rebentam as juras que não
devem ter sido muito conscientes…E os filhos (o filho!) são atirados como bolas
de futebol de um para o outro…A amizade anda “facebookada” e confundem-se os
Amigos com os contactos despersonalizados….Baralhamos Amor com sexo (se
possível seguro, isto é, desligado da sua função animal, a reprodução…)
Andamos perdidos, como náufrago no meio de uma
tempestade e que pensa no que vai comer e com vai passar a noite de prazer, enquanto
as bóias se vão furando e o corpo mergulhando…
3. Não gosto de ser um pessimista. Vai contra as
minhas convicções mais profundas. Mas… quando penso ( algo que eu gosto muito de
fazer ! ) no nosso trajecto como povo, assalta-me uma raiva contra este colectivo
que tantas vezes se encheu e cobriu de glória e tantíssimas me envergonha. Os
livros de História ocupam um canto particular nas minhas preferências. A
reflexão das narrativas do nosso percurso interessam-me particularmente. Dou uma
atenção especial ao fim do século XIX e princípio do século XX. Este nasce com
um terrível duplo crime; o regicídio. Matamos (e deixamos matar) um dos Homens
mais brilhantes que presidiram ao nosso destino português, o Rei D. Carlos, um
Homem fora de série, um Rei que nós não merecíamos, dada a nossa terrível
mediocridade E na chacina eliminamos com brutalidade um jovem. Os 16 anos de
república foram o que foram de anarquia, perseguição ( mesmo entre os
republicanos, é bom não o esquecer ), de enorme conflitualidade e de colapso
financeiro… Depois, esta república preparou a Ditadura e o regime autocrático
que vigorou até 1974. Outro depois… lembramo-nos da “exemplar descolonização” e
do PREC e da inflação e de …? Já esquecemos o “gaste-se Muito que deu no que
estamos a ver?
Neste momento de grave e grande crise, parar e pensar
impõe-se.
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