sábado, 20 de outubro de 2012

ACABOU A REPÚBLICA: VIVA A RABBITLÂNDIA!


1 - Sábado próximo é o dia 1 do ano I de uma nova era. Nem é de César e nem é de Cristo, será, quiçá a era do Coelho, do Relvas ou do Gaspar, numa aproximação ao calendário chinês.
Sexta-feira acaba a era republicana em Portugal, por decreto ministerial que obriga a raspar o 5 de Outubro, como movimento político que pôs fim à monarquia e implantou o regime em vigor desde aquele dia 1910, pelo qual a maioria dos portugueses passou a dizer-se republicana. A História regista que foram 102 anos de altos e baixos de um regime que proclamava a igualdade, a liberdade, mas nem uma nem outra soube construir, deixando-as incompletas, tal como as «capelas imperfeitas» do Mosteiro da Batalha, porque encerrou a liberdade durante quarenta e oito anos no Forte de Peniche e no Tarrafal, entre outros lugares sombrios, frios e de sofrimento, após a chegada ao poder de um senhor de Santa Comba, dita do Dão, criador da tortura àqueles que lhe contrariavam as ideias. Tal «sistema político» nunca percebeu muito bem o que devia ser a igualdade, coisa ou facto que assola ainda a actualidade. E nesta actualidade foi preciso que o Tribunal Constitucional lembrasse ao Poder vigente o carácter igualitário que faz parte da definição de república democrática. Seguindo o exemplo de Cícero (político, orador, filósofo e escritor romano do sec. II/I a.C.), pilar e consciência da República romana, o Primeiro-ministro, homem que já declarou não se modular pela «cantiga da rua», invocará “o direito de todos os «nobres» [ António Borges, Miguel Relvas e quejandos] ocuparem um lugar no Estado e de todos os cidadãos honestos participarem nos negócios públicos, deixando de fora deste grupo a plebe, gente desprezível sem vintém e que não podia ter qualquer espécie de crença política”, mas que ousa encher o Terreiro do Passo, o Rossio ou as praças municipais de vilas e cidades?
O país, em nome do trabalho, da produtividade, argumentos mais do que bastantes mas não muito convincentes, assiste à morte da mãe verde-rubra, em pira, no Coliseu (leia-se S. Bento). Adeus, República. Olá Rabbitlândia.
2 - «É horrível o ser-se enganado!» (…) O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade”, assim o escreveu Erasmo de Rotedão no seu livro o Elogio da Loucura. Aliás, quem diz estas palavras é exactamente a Loucura, essa figura que comanda os homens, porque não há gosto maior que ser possuído por ela. Ora, quando olhamos os governantes que tivemos e para os que temos, só podemos exactamente perceber que uns foram e outros são sacerdotes devotíssimos desta Loucura: de Guterres a Santana Lopes, de Barroso a Sócrates, de Passos Coelho aos seus pares. Todos os citados cometeram a Loucura de nos venderem a felicidade com amanhãs de sol nos jardins floridos das nossas cabanas. Todos disseram e os actuais dizem: Esta água é santa, cura todos os males. Quanto mais beberem mais sãos ficarão e mais felizes serão nas noites de lua cheia. Esta é a promessa gloriosa de enganar a sociedade: fazê-la feliz, quando sabem que, sendo amantes da Loucura, só podem oferecer a Loucura. Há mais dias no ano que luas cheias. “O homem, porém, destinado a governar as coisas, deveria ter recebido um pouco mais que uma onça de senso” (Erasmo, idem), o que parece não ser o caso, em Portugal.
3 - “Para que um Estado seja bem orientado, não basta que tenha boas leis, se não tiver cuidado com a sua execução,” (Aristóteles, filósofo grego, no seu Tratado da Política. Daqui resulta que um Estado com boas leis nem sempre é um bom Estado se tiver maus governantes, mas também um Estado com más leis nunca pode aspirar a ser um bom Estado, mesmo com bons governantes.
4 - Termino com felicitações à inteligência do dr. António Borges, o homem da Goldman Sachs, entidade responsável pelo desastre económico em muitos países, Portugal incluído» porque continua a ganhar no jogo da sueca: 350 mil euros, em 2010, como administrador da empresa Galeno Participações SGPS; 225 mil euros em 2011, livres de impostos, pagos pelo FMI. Ora é este «pobre» senhor, mas sábio, que sobe ao palco para se dirigir, para dizer à plateia que, além de ser ignorante, ganha demais e que precisa de deixar umas moedas (leia-se TSU) no cofre do Gasparzinho, que lhe anda a pagar mal pelas ideias espantosas que ele tem soprado ao PM, para prejudicar quem lhe paga o ordenado.
A Loucura (que Erasmo de Roterdão pôs em livro) diz: “ o homem, destinado a governar as coisas, deveria ter um pouco mais que uma onça de senso”… Mas, em Portugal, parece não haver.
(Rabbitlândia = terra (país) do Coelho)

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