Há 80 anos nasciam para as arenas os
homens de jaquetas às ramagens de Vila Franca de Xira. Um livro, que perpetua
oito décadas de história, evoca os homens de uma casta única, “totalmente
passados da cabeça”, capazes de bater palmas a um toiro.
“Há matadores de toiros espanhóis, franceses e até ingleses, mas
forcados, tirando os mexicanos, totalmente passados da cabeça somos só nós”.
Quem fala assim, a propósito dos 80 anos dos forcados de Vila Franca de Xira,
sabe o que é envergar uma jaqueta. O coronel José Henriques, antigo forcado do
grupo de Évora, admite que algumas tenham ramagens, como a dos amadores de Vila
Franca de Xira, sejam tingidas a cor de sangue ou vinho, mas, lá dentro, o
coração é o mesmo. “Somos aquela casta, raio que os parta, que é capaz de bater
as palmas a um toiro”, disse arrebatando a plateia do Celeiro da Patriarcal que
na noite de segunda-feira, 8 de Outubro, assistiu ao lançamento do livro que
assinala oito décadas de história.
A cerimónia decorreu sob o olhar emocionado da madrinha dos forcados,
Maria Vitória Lopes, 81 anos, filha de um dos fundadores e mascote do grupo,
que desde os 20 meses acompanha o grupo com paixão. “Enquanto os cavaleiros
espetam a farpa no toiro que fica dorido e raivoso quem é que salta para a teia
para lhe dar um abraço amigo e não sabe se volta com vida?”.
Entre um e outro discurso foram lembrados algumas das figuras que
ajudaram a fazer o grupo, como Miguel Palha, Paulo Paulino “Bacalhau”, José
Carlos de Matos, Carlos Teles “Caló”, Fernando Marques “Ruço”, José Guilherme
“Zé da Burra” e o saudoso Ricardo Silva “Pitó” cuja colhida a 16 de Agosto de
2002, em Arruda dos Vinhos, marcou tragicamente a história do grupo.
A presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz
Rosinha, lembrou que o grupo foi fundado oficialmente a 8 de Outubro de 1932,
na sequência de um desafio lançado pelo então presidente da câmara, José Palha,
depois de um grande sucesso na festa do Colete Encarnado.
No livro o antigo forcado do grupo, Paulo Paulino, “Bacalhau”, revela
toda uma herança de valentia e os testemunhos de autores convidados, como David
Ribeiro Telles, Jorge Sampaio, Carlos Alberto Moniz e D. Duarte de Bragança,
entre outros, enriquecem a obra ilustrada.
O actual cabo dos forcados, Ricardo Castelo, admitiu com humildade ser
muito novo para representar 80 anos de história mas garantiu fazê-lo com grande
sentido de responsabilidade. “Queremos sempre o melhor livro do mundo e se
calhar por isso este demorou tanto tempo a ser feito”, reconheceu acerca da
obra que demorou dez anos a ser forjada. Na família que são os amadores de Vila
Franca de Xira, os cabos, garante, não são mais importantes que os outros
elementos: “Apenas representam uma geração”.
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