quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Visca Catalunya lliure


No sábado, primeiro dia de dezembro de 1640, quarenta fidalgos levaram a cabo um bem sucedido golpe palaciano, defenestrando Miguel de Vasconcelos, o representante em Lisboa do governo de Madrid, chefiado pelo conde-duque de Olivares, e aclamando rei D. João duque de Bragança.
Esta versão resumida da Restauração tem, de acordo com os historiadores, uma pequena incorreção (os conjurados seriam 107, não apenas 40), mas todos eles sublinham que o sucesso do golpe se ficou a dever ao facto de na primavera desse ano de 1640 ter rebentado uma rebelião da Catalunha, cujo esmagamento os conselheiros de Filipe IV consideraram prioritário sobre uma intervenção em Portugal.
Ou seja, se não fossem os catalães, muito provavelmente Portugal seria agora mais uma das autonomias de Espanha, tal como a Galiza ou o País Basco, em tensão permanente com o centralismo castelhano.
Apesar de não ter a certeza de que estejamos melhor a ser explorados por Lisboa em vez de por Madrid, sempre senti uma enorme simpatia pelos catalães que involuntariamente favoreceram a nossa libertação. Torço pelo Barça, que é o meu segundo clube. O Viatge a Itaca, de Lluis Llach, está no meu top ten dos melhores álbuns de sempre. Sou viciado nos policiais de Vásquez Montalbán. E, sim, Madrid é uma bela cidade, mas Barcelona, bem Barcelona é outra coisa.
Fartos de Madrid, os catalães iniciaram o caminho que os levará à independência. Faz sentido porque a Catalunha é uma nação, com cultura e língua próprias. Faz sentido, porque tudo leva a crer que a maioria dos seus habitantes querem ser independentes. Faz sentido porque os ventos da História sopram na direção de uma Europa federal e multipolar.
Para sobreviverem, as empresas souberam adaptar-se à mudança, substituindo o modelo de governo centralizado, vertical e fortemente hierarquizado - fonte de desperdício de recursos e pai de muitas decisões erradas - por outro concêntrico, mais eficaz e onde o poder está distribuído (empowerment).
Para sobreviverem, os aparelhos de Estado têm de imitar as empresas, o que implica a destruição de estados artificiais (como o espanhol) e pôr em marcha um processo irreversível que combine federalismo e desconcentração de poder.
A Noruega tornou-se independente da Suécia. A Eslováquia separou-se da República Checa. A Jugoslávia explodiu, dando lugar a Eslovénia, Croácia, Sérvia, etc.. É um erro estúpido pensar que o mapa da Europa é um desenho acabado.
A Catalunha quer e vai ser independente. Será o rastilho do fim do Estado espanhol tal como o conhecemos. A seguir será a vez dos bascos se emanciparem de Madrid . Depois, talvez os galegos. Todos os povos peninsulares ganharão com uma Ibéria multipolar. É nesta direção que sopram os ventos da História, Visca Catalunya lliure! (Viva a Catalunha livre!)

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