A fúria que muitos sentem
relativamente à chanceler alemã Angela Merkel é compreensível. Mas não foi
Angela Merkel a responsável pelo estado a que chegámos, pela crise em que nos
mergulharam, pelo enorme endividamento das famílias ou pelos esquemas de corrupção
que exauriram as contas públicas.
Foi Cavaco Silva, e não
Merkel, que enquanto primeiro-ministro permitiu o desbaratar de fundos europeus
em obras faraónicas e inúteis, desde piscinas e pavilhões desportivos sem
utentes, ao desnecessário Centro Cultural de Belém. Foi o seu ministro Ferreira
do Amaral que hipotecou o estado no negócio da Ponte Vasco da Gama.
Foi António Guterres, e não
Merkel, que decidiu esbanjar centenas de milhões de euros na construção de dez
estádios de futebol. Foi também no seu tempo que se construiu o Parque das
Nações, o negócio imobiliário mais ruinoso para o estado em toda a história de
Portugal. Foi mais tarde, já com Durão Barroso e o seu ministro da defesa Paulo
Portas, que ocorreu o caso de corrupção na compra de submarinos a uma empresa
alemã. E enquanto no país de Merkel os corruptores estão presos, por cá nada
acontece.
Mas o descalabro maior
ainda estava para chegar. Os mandatos de José Sócrates ficarão para a história
como aqueles em que os socialistas entregaram os principais negócios de estado
ao grande capital. Concederam-se privilégios sem fim à EDP e aos seus parceiros
das energias renováveis; celebraram-se os mais ruinosos contratos de parceria
público--privada, com todos os lucros garantidos aos concessionários, correndo
o estado todos os riscos. O seu ministro Teixeira dos Santos nacionalizou e
assumiu todos os prejuízos do BPN.
Finalmente, chegou Passos
Coelho, que prometeu não aumentar impostos nem tocar nos subsídios, mas quando
assumiu o poder, fez exactamente o contrário. Também não é Merkel a culpada
dessa incoerência, nem tão pouco é responsável pelos disparates de Vítor
Gaspar, que não pára de subir taxas de imposto. A colecta diminui, a dívida
pública cresce, a economia soçobra.
A raiva face aos dirigentes
políticos deve ser dirigida a outros que não à chanceler alemã. Aliás, os que
fazem de Angela Merkel o bode expiatório dos nossos problemas estão
implicitamente a amnistiar os verdadeiros culpados.
Correio da Manhã,
13/11/2012
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