Corremos o risco de atrofiar a nossa existência,
privando-nos de alcançar patamares mais ricos e mais humanos, quando tentamos
afastar, e depressa, para se impedir o risco de exclusão familiar e/ou social,
estados de humor como a raiva, a melancolia, a frustração, a tristeza, a
ansiedade e o medo, que em circunstâncias legítimas são naturais e até
transformadores. As emoções perturbadoras não têm de ser “as más da fita”,
sobretudo se nos permitirem o questionamento e a autoconsciência, isto é, o
reconhecimento de uma emoção enquanto ela decorre, ou dito de uma outra forma,
o comportamento saudável que nos pode conduzir a mudanças, em períodos de
crise.
Tal como a alimentação saudável, o exercício físico e
o sono reparador, são sinónimos de saúde e bem-estar, também a gestão das
emoções deve ser considerada como uma espécie de bússola de orientação interna,
pela finalidade que tem de adaptar o homem às circunstâncias, o que
naturalmente é o mesmo que voltar a falar de saúde e bem-estar,
independentemente de num caso a actuação ser mais física e no outro mais
psicológico.
Porém nem sempre é fácil lidar com tantos e tão
rápidos estados de humor que preenchem o nosso quotidiano. Basta que surja um
acontecimento inesperado, como a morte de um familiar, um divórcio, a perda de
emprego, entre muitos outros, importantes ou até banais, para que o mundo
interior fique, na maioria das vezes, virado do avesso, agudizando fragilidades
até então ocultas, que encontram nestas carências e perigos a oportunidade e o
desejo de uma “felicidade” individual.
Chegados aqui a negar a presença das pressões que nos
afectam, das mais triviais às mais complexas, ou reagir desmedidamente a elas
de forma persistente compromete seriamente a vida pessoal e profissional, isto
sem contar com os danos físicos e psicológicos que estes quadros reactivos
acarretam.
Em alternativa, entrar fundo, bem dentro de si mesmo
encarando as experiências emocionais, difíceis, de frente, ou dito de outra
forma, colocar as emoções negativas ao espelho, pensar que o medo é legítimo,
mas não nos pode atar as mãos e os pés, podendo ser até o impulsionador da
coragem dos guerreiros, que a humilhação dói, mas ajuda a se voltar a assumir
riscos, que a decepção faz parte da vida, mas a capacidade de confiar também,
que a zanga é válida, mas sem a velha máxima - olho por olho, dente por dente
-, que afinal não se é único a passar por todas estas sensações, que tudo é
temporário, ou seja, não dura para sempre, restando-nos, apenas, em tais
quadros em que a sensação é de derrota, ressentimento, aversão e até ódio,
inutilidade, impotência, apego, revolta e muito sofrimento, saber parar, parar
para reflectir, entrando assim nos dias cinzentos, os verdadeiros “mágicos” de
sabedoria e transformação.
Sílvia Oliveira
Deputada Municipal pelo PPM na Assembleia Municipal
de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 30 de Outubro, pág. 20
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