Dom Duarte Pio de Bragança
é Herdeiro ao trono de Portugal, e detentor do título de Duque de
Bragança, reivindicando direitos sobre o título de Rei de Portugal. É o Chefe
da Casa de Bragança e, por inerência, o Chefe da Casa Real Portuguesa.
Nasceu em Berna a 15 de Maio de 1945.
Foi o primeiro filho de Dom Duarte Nuno de Bragança e de Dona Maria Francisca
de Orléans e Bragança. Os seus padrinhos foram o Papa Pio XII, a Rainha Dona
Amélia de Orleães e a Princesa Aldegundes de Liechtenstein.
Estudou em Portugal, no Colégio Nuno
Álvares e nos Jesuítas de Santo Tirso. Em 60 ingressou no Colégio Militar.
Estudou no ISA e graduou-se pelo Instituto para o Desenvolvimento, da U. de
Genebra.
Entre 68 e 71 cumpriu o serviço militar
em Angola como piloto da FAP. Em 72 organizou uma lista independente de
candidatos à AN o que determinou a sua expulsão do território angolano por
ordem de Marcelo Caetano. No 25 de Abril divulgou em comunicado: “Vivo
intensamente este momento de transcendente importância para a Nação. Dou o meu
inteiro apoio ao MFA e à Junta de Salvação Nacional”.
Foi presidente da Campanha “Timor 87 de
apoio à independência de Timor-Leste. Tal iniciativa deu destaque à causa
timorense, congregando diversas personalidades. Com esses e outros apoios, Dom
Duarte conseguiu a construção de um bairro de quarenta casas para desalojados.
Através da Fundação Dom Manuel II enviou ainda ajudas para Timor-Leste no valor
de centenas de milhares de euros.
Casou com Dona Isabel Inês de Castro Curvelo
de Herédia e tem três filhos.
Quais as ligações
afectivas de Dom Duarte de Bragança a Viseu? - Desde criança que me lembro de vir a Viseu com
os meus pais, de achar uma cidade lindíssima e com pessoas muito simpáticas.
Mas quando o engenheiro Pedro da Silveira me deixou a casa de Santar passei a
vir mais vezes e a ter uma actividade muito próxima. Vivi em Santar uns anos,
embora fosse muitas vezes a Lisboa, tinha a minha base aqui em Viseu. Entretanto
combinei com o meu irmão Miguel e ofereci-lhe a casa de Santar, que agora
dirige. A partir daí, sobretudo com o casamento e com a necessidade de resolver
vários problemas em Lisboa, no resto do país e no mundo lusófono, acabei por
vir menos vezes a Viseu. Mas tenho uma ligação afetiva muito grande à cidade,
que tem o mérito de sempre ter conseguido preservar a sua área histórica, com
algumas barbaridades pelo meio, mas de modo geral tem tudo bem preservado e
isso é a coisa mais difícil nos nossos dias. Temos localidades lindíssimas em
Portugal que estão completamente desfiguradas e há sobretudo um problema, as
instituições oficiais preocupam-se com os monumentos, mas não tomam em
consideração a paisagem. E a cidade de Viseu, com um edifício como, por
exemplo, a torre da Segurança Social, destrói muito da paisagem urbana. Uma rua
lindíssima, medieval, com o caixote do Siza Vieira no meio perde a sua graça,
por mais interessante que seja a arquitectura dele. Não se pode misturar
nenhuma área, que tem um conjunto paisagístico, um equilíbrio próprio, que faz
parte da nossa memória e desfigurá-la com construções que não têm nada a ver.
Duarte Pio João Miguel
Gabriel Rafael. É este o nome completo? Detém alguma simbologia? - É tradição de família pedir a proteção dos
três arcanjos [Miguel, Gabriel e Rafael]. Todos os membros da família tiveram
sempre esses nomes e até o ramo brasileiro mantém essa tradição.
Agrónomo e agricultor,
foi piloto aviador. A terra e o ar. E o mar português ficou de fora? - Não. Há uns anos quando se comemorou o
centenário do assassinato do Rei Dom Carlos, que foi o fundador das Ciências de
Estudo Marítimo da Oceanografia em Portugal, fizemos um congresso internacional
dos países lusófonos (Congresso Mares da Lusofonia). Vieram cientistas,
especialistas, oficiais da marinha, todos os países de língua portuguesa e
gostaram tanto do congresso que pediram para se repetir. Desde então tem-se
feito todos os dois anos e o terceiro vai ser no Rio do Janeiro, organizado
pela marinha brasileira, pela Associação dos Antigos Marinheiros Brasileiros e
pela Petrobrás. E, neste sentido, o mar não fica de fora.
Como vê o momento
político-económico-social vivido em Portugal? Existe alternativa? -Temos um grande
problema de pensamento em Portugal que é causado pelo ensino escolar, pela
cultura familiar e que põe de lado o raciocínio lógico. Tomam-se decisões
emocionais e pouco lógicas e estamos na situação de uma pessoa que andou anos a
comer de mais, a não cuidar da saúde e agora tem que entrar em dieta rigorosa e
tomar remédios muito amargos. Esta é a situação do Estado português. Depois
ficamos muito zangados com o médico que é muito mau connosco quando, na
verdade, temos que nos culpar a nós próprios porque deixamos o nosso Estado,
eleito por nós, dar cabo da economia portuguesa por inépcia, irresponsabilidade
e, nalguns casos, francamente, por corrupção. Muitas destas obras espaventosas
de país muito rico que andámos a fazer durante estes anos todos tinham dois
objetivos: Ser simpático para com o eleitorado que gosta de autoestradas,
rotundas, de monumentos engraçados e disparatados nas rotundas mas, sobretudo,
obras públicas. Mas há um motivo muito pior, estou convencido que muitas dessas
obras públicas eram para dar negócios aos amigos, que depois dão emprego aos
políticos que tomaram essas decisões, já para não dizer, financiar os partidos
políticos a partir de comissões e doações dadas pelas empresas que fizeram as
grandes obras públicas. Se em vez de, por exemplo, se ter feito a Expo, em
Lisboa, onde se gastaram centenas de milhões de euros numa festa de seis meses,
se tivessem restaurado bairros históricos de Lamego, Lisboa, Porto, uma
quantidade de bairros históricos em Portugal que estão a cair, dava trabalho a
muitas pequenas empresas de construção civil, era muito mais útil para o país,
tinha muito mais interesse. Não dava era as tais comissões nem as negociatas
que foram feitas à volta da Expo.
O mesmo aconteceu com o Centro Cultural
de Belém, estádios de futebol, ponte Vasco da Gama que custou imenso e que
estamos a agora a pagar. Na altura o estado estava a pagar as suas despesas com
dinheiro do exterior e quem nos emprestava o dinheiro disse: “Então como é que
vão pagar isso? Com o vosso nível de vida nunca vão ser capazes de pagar. Só
continuamos a emprestar se passarem a ter uma gestão muito cuidadosa e se
gastarem menos do que aquilo que ganham”. Mas ainda estamos a gastar mais do
que o que ganhamos… Isto era o inevitável causado pela irresponsabilidade e que
já tinha acontecido com a primeira República, começaram a fazer a mesma coisa e
em 1926, ao fim de 16 anos estavam na falência.
Alternativas… Em primeiro lugar produzir produtos que possam ser
vendidos no estrangeiro, darmos o máximo de apoio à produção nacional,
agricultura, pesca, indústria, tudo aquilo que nós sabemos fazer bem e que foi
negligenciado e destruído e, curiosamente, o único setor que melhorou este ano
foi a agricultura. Outro aspecto é saber se o dinheiro que o Estado está a
gastar é bem aplicado. Toda a gente tem pena dos funcionários públicos
despedidos, claro que é para ter pena, mas será que vale mesmo a pena que nós
todos, quem produz riqueza em Portugal, sustentemos 700 mil funcionários
públicos, quando em 1975 tínhamos 200 mil? É isso que temos que saber, se
queremos pagar isso e provavelmente não, preferimos pagar serviços que
realmente recebemos e não a uma data de gente que muitas vezes não se sabe o
que está a fazer. E, 80% do orçamento do Estado, são salários do funcionalismo
público, do governo central e das câmaras. 50% da riqueza oficialmente
produzida em Portugal é para sustentar o Estado e isto começa a ser
insustentável. Se cada um de nós trabalha 11 meses, recebe 14, metade do que
ganhamos é para sustentar a máquina do Estado. Mas de todas as desgraças se
pode tirar um ensinamento e alguma vantagem, neste caso, visto que não soubemos
obrigar o nosso Estado a comportar-se como pessoa de bem e sensata, agora não
há alternativa. Em vez de cortar naquilo que é útil e produtivo no país, como é
o caso de excesso de impostos que vão matar a produção industrial e agrícola, a
economia produtiva, e que vão dificultar a nossa competitividade internacional,
é preferível menos impostos e mais cortes na despesa do Estado e eu acho que
isto é básico e lógico.
E, àqueles que tiverem de ficar
desempregados, arranjem-lhes outros trabalhos onde sejam produtivos, onde
possam produzir coisas úteis. Quase toda a gente sabe fazer outras coisas, há
muita gente que está a abandonar a cidade, a ir para o campo e a criar produtos
comestíveis, que são industrializados, que são vendidos aumentando a produção
agrícola.
Há dezenas de milhares de estrangeiros,
a trabalhar na agricultura portuguesa, porque poucos portugueses estão
interessados em fazer vindimas, apanhar azeitona, fazer limpeza florestal. Há
muita gente a receber subsídios para não fazer nada. Há câmaras, que eu conheço
pessoalmente, como é o caso de Setúbal, onde quem recebe subsídios é obrigado a
prestar serviços à comunidade, desde pessoas que ajudam na segurança das
escolas, que dão explicações aos alunos com dificuldades, que tratam dos
jardins municipais, que restauram prédios degradados, desempregados que têm um
certo nível cultural e trabalham nessa área, outros que vão levar comida a casa
dos mais velhos que não podem sair de casa…
Milhares de pessoas a fazerem trabalhos
para a comunidade em troca dos subsídios que recebem. Isso é um passo muito
positivo em todos os aspetos, e para eles em primeiro lugar. Claro que há os
falsos desempregados, até há pouco tempo 30% das ofertas de trabalho em
Portugal não tinham ninguém interessado nelas. O povo das Beiras tem mais
flexibilidade, as pessoas são desembaraçadas, têm experiência de campo, quando
perdem o emprego num serviço ou numa indústria sabem fazer outras coisas, podem
mais facilmente adaptar-se à situação de crise económica do que, por exemplo,
as do Porto e Lisboa.
De que modo poderia a
Instituição Real ser um fator de união popular? - Tanto nos países superdesenvolvidos, muito
progressistas como os do norte da Europa, países Escandinavos, Holanda, Bélgica
e como nos países de terceiro mundo, que são democracias, como a Tailândia,
Camboja, etc., mesmo em países onde a sua democracia é completamente diferente
da nossa, como os países árabes, mesmo aí comparando a Monarquia com a
república, a Monarquia funciona melhor. Marrocos funciona melhor que a Argélia,
a Jordânia funciona melhor que a Síria, ou que o Egipto.
Portanto, comparando na mesma região,
as Monarquias funcionam sempre melhor que as repúblicas. Estou convencido que
um Chefe de Estado Rei teria controlado muito melhor os desmandos dos governos,
porque não é suspeito de parcialidade.
Os nossos presidentes, por melhor que
tenham sido, quando tentavam dizer ao governo “você está a exagerar, está a
disparatar”, eram logo acusados de parcialidade partidária, com a excepção dos
militares, como o General Ramalho Eanes que tinha uma verdadeira independência,
os outros foram fundadores, presidentes, dirigentes partidários e não se
conseguem libertar disso.
As pessoas não acreditam na
independência do chefe de Estado, mesmo que eles o tentem ser.
Disse-se que os
portugueses perderam a esperança e vivem cada vez mais acabrunhados e desesperados.
Partilha desta opinião? - Há muita gente assim e
pelas circunstâncias em que vive. É a primeira vez em que a geração mais nova
vai, provavelmente, ter que viver com menos e com mais dificuldades que a
geração dos seus pais. Até agora, nas últimas dezenas de anos, foi sempre o
contrário. Há famílias extremamente angustiadas porque não conseguem cumprir os
seus compromissos financeiros e outras já nem conseguem sustentar as
necessidades básicas da casa.
Por outro lado está-se a desenvolver
muito a solidariedade, o apoio dentro da própria família, o apoio entre amigos,
de instituições de solidariedade e de caridade. Vê-se pelo sucesso que o Banco
Alimentar, a Cáritas e outras têm e são o exemplo de que é uma grande tradição
portuguesa, muito profunda, que está na nossa alma nacional e que tem estado a
dar uma resposta muito boa perante as circunstâncias actuais.
O que acha imperioso
mudar em Portugal? - Primeiro, na base de
todos os problemas está a falta de raciocínio lógico. Em geral temos um comportamento
incoerente e ilógico nas nossas decisões. Gastamos o que não deveríamos gastar,
compramos o que está fora dos nossos meios, tomamos decisões de escolha de
profissão e de curso baseado em modas ou em simpatias e não em vocação ou de
perspetiva de futuro e emprego, nas decisões políticas, votamos no “nosso
partido”, como se fosse um clube de futebol, mesmo que o presidente seja
corrupto e esteja tudo mal, continua-se a votar porque é o “meu clube”.
Há uma reincidência do
eleitorado português? - A maioria do
eleitorado português vota sempre nos mesmos partidos desde o começo da
democracia, o tal espírito de clube sem lógica.
Numa perspetiva de
poder local entreveria com bom grado a hipótese de candidaturas autónomas
suprapartidárias? - Acho que seria muito
útil e uma acção de civismo muitíssimo interessante. Aconteceu nas
presidenciais. Há também pequenos partidos, como o Partido da Terra e outros
que têm ideias muito originais e interessantes e que poderiam estar no centro dos
movimentos cívicos.
Têm algum descrédito
os partidos? - Considero que os
partidos são indispensáveis para o funcionamento democrático. A minha dúvida é
se o poder todo deve ser controlado pelos partidos ou se não seria melhor ter,
por exemplo, o voto uninominal para o parlamento, ou pelo menos metade ou dois
terços fosse eleito por voto uninominal.
Que opinião tem sobre
os nossos governantes, em geral? - Temos tido, dos vários governos, pessoas de
grande qualidade, de grande valor. Do governo actual há ministros com valor
intelectual e profissional, mas também temos tido pessoas politicamente menos
competentes, mesmo que tecnicamente possam ser bons. Tenho ouvido muitas
queixas, no sentido de que a escolha para os cargos políticos não é
necessariamente pelos mais competentes, mas por motivos partidários, por
motivos de outra ordem.
É pena que cada vez que muda o governo
mudem todas as cúpulas das instituições e daquilo que faz funcionar o Estado.
Por exemplo, em França, normalmente ninguém vai para ministro sem ter sido
aluno das grandes escolas de administração e pelo menos ninguém vai para cargos
públicos de administração sem ter passado por essas escolas.
E sobre a figura do
Presidente da República? Vota nas presidenciais? - Nunca votei nas presidenciais, por uma questão
de princípios, porque se não concordo com a instituição, Presidência da
República, não faria sentido votar nela. Voto nas eleições municipais, porque
aí conheço os candidatos, sei aquele que merece mais confiança e voto nele como
pessoa e não como partido. Eu acho que o actual presidente é uma pessoa de
muito valor, muito dedicada e que se esforça para cumprir a sua missão, mas é
um cargo difícil, por um lado pela sua origem partidária, que é sempre suspeito
de favorecer o seu próprio partido, embora nunca o tenha feito e muitas vezes
até incomodou e atrapalhou o próprio partido, mostrando isenção.
Por outro lado, o facto de muitas vezes
termos o presidente num partido e o governo noutro tem criado muitos conflitos
institucionais à política portuguesa, que é outro dos inconvenientes do sistema
republicano. E o pior dos inconvenientes é quando um presidente é muito bom,
toda a gente gosta dele e gostaria que ele continuasse, ele não pode continuar
porque a Constituição não deixa. Aliás, eu pergunto: porque é que a
Constituição não deixa o povo reeleger sempre o mesmo presidente, se o quiser?
Essa é a vantagem dos Reis e, de qualquer forma, também podem ser “despedidos”,
porque em todas as democracias ocidentais o parlamente tem poder para destituir
o Rei.
Qual a figura política
portuguesa das duas últimas décadas com a qual tem alguma identificação? - Há bastantes, com quem trabalhei em matéria de
política internacional, desde o Dr. Durão Barroso, o Dr. Jaime Gama, o próprio
presidente Cavaco Silva, são pessoas com quem eu me dei bastante, o Dr. Mário
Soares, enfim, tento sempre manter um relacionamento com eles na medida em que
eles podem e que têm disponibilidade de tempo. Por outro lado, há realmente
pessoas de grande nível que passaram pelos nossos governos e com quem tive um
relacionamento muito interessante. São vários e se começo a citar uns
esqueço-me de outros…
Que motivos o levaram
em 87 a
criar um movimento de apoio a Timor Leste e que relações subsistem atualmente
com esse país. - A dada altura Timor
estava sob ocupação Indonésia, havia centenas de milhares de mortos e as forças
políticas que governavam Portugal achavam o assunto incómodo, que criava
problemas com os nossos aliados, Espanhóis, Americanos e outros, e que era um
caso perdido. Eu achei que isso não se podia fazer, era uma traição para com o
nosso povo irmão e convidei uma série de pessoas para participar numa campanha
que tinha como primeiro objetivo realojar os refugiados timorenses que estavam
a viver num acamamento provisório no Jamor. E o segundo objetivo, mobilizar a
opinião nacional e internacional a favor da causa de Timor e, de facto, tivemos
desde o presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, o presidente da Câmara de
Oeiras, Isaltino Morais, várias esposas de políticos, havia gente de todos os
sectores, Intersindical, UGT, todos apoiaram e a campanha teve um enorme
sucesso. O Artur Albarrã teve também um papel importantíssimo. Curiosamente, um
grupo de estudantes portugueses, a quem eu fiz uma conferência na Universidade
de Brown, em Rhode Island ,
decidiu lançar uma campanha por Timor, lá onde 15% da população é portuguesa.
Então, o senador Kennedy, para ganhar o voto dos portugueses, decidiu apoiar
Timor, virou o Senado americano, depois o Congresso americano e a política
americana virou por causa dos estudantes portugueses da universidade.
Pequenos movimentos bem organizados
podem ter efeitos muito grandes. Em 1997 visitei a Indonésia, tive encontros
com os políticos de alto nível, vice-presidente da república, chefes militares,
serviços secretos e consegui convencê-los a mudar de política em Timor e foi
assim que a Indonésia permitiu a libertação de Timor.
Neste momento que
relações subsistem com Timor? - Tenho mantido um contacto muito próximo, tenho
lá ido todos os anos, por vezes ano sim ano não e, da última vez, em Março,
tive uma grande alegria: o parlamento votou por unanimidade dar-me a
nacionalidade Timorense. Depois o presidente Dr. Ramos Horta deu-me uma
condecoração e o ministro Guterres deu-me o passaporte diplomático, de modo que
agora sou timorense de pleno direito. E também estou em vias de ter a
nacionalidade brasileira, porque a minha mãe é brasileira e a presidente Dilma
Rousseff é favorável a isso. Sou a favor de que deveríamos ter o conceito de
união lusófona ou confederação lusófona. Cabo Verde propôs há bastante tempo o
conceito de cidadão lusófono, o que eu me considero. Sigo aquela frase de
Fernando Pessoa, “a minha pátria é a língua portuguesa”. Também mais fácil e
viável seria fazer um passaporte lusófono, que permitisse aos seus detentores
ir a todos os países sem precisar de visto, que seria dado a pessoas que
tivessem motivos sérios para o pedir.
Da Monarquia europeia,
qual a figura com quem mais se identifica. - Os meus primos mais próximos, com quem me dou
muito bem, o Duque Henrique de Luxemburgo, o Rei Alberto da Bélgica, todos eles
são bisnetos do rei Dom Miguel, ou o Príncipe reinante de Lichtenstein, Hans
Adam. Identifico-me e tenho uma grande simpatia pelo príncipe Carlos de
Inglaterra. O seu pensamento e natureza ecológica e social, as grandes
propostas que tem para a Inglaterra têm marcado muito o país. Tenho uma grande
admiração pelo Rei de Espanha, de facto foi quem aí salvou a democracia, que
levou o país pacificamente da ditadura para a democracia, enquanto que,
Portugal, sofreu uma revolução que destruiu e atrasou a economia portuguesa,
devido às nacionalizações, ocupações, leis disparatadas, que nos tornaram pouco
competitivos.
Ou seja, para chegarmos à democracia precisámos
de uma revolução que ia dando cabo do país e que deu cabo do ultramar. Os
nossos irmãos africanos sofreram anos de guerra civil, miséria, fome, centenas
de milhares de mortos, por causa de uma descolonização completamente
irresponsável e mal conduzida. A Espanha evitou-o, num país muito mais perigoso
e complicado que Portugal. A nível internacional tenho também várias ligações
com Reis e Rainhas, como a Rainha da Dinamarca e a sua família, Rei da Holanda,
os Reis da Jordânia, o Imperador do Japão, o Rei da Tailândia, enfim mantenho
uma relação muito próxima com várias Monarquias.
E de todos os 34 reis
e rainhas de Portugal, qual o favorito? - Sempre tive uma simpatia muito especial pelo
rei Dom Dinis, desde criança. Considero também que houve Reis que foram muito
injustiçados na nossa história, como é o caso do rei Dom Miguel.
Todos os livros de História falam mal
dele, de uma maneira muito injusta, efectivamente quem estava com programa do
progresso, com a democracia e com a modernidade era o Dom Pedro.
O projeto era seguir o modelo Inglês de
política democrática moderna, só que o povo português não estava para aí virado
e identificou-se com Dom Miguel e foi esse o drama. As elites quiseram a
democracia moderna que Dom Pedro propôs. Ambos tinham os seus ideais só que a
maneira como a história trata Dom Miguel é completamente injusta e desligada da
realidade da época.
Também Dom João VI foi um Rei
inteligentíssimo, conseguiu que Portugal e o Brasil se conseguissem salvar das
invasões francesas, pelo menos salvar a sua independência, e fez do Brasil um
país fantástico.
Existe uma mística que acho muito
importante, que é a do Quinto Império, do Império do Espírito Santo, em que a
missão de Portugal está por cumprir, não se limitando ao retângulo peninsular,
mas é universal e com a missão de levar uma mensagem de fraternidade, humildade
e espírito cristão que, de alguma forma, ainda continua a existir.
Que mensagem deixa aos
beirões? - As qualidades humanas
que encontramos aqui nas Beiras são de facto das melhores que há em Portugal e
basta ver a quantidade de personalidades do mundo da cultura, ciência,
política, que são da região e que têm tido sucesso. Os portugueses emigrados,
maioritariamente destas zonas, têm sucesso para onde vão, Estados Unidos da
América, no Luxemburgo, onde 25% da população activa é portuguesa, mostra que
as nossas capacidades devem ser bem aproveitadas e bem orientadas.
Acho que foi pena os nossos emigrantes
terem gasto muito das suas poupanças em habitações, em geral esteticamente
duvidosas, abandonadas e deveriam ter investido em empreendimentos de natureza
económica rentável.
Há uma potencialidade muito grande que
deve ser melhor aproveitada e encorajada e desde as Câmaras Municipais, às
Instituições, locais e nacionais, têm que conseguir orientar as boas
iniciativas no campo agrícola, industrial e outras. A informação tem que ser
melhorada, o trabalho de extensão rural também deve ser melhorado. As
indústrias regionais e a produção agrícola regional deveriam ser preferidas por
todos.
Vejo gente ligada à produção agrícola e
que depois vai ao supermercado e compra produtos espanhóis, sem sequer se
importarem com a sua origem. Tem que haver coerência e eficácia no nosso
comportamento para ultrapassarmos a crise económica e criarmos uma nova
dinâmica em que o país se torne sustentável.
Temos uma economia de gastos
não-sustentável a corrigir e todos contamos com os beirões para introduzir este
espírito revolucionário na nossa economia. Se estamos interessados em manter
uma cultura e uma identidade cultural própria, e já que temos turismo, temos
que salvar a nossa paisagem. Não podemos continuar a destruir a paisagem com
construções disparatadas, desenquadradas e depois querermos que os turistas
venham ver caixotes. Eles querem é boas aldeias, vilas, bons campos e o papel
do agricultor é também o papel de preservar, manter e melhorar a paisagem e
isso tem que ser pago.
O agricultor é um defensor da sua
paisagem.
Fonte: Jornal do Centro, 07 de Dezembro de 2012, Maria de Menezes / realfamiliaportuguesa
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