Braga é conhecida pelo epíteto de “cidade dos três
pês”, os quais são sobejamente conhecidos e portanto a respectiva citação
torna-se escusada. O que pouca gente desconhece é a vontade de alguns em
acrescentar um pê aos três tradicionais, porque da noite para o dia estão a
transformar Braga na cidade dos parcómetros. Ou parquímetros?! Não se sabe ao
certo qual o substantivo mais adequado para nomear estas execráveis maquinetas.
Sabe-se somente que são umas vorazes comedoras de moedas e estão a crescer
pelas ruas bracarenses como cogumelos depois da chuva.
O município é regido há mais de trinta décadas pela
mesma família política. Ainda que legitimada por sucessivos sufrágios
eleitorais, este tão longo apego ao poder não estabelece o patriarca da família
como dono da cidade, e muito menos confere ao próprio ou ao seu séquito, o
título de propriedade das ruas do burgo. A cidade e respectivas vias continuam
e continuarão a ser dos bracarenses. Desenganem-se aqueles que têm agido como
se fossem os donos da cidade promovendo “o caciquismo” típico da primeira
república portuguesa.
Ao entregar a concessão do estacionamento de
superfície aos seus privados, a família reinante está a outorgar o que não lhe
pertence e por período de tempo para o qual não tem legitimidade decisória,
porquanto o contrato de concessão é de 15 anos e renovável por outros tantos.
Saiba-se que o mandato do regente actual termina no final deste ano e o mesmo
não poderá candidatar-se a outro subsequente. Com efeito, a família reinante
nomeou para a sucessão uma figura altiva e que já afirmou rever-se em quase
tudo o que foi feito pelo regente anterior. Nomeadamente, na questão da
expansão das máquinas devoradoras de moedas, ou no enterrar de 8,5 milhões de
euros num cabouco que se supunha vir a ser uma piscina olímpica.
Mas é verdade que o município permitira a extensão a
99 ruas e não a 100, utilizando para tal a mesma habilidade psicológica do
merceeiro que vende o bacalhau a 9,99 euros em vez de 10. Pior, as 99 foram
reduzidas para 27 por questões meramente eleitoralistas e visando mitigar a
crescente onda de descontentamento das populações. Não obstante, o cenário
terrífico duma maquineta suga-moedas à porta da casa de cada bracarense é bem
real.
A justificação de tentar com esta medida melhorar o
trânsito e a mobilidade no centro da cidade é também altamente falaciosa.
Primeiro, o plano de expansão das ditas-cujas maquinetas vai muito além do
centro da cidade. Segundo, a cidade não dispõe de transportes públicos
eficientes e suficientes para fazer os cidadãos preterirem a utilização da
viatura própria.
Por conseguinte, à população assiste-lhe o direito de
expressar livremente a indignação por este atentado aos direitos cívicos, das
formas mais convenientes e de acordo com o ordeiro exercício da cidadania, mesmo correndo o risco de ver o material de contestação
retirado pelo corpo municipal de bombeiros, que no tempo de Inverno lhe sombra
tempo para acudir a este tipo de ocorrências.
Ele aí está, o primeiro parcómetro da nova era em plena Rua 25 de Abril! Pelo nome da rua, dá vontade de cantar "Braga, cidade morena!". E atentem bem na sua delimitação de segurança: ferros espetados, um deles à altura das crianças - que são muitas naquela zona escolar!
Foto de Rui Feio de Azevedo
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