terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Por uma Causa Real


Joaquim Leandro Monteiro Costa e Nora nasceu a 9 de Maio de 1954, em Coimbra. Passou a infância em Murtede, no concelho de Cantanhede, e a juventude em Coimbra. Praticou andebol, basquetebol e râguebi e, ainda hoje, continua intimamente ligado ao desporto, sendo Presidente do Conselho Fiscal da Associação de Basquetebol de Coimbra. Licenciou-se em Direito e ainda pensou ser diplomata. Casado, tem três filhos, três netos e é confrade na Confraria da Rainha Santa Isabel. Costa e Nora é também conhecido por ser um defensor da monarquia, regime político que promove em diversos eventos e iniciativas.
Joaquim Costa e Nora materializa a imagem que temos de um cavalheiro, algo que transparece nos seus gestos e na sua forma de estar. Escolheu seguir uma carreira na advocacia, embora durante algum tempo tivesse ponderado licenciar-se em Economia. Já sobre quem deve ocupar o cargo de Chefe de Estado de Portugal, o advogado não tem dúvidas: o Rei.
O seu escritório de advocacia, que partilha com o irmão José Sampaio Nora e outros familiares, encontra-se numa rua de Cantanhede baptizada com o nome do primeiro rei de Portugal — D. Afonso Henriques. “Como não podia deixar de ser”, brinca Joaquim Costa e Nora, advogado e apoiante da Causa Real. Coincidência ou não, também a estátua de D. António Luís de Meneses, Marquês de Marialva, figura central na Restauração da Independência, aponta para o local de trabalho do causídico.
Estas curiosidades foram referidas no decorrer de uma breve conversa telefónica que tivemos com Costa e Nora para agendar uma entrevista. Por isso mesmo, quando chegámos ao seu escritório, já sabíamos estar perante um acérrimo defensor da monarquia. Também o emblema que trazia na lapela do casaco, representando as armas reais, denunciava a sua convicção política.
Sobre a monarquia e sobre o que o advogado considera ser a nova “nobreza” falaremos mais à frente. Para já, vamos começar pelos primeiros anos de vida de um homem que veio ao Mundo em 1954, em Coimbra, concretamente “na Clínica dos Olivais, embora a sede familiar estivesse então em Murtede”. Foi nesta localidade do concelho de Cantanhede que residiu durante a infância, juntamente com os pais — um advogado e uma licenciada em Farmácia — e os dois irmãos mais velhos. “Quando os meus irmãos entraram no Liceu, deixei a Escola de Murtede e passei a frequentar a Escola Primária de Santo António dos Olivais, em Coimbra. A última metade da quarta-classe foi passada na Escola de Sepins [Cantanhede]”. “Posso dizer, com algum orgulho, que ainda tenho bons amigos que conheci nas três escolas que frequentei”.
Diz ter vivido uma infância feliz e, mesmo que não houvesse tantas distracções como hoje em dia, diz não se recordar “de ter tempos em que me maçasse. Tinha sempre a companhia de bons amigos. Aliás, a amizade era tão boa que quando seguimos caminhos diferentes nos estudos, nas férias juntávamo-nos e, inclusivamente, numas férias de Natal, formámos em Murtede um grupo de teatro”. O grupo ensaiava no Centro de Recreio Popular de Murtede, ligado à FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), a instituição que precedeu o INATEL.
Trabalho de equipa
De Sepins o jovem Joaquim Costa e Nora seguiu para o então Liceu D. João III, em Coimbra, cidade para onde entretanto se tinha mudado definitivamente com a família. Dos sete anos no Liceu, hoje a Escola Secundária de José Falcão, recorda o elevado nível de exigência dos professores. “Todo o ensino era exigente. Não havia as facilidades que há hoje, em que os alunos quase são levados ao colo. Ali havia estímulo. Os professores, que eram muito bons, estimulavam os alunos a aprender”. De entre os docentes que o marcaram destaca Álvaro Silveira e Monteiro Rodrigues. Na sua memória guarda ainda alguns professores de Educação Física, responsáveis por o terem incentivado a praticar diversos desportos, como o andebol, o basquetebol e o râguebi, sendo este último o que praticou durante mais tempo. “Cheguei a jogar râguebi pela Associação Académica [de Coimbra], de manhã, e, à tarde, futebol pelo C.R.P. Murtede, no campeonato da FNAT. Gostei sempre de desporto e, sobretudo, de desportos de equipa, daí a razão de não gostar de falar de mim, mas das minhas “equipas”.
Continuou a jogar râguebi enquanto frequentou o ensino superior, mas o basquetebol também sempre foi uma das suas paixões, tendo pertencido à Direcção da Secção desta modalidade no Clube Académico de Coimbra. De facto, a sua paixão pelo “desporto rei” norte-americano estende-se até à actualidade. Embora já não drible e enceste, presta o seu apoio com os conhecimentos jurídicos que adquiriu ao longo dos anos. “Mais recentemente, a secção de Basquetebol da Associação Académica [de Coimbra] passou por momentos menos bons e uma equipa directiva a que pertenci e de que fui Presidente durante três épocas, conseguiu recuperar a secção, ao ponto de hoje o basquetebol da Académica só ser suplantado pelas profissionalíssimas equipas do Benfica e do Porto”. Também integra o Conselho Desportivo Municipal de Coimbra, um órgão consultivo independente, e é presidente do Conselho Fiscal da Associação de Basquetebol de Coimbra.
Joaquim Costa e Nora licenciou-se emDireito, pela Universidade de Coimbra, cumprindo a tradição familiar iniciada pelo pai e continuada pelo irmão mais velho. Mas Direito não foi, pelo menos durante um período, o curso que Costa e Nora ponderou seguir. “Tinha relativamente boas notas a Matemática e, portanto, pensei ir para Economia, como acabou por ir um dos meus filhos. Só que em Coimbra [ainda] não havia Faculdade de Economia, de maneira que acabei por cursar Direito”.
Enquanto frequentava o curso, o universitário pertenceu ao Orfeon Académico de Coimbra e frequentava o Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), também conhecido por Instituto Justiça e Paz. Aos fins-de-semana, ministrava a catequese em Murtede. Em termos profissionais futuros acalentou, durante algum tempo, o desejo de seguir uma carreira diplomática. Porém, o sonho acabou por nunca se cumprir. “Um das coisas que estava nos meus horizontes seria a carreira diplomática, que acabei por deixar de lado porque, entretanto, no final do meu curso, “deu-se” o 25 de Abril e, como aluno, estive saneado durante dois anos e impedido de fazer exames”. Porquê? “Por motivos políticos, naturalmente. As pessoas que na altura estavam à frente dos plenários da Faculdade não eram propriamente muito tolerantes e eu não era da cor política delas. Sempre fui uma pessoa reconhecidamente de direita. Como a carreira diplomática era uma carreira muito hierárquica e dependente da administração do Estado, deixei-a de lado”.
Depois de concluída a licenciatura em Direito, em 1977, Costa e Nora cumpriu o serviço militar na Escola Prática de Administração Militar, em Lisboa, no 1.º Curso Especial de Oficiais Milicianos de 1978. “Curiosamente, fui o primeiro classificado desse curso”. Depois, seguiu para o Estado-Maior General das Forças Armadas, também na capital, e, posteriormente, para a Comissão de Extinção da PIDE/DGS, em Coimbra. “Funcionava no edifício anteriormente ocupado pela própria PIDE. Instruíamos processos que depois iriam para o Tribunal Militar, onde um Promotor de Justiça entendia se os processos deveriam, ou não, ser submetidos a julgamento militar”.Concretamente, o que Costa e Nora e os colegas faziam era apurar quem tinha pertencido à polícia do antigo regime. Pouco antes de terminar o serviço militar foi promovido a alferes e passado à disponibilidade. “Hoje estou na reserva”.
Enquanto cumpria o serviço militar completou o estágio profissional em advocacia, no escritório do pai, em Cantanhede. Tornou-se advogado em 1978, o ano em que também se casou.“Quando eu comecei só havia meia dúzia de advogados em Cantanhede”, recorda. Ao longo dos mais de 30 anos de profissão revelou ser um notável causídico. Confessa-se apaixonado pela profissão, embora não goste de comentar os processos em que esteve envolvido.
Um Real Chefe de Estado
Joaquim Costa e Nora é, desde a juventude, um apoiante da Causa Real, acreditando que o Chefe de Estado deve ser o Rei e não o Presidente da República. De uma forma resumida explicou-nos a razão desta sua convicção. “No meu ponto de vista, o que se nota nas eleições para Presidente da República, é que criam uma divisão. Qualquer Presidente da República, quando chega ao momento de tomar uma posição, é sempre acusado, ou pelos que o elegeram, que o acusam de traição, ou pelos outros, que o acusam de estar a proteger os que o elegeram. Portanto, nunca tem paz”. “Entendo que o Rei — e não a nobreza, entenda-se, até porque nobreza existe em República, que são os membros dos aparelhos partidários — sendo preparado e não estando dependente de eleições e de apoios partidários, é muito mais independente do que o Presidente da República”.
Nos antepassados mais próximos do advogado não há registo de monárquicos, exceptuando o pai que tinha “alguma simpatia” por este regime político. “Isto talvez funcione como contra-peso. Por exemplo, o meu avô, como viveu em Monarquia, consta que era Republicano”.
Curiosamente, Costa e Nora não é militante do Partido Popular Monárquico (PPM). “Embora tenha muita simpatia pelo partido, o PPM está como partido no arco do Governo. Os partidos têm os seus combates eleitorais numa área de Governo. E eu entendo que o Rei deve reinar e não governar. O Rei é um chefe de Estado, é um símbolo nacional, tal como a Bandeira e o Hino Nacional”.
Nas últimas décadas o causídico tem vindo a bater-se pela divulgação da Causa que apoia, nomeadamente através da participação em cerimónias que evocam momentos importantes da história da nacionalidade. “A nossa actuação funciona também noutros âmbitos. Criámos o Instituto da Democracia Portuguesa, de que fazem parte pessoas que não são monárquicas. Pretendemos arranjar soluções para Portugal. Fazemos várias reuniões, os chamados fóruns, e chegamos a conclusões”. Refira-se que essa vontade de arranjar novas ideias para salvar o País da crise deu origem ao livro “Plano C”, uma obra que reúne depoimentos de nomes conhecidos como Gonçalo Ribeiro Telles, Rui Moreira e Rui Rangel.
Depois de mais de uma hora à conversa com Joaquim Costa e Nora, o advogado alertou-nos para a sua necessidade de se ausentar de Cantanhede. A agradável troca de palavras tinha-se estendido mais do que o previsto e Costa e Nora tinha um compromisso em Coimbra, ao qual não podia faltar. Estávamos a 1 de Fevereiro, um dia banal para muitos, talvez, mas de grande relevo para os monárquicos: foi no primeiro dia de Fevereiro, do ano de 1908, que o Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe foram assassinados. E, tal como é hábito, o nosso entrevistado ia assistir a uma missa de evocação do regicídio.

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