Aborto e baptismo: a hipocrisia criticada por Francisco I
Parece que o novo Papa anda a partir a loiça protocolar do
Vaticano. Isto atraiu a atenção dos jornalistas, mas os camaradas faziam bem em
olhar para a loiça substantiva, loiça mesmo, que Bergoglio partia quando era
apenas o Arcebispo de Buenos Aires. Por exemplo, Bergoglio
criticava esta imensa hipocrisia : de manhã, a Igreja anti-aborto
incita as jovens a assumirem a gravidez; à tarde, a mesma Igreja recusa
baptizar as crianças que nascem fora do casamento. A imagem escolhida por
Bergoglio fala por si: uma rapariga solteira e pobre resiste à tentação do
aborto, tem a coragem para dar à luz, mas depois anda numa verdadeira
peregrinação de paróquia em paróquia à procura de alguém para baptizar o seu
filho; e esse alguém não aparece, a rapariga só encontra portas fechadas e
narizes empinados. Bergoglio estava a falar para a Igreja argentina, mas julgo
que o barrete é aplicável à Igreja em geral.
Bergoglio cunhou esta tremenda cara-de-pau de
"gnosticismo farisaico". Se não sabem, ficam a saber que a palavra Fariseu e suas variantes são insultos sérios
no mundo cristão; "és um
ganda fariseu" é o topo da insultologia cristã. Ora, dentro dos seus
poderes de chefão da Igreja das pampas, Bergoglio exigiu que o clero argentino
parasse com esta hipocrisia, porque a Igreja não pode impedir que as pessoas
encontrem o caminho da salvação só porque não preenchem três ou quatro alíneas
dum qualquer código de conduta. Os sacramentos não podem ser elementos de
chantagem.
Esta tomada de posição do novo Papa é de uma
coragem tremenda. Põe em causa a hipocrisia de padres, bispos e de boa parte da
comunidade católica. Põe em causa a própria hierarquia da Igreja que, por
vezes, usa os sacramentos para
impor um certo modelo fechado e penteadinho de família. E este fechamento é, segundo
Bergoglio, a deturpação do espírito de Cristo. Jesus Cristo, de facto, nunca
negaria abrigo a uma jovem pobre e com um filho nos braços. Vem na
Bíblia.
No secular Subte de Buenos Aires.
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