Apesar
de vivermos uma época de crise no Estado e na Administração Pública, onde a
gestão organizacional apresenta múltiplas limitações, a missão de prestar
serviços à sociedade continua, interessando, por isso, cuidar da absoluta versão
da crise, os “Seres Humanos” ou neste caso, os Funcionários públicos, revalorizando-os
como sendo os únicos recursos seguros e estáveis para a vencer.
A gestão
na função pública apresenta excessivas regras e rotinas, que impedem a participação
criativa, a autonomia e as consequentes tomadas de decisões, emperrando muitas
das atividades que deveriam ser realizadas. Também possui uma supervalorização
da hierarquia e rigidez no seu funcionamento, para além do aferro ao poder. Os
trabalhadores são controlados por papéis, normas e procedimentos, as condições
do trabalho tendem a uniformizar-se, encaminham-se os trabalhadores para
idênticas situações laborais e de organização do trabalho, sendo a dependência
da decisão política e das flutuações da capacidade económica do Estado, mais
uma das questões relevantes, na medida em que determinam aspectos importantes
do exercício funcional do trabalhador.
Neste
contexto, vejamos a título de exemplo a profissão docente, reconhecida por ser de
uma profissão de “alta tensão”, onde muitas das atribuições impostas a este
profissionais ultrapassam em larga medida as suas possibilidades: além de
turmas lotadas e exigentes, têm ainda que desempenhar trabalhos burocráticos,
desnecessários e não relacionados com a essência da sua profissão, como são as funções
de secretariado, responder à necessidade de actualização constante da sua
atividade docente, orientar os alunos e atender os pais, procurar respostas às
exigências que a sociedade lhe atribui, na tentativa de corrigir problemas
sociais, provenientes de um domínio familiar ausente, estando simultaneamente
muito expostos a críticas e a grandes cobranças pela população em geral, raramente
reconhecidos pelo seu sucesso, a viverem longe da zona de residência dos
familiares, com falta de condições e recursos materiais, sujeitos a adaptações
constantes às muitas reformas e mudanças que o sistema de ensino-aprendizagem
tem transportado, tanto a nível da organização da aprendizagem, como da própria
carreira, resultando tudo isto numa sobrecarga emocional e física,
proporcionadora direta de esgotamento profissional ou burnout. Mas afinal o que é isto de burnout? Burnout é uma reacção às condições de trabalho
stressantes, uma síndrome que assinala exaustão emocional, respostas
interpessoais frias e distantes e uma baixa realização profissional, com a
perda de motivação, em relação a si próprio, família, amigos e trabalho. As
consequências podem ser sérias, pois a sua ocorrência para além de se vincular
à diminuição das habilidades, aumento do absenteísmo e a intenção de desistir
do trabalho, diminui o comprometimento organizacional, bem como, instala o mal-estar
físico e psicológico revelado nas relações interpessoais, no sentimento de
inadequação e fracasso, podendo mesmo atingir estados depressivos e ansiosos
para além da ocorrência de somatizações e doenças físicas graves. Ou seja, um
desgaste que se instala progressivamente, até que surge o colapso, isto porque
o desempenho é sempre apresentado com mais esforço e mais empenho, sendo as
tentativas, em ambientes de trabalho hostis e desumanizados, infrutíferas, o
que leva o profissional a desistir, adoecendo.
Neste
quadro, surge a necessidade de maior saúde laboral, nos serviços públicos,
evidenciando-se a urgência de mudança no processo de trabalho, de forma a se
minimizar as consequências sobre a saúde dos servidores públicos. Prevê-se,
porém, que à medida que seja alterada e valorizada a relevância de propiciar
melhores condições laborais nestes contextos específicos surjam, também,
resistências e questões de ordem política e organizacional, e isto porque coexistem,
por um lado, a burocracia em seu sentido corporativo, centralizador e portanto,
contrário às mudanças na organização e nas formas de operar dentro do aparelho
do Estado; e, por outro lado, as próprias forças inovadoras, cuja
responsabilidade é a efectiva mudança, que encontram, nestes meios
organizacionais, muita dificuldade para implementar, de maneira efetiva,
projetos de reforma. Mesmo assim, e independentemente das resistências criadas,
a função pública, terá que quebrar paradigmas, modificar comportamentos e
alterar atitudes almejando o novo e a mudança, tudo isto em proveito da continuidade
e saúde dos únicos Recursos que possui seguros e estáveis, os Funcionários públicos.
Sílvia
Oliveira
Deputada
pelo PPM na Assembleia Municipal de Braga
Jornal "Diário do Minho" de 8 de Maio, pág. 14
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