Estamos todos de acordo. Esta coisa de dar ainda mais porrada nos
pensionistas é, como disse o Portas, extremamente desagradável, inaceitável
até. Problema é sabermos que, se não tirarem nas pensões, tirarão noutra
coisa qualquer. Alguém há-de pagar.
O IRRITADO, na sua qualidade de sacrificado pensionista,
aplaude. Óptimo! Na pensão, parece que o saque da toica não irá mais além.
Postas as coisas nestes termos, uma pergunta resta para fazer ao arauto
da oposição interna, o ilustre Portas: Onde? Como? Quem vai pagar? O homem
diz-nos que noutro sítio, mas como não diz qual, nem como, nem quem. Ficamos
mais ou menos na mesma.
Depois, o modus faciendi que Portas escolheu.
Primeiro, mandou que outrem pusesse a boca no trombone sobre as guerras
intestinas a que se terá dedicado no conselho de ministros. Depois, fez mais um teasing,
anunciando com quatro dias de antecedência, qual Obama da Cascalheira, que ia
aparecer ao povo, com aura de salvador da Pátria. Finalmente, faz a sua
proclamação, dizendo que não às pensões mas aceitando o princípio dos cortes,
sem dizer com que critério.
Dirão os mais desconfiados que aqui anda gato. Será que
Portas não tinha outra maneira de fazer as coisas que não fosse aproveitá-las
para uma jornada de propaganda sócio eleitoral? Parece que sim. Por uma questão
de lealdade. Por uma questão de dignidade própria. Por uma questão de
compromisso.
Parece que este tipo de atitude se filia na longa história do CDS,
primeiro partido a aliar-se ao PS, depois, na AD, ao PSD e o PPM. Deu cabo da
coligação com o PS, fez cair o governo. Deu cabo da coligação com PSD/PPM, fez
cair o governo. Mais tarde, outra vez se juntou ao PSD, mas durou pouco, deu
cabo da coisa antes que o ilustre Marcelo lhe fizesse o ninho atrás da orelha.
Ansioso de protagonismo, seja via Freitas do Amaral, seja via Adriano Moreira,
e vários outros, o CDS sempre foi uma força amaricada e traiçoeira, atingindo
com Portas novos píncaros,
O grande chefe da direita (Freitas) apressou-se a fazer-se
com Soares, que o tinha vencido indecentemente nas presidenciais. Fez-se com o
Pinto de Sousa, que acabou por trair, como tinha traido Balsemão e como
trairá quem se puser a jeito. Os grandes do CDS, de que é exemplo esse escarro
que se chama Basílio, sempre tiveram na cabeça o tropismo do PS. "Se um
não (nos) serve, serve o outro, desde que tenhamos hipóteses de poder",
deve ser o mais alto dos pensamentos do CDS.
Incapaz de se impor internamente – será que esconde
argumentos para lançar na praça pública? – aproveita para deitar a escada ao
descontentamento. E, em vez de tratar dos assuntos no lugar próprio - se é que
o move alguma intenção generosa ou programática - prefere apanhar o combóio da
propaganda.
O IRRITADO acha bem que Portas descubra a solução para não
lixar mais os aposentados, ainda que se exima a declarar como. Mas a porta do
Portas devia ser a da frente, isto é, a do conselho de ministros. Mais uma vez,
escolheu a porta das traseiras, que somos nós, os papalvos que são capazes de
pensar que está a lutar por eles.
Ainda por cima, trata-se de evidente estratégia. Inúmeros
porta vozes são “nomeados” para papaguear bitates de “independência”,
preparando com minúcia a angelical aparição do chefe.
No fundo, para o clube, preciso é ir-se deixando estar no poder. Sem prejuízo
do futuro, isto é, sem desagradar ao PS, que pode vir a ser o escadote de
amanhã.
O IRRITADO, António Borges de Carvalho
(Borges de Carvalho foi líder do Grupo Parlamentar do PPM na AR no
tempo da AD)
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