Dom Fernando II, marido da Rainha D.
Maria II, tinha “um espírito conciliador e era um sedutor”, afirma a
historiadora Maria Antónia Lopes, autora de uma biografia do monarca que mandou
construir o Palácio da Pena, em Sintra.
O Rei “é muito conhecido pelo seu mecenato artístico-cultural,
nomeadamente a construção do palácio da Pena, mas era um estratega, e muito
crítico dos políticos portugueses”, disse a historiadora.
Neste sentido, salientou, esta biografia “traz uma perspetiva nova sobre
o Rei, porque consultei a correspondência privada em alemão e essa não tem sido
trabalhada pela história política”.
Maria Antónia Lopes realçou à Lusa que "há razões para hoje termos
uma boa ideia do monarca, mas era um egocêntrico, orgulhoso, um epicurista,
apreciava os prazeres da vida, pela qual era um apaixonado".
A historiadora consultou os arquivos de Coburgo e Gotha, na Alemanha,
respeitantes às respetivas famílias reais, com as quais era aparentado o
segundo marido da Rainha D. Maria II, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, que
chegou a exercer a regência durante dois anos (1853-55), na menoridade de D.
Pedro V, com o qual tinha, aliás, “uma relação difícil”.
“D. Pedro V tinha uma péssima imagem do pai e considerava-se
infinitamente superior”, disse a historiadora.
“Foi um monarca constitucional, terá evitado uma união com Espanha, em
dado momento, mas não se absteve de comentar em privado, nas cartas enviadas
para os vários familiares, a política de Lisboa, com a qual se irritava pelas
suas intrigas partidárias”, disse.
D. Fernando e a Rainha “tiveram uma relação muitíssimo boa e muito
cúmplice”, e “ele foi sempre um pai atento e terno, mas que se desligava dos
filhos, chegando eles à idade adulta”.
Maria Antónia Lopes afirmou-se “impressionada com a frieza como o Rei
reagiu à morte dos seus filhos", os infantes D. João e D. Fernando, e o
Rei D. Pedro V, todos em 1861. “Ele ultrapassou [a situação] com grande
facilidade".
A morte da mulher, em 1853, “levou mais tempo, mostrou alguma
prostração, mas regressou à vida de festa", afirma a historiadora.
"Depois de viúvo, prosseguiu a sua vida agradável, participando em bailes,
concertos e saraus. Frequentava muito o teatro, acompanhado pelo filho, D. Luís
[que se tornaria Rei após a morte do irmão], e comentou-se os seus casos com
atrizes e costureiras de teatro”.
A autora sublinhou a faceta de colecionador de arte do Rei e a de
cientista, nomeadamente na área da flora e da climatização. “O Parque da Pena
[em Sintra] é uma invenção sua, [onde] fez experiências e colocou plantas e
árvores, quando dantes aquilo era um monte seco”.
D. Fernando protagonizou algumas polémicas, nomeadamente em 1869 quando
se casou com a cantora lírica Elisa Hensler, que o seu primo Ernesto II de
Saxa-Coburgo Gotha nobilitou com o título de Condessa d’Edla, e uma outra
quando foi conhecido o seu testamento.
"O testamento ainda hoje é alvo de debate pelos especialistas. O
Rei exigiu coisas extraordinárias como a condesssa viver no Paço real das
Necessidades, com os infantes".
A historiadora reconheceu "um certa empatia com o biografado, que
foi um 'rei-artista' e um sedutor".
Além desta biografia, o Círculo de Leitores edita também este trimestre
a de D. Pedro III, filho de D. João V, outro Rei consorte da monarquia
portuguesa, ao ter casado com D. Maria I.
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