O duque de Bragança, Duarte Pio,
afirmou hoje, em Macau, que a crise portuguesa tem como causas a
"ignorância, a irresponsabilidade e a desonestidade" de alguns
políticos e defendeu a necessidade de a população gastar menos.
"Eu acho que a crise portuguesa
tem duas causas: a ignorância e a irresponsabilidade, para não dizer também uma
certa dose de desonestidade, da parte de alguns políticos que se foram habituando
a ter lucros que não deviam ter", disse Duarte Pio em declarações aos
jornalistas à margem da Feira Internacional de Macau, que visitou a convite da
Associação de Jovens Empresários Portugal-China.
Ao constatar que "qualquer dona
de casa sabe que não é sustentável gastar mais do que o que se ganha", o
duque de Bragança previa que "mais cedo ou mais tarde" o despesismo
do Governo "tinha que se pagar" e lamentou que tenha sido
"preciso o Governo anterior estar numa situação praticamente de falência
para chamar a 'troika'".
"Acho que se tivesse tido
alguma influência como rei ou político nos anos anteriores, a minha voz teria
sido mais ouvida, quando durante tantos anos fui alertando contra as despesas
não reprodutivas que os governos portugueses foram fazendo", apontou,
referindo nomeadamente "as autoestradas, a Expo, o Centro Cultural de
Belém".
O pretendente ao trono de Portugal
lembrou ainda "a fraude do BPN", defendendo que os seus responsáveis
"deviam estar na prisão" e lamentou que o "Governo Sócrates
tenha salvado da falência um banco que devia ter ido à falência e que é um dos
maiores buracos financeiros que há em Portugal".
"Isto não é admissível que o
contribuinte tenha de pagar as aventuras e a desonestidade de algumas
pessoas", sublinhou.
Quanto ao Orçamento do Estado para
2014, apresentado esta semana, Duarte Pio considera que é "o possível,
ninguém gosta dele, mas quando não há dinheiro tem de se fazer aquilo que se
pode: ou se cortam as despesas do Estado ou se aumentam as receitas".
"Aumentar as receitas só com os
impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes
na função pública, que representa "80 % das despesas do Orçamento do
Estado".
Para o duque de Bragança, "ou
se diminui o número de funcionários - e aí há o problema do desemprego e dos
subsídios de desemprego - ou se diminuem, de algum modo, os custos do
funcionalismo público, não há muita alternativa, aliás, não há mesmo
alternativa nenhuma, porque o resto das despesas que o Estado tem de cortar são
20% do Orçamento".
A situação que o país enfrenta é
atribuída ainda pelo duque de Bragança ao sistema republicano, apontando que
"os presidentes da República, por mais sérios e dedicados que sejam, têm
estado sempre comprometidos com os partidos, sendo, por isso, muito difícil
intervir e corrigir os desvios dos próprios partidos".
"Se a República Portuguesa
tivesse como chefe de Estado um rei tinha mais independência, mais liberdade
para poder, de algum modo, ajudar a controlar os desvios que os governos possam
ter, que é o caso da Escandinávia, Reino Unido, Espanha, Austrália e Nova
Zelândia", acrescentou.
Duarte Pio defende a necessidade de
o "Estado dar o grande exemplo de poupança e de encorajamento da
iniciativa privada", que lamenta que seja "ainda muito vítima da
burocracia", apesar de se congratular com a criação dos vistos dourados
para "facilitar o investimento estrangeiro".
"E, por outro lado, pode-se
viver bem com menos, mas é preciso ajudar a população a perceber como é que se
pode viver sem sacrifício gastando menos, porque muita gente habituou-se a
gastar demais", concluiu.
O duque de Bragança está em Macau
para "apoiar a presença portuguesa" na Feira Internacional e para
"rever amigos, monárquicos e republicanos, portugueses e macaenses",
num jantar que hoje teve lugar no Clube Militar. No sábado, revê outros amigos
num almoço no Clube Lusitano de Hong Kong.
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