Em declarações à Lusa, o músico, natural de Guimarães e atualmente a
residir na Curia, a 30
quilómetros de Coimbra, criticou «a globalização que
centraliza, tornando Lisboa cada vez mais o centro das atenções».
«Portugal é mais do que isso, e o norte e o interior estão muito
esquecidos», argumentou o cantor, que em «Sons Ibéricos» interpreta «Para lá do
Marão», a única faixa gravada ao vivo, e «Sou galego (até ao Mondego)», dois
temas com letra e música de José Cid, que é o produtor do álbum.
«Há que descentralizar os serviços, regionalizar, mas não repartir o
país. Não faz sentido eu ter de fazer 400 quilómetros
para dar um entrevista na televisão, ou ir gravar», disse.
Outra preocupação que procura evidenciar neste álbum é a «defesa da
nossa Língua Portuguesa» e «como os rios não nascem no mar», Zé Perdigão
afirmou-se «contra o Acordo Ortográfico».
«Não quero que a minha língua, que é a minha pátria, seja moldada por
aqueles que não a inventaram», disse o intérprete, que neste disco canta poemas
de Pedro Homem de Mello, Teixeira de Pascoaes, entre outros, como Djavan.
Referindo-se ao CD, Zé Perdigão começou a trabalhar nele há cinco anos,
logo após a saída do seu álbum de estreia, «Fados do Rock», e conta, entre
outros, com a participação do violoncelista Francisco Ribeiro, um dos
fundadores dos Madredeus, que faleceu há dois anos.
«O Francisco [Ribeiro] fez ainda os violoncelos e está também por detrás
de todo o trabalho, como a Joana de Oliveira, uma poetisa de Águeda, que seria
a nova Florbela Espanca, mas que se suicidou aos 32 anos, em 2011», contou.
José Cid que o «descobriu» num festival de Guimarães é o principal autor
do álbum, assinando três composições, para os poemas de Joana de Oliveira,
«Lenda da Cidade», de Federico García Lorca, «Meu grito», e de Teixeira de
Pascoaes, «Alvas brumas do Norte», a letra «Aranjuez», para um excerto da
composição clássica de Joaquín Rodrigo. Cid adaptou e interpreta com Perdigão
«Milho Verde», uma canção tradicional da Beira Baixa, e assina a letra e música
de quatro temas, entre eles um do seu próprio repertório, «Morrer de amor por
ti».
«Milho Verde» é uma homenagem ao José Afonso e à música tradicional,
cantando ainda deste repertório «Senhora do Almortão», disse o cantor.
No espetáculo de sext-feira, às 22:00, no Casino da Póvoa, participam
José Cid e as Adufeiras de Idanha-a-Nova que, com Perdigão, vão interpretar
três temas.
O CD é constituído por 14 temas, entre os quais, «Bandoleiro», de Ney
Matogrosso, «Esquinas», de Djavan e «Gondarém», que »é uma homenagem à saudosa
Amália Rodrigues, a um grande compositor, Alain Oulman, e a um senhor poeta,
Homem de Mello», disse.
Perdigão afirmou-se «apaixonado pelos grandes poetas que temos», e
afirmou que, «apesar de escrever umas coisas», prefere «cantar os outros». «Eu
sou essencialmente uma voz», sentenciou.
O álbum é «o enamoramento da guitarra portuguesa com a guitarra
flamenca», disse o cantor, que se escusou a catalogá-lo.
«A música para mim, ou gosto ou não gosto. Não tenho prateleiras para a
música», rematou.
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