quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

“RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA, LUSOFONIA E FUTURO”



Comemorou-se no passado dia 1 de dezembro, os 373 anos da Restauração da Independência de 1640. Pela primeira vez não foi comemorado com feriado nacional. Aquela data tem para Portugal um significado muito importante. Após 60 anos de domínio dos reis de Espanha, recuperamos a nossa soberania, a nossa independência. Hoje, uma vez mais, estamos reféns, agora com outras complexidades. Muitos dizem poder motivar uma ‘ditadura’, o que seria um retrocesso civilizacional. Importa refletir sobre as razões que motivaram a perda da independência financeira e sobre o caminho que foi trilhado.
Estamos novamente dependentes da vontade de outros. Só é verdadeiramente livre quem possui independência económica e financeira. Portugal necessita de construir um novo paradigma ao nível da organização do Estado. Não pode ter uma organização que não tem capacidade para se auto sustentar. O tempo passa e vamos sentindo as dificuldades que sucessivos governos vão tendo para resolver as contas públicas. Com essas dificuldades têm arrastado toda a sociedade para uma indesejável desmobilização e preocupante desânimo. Falta esperança e confiança.
Portugal e os portugueses necessitam de um novo desígnio que os mobilize e lhes retorne a confiança perdida. A lusofonia é ainda uma esfera de ambição que pode motivar os cientistas, os investigadores, os artistas, os Homens da cultura, os empresários e políticos. Somos uma comunidade com grande dimensão humana e social e que vai marcando a história de forma muito presente. O futuro de Portugal requer um novo paradigma, assente em valores e princípios, como os que motivaram o grito de liberdade conquistada e que nos tem permitido afirmar como povo ao longo da história da humanidade. O nosso país ao longo da sua história tem demonstrado uma inteligência extraordinária, permitindo que sejamos o país do mundo que possui as mesmas fronteiras há mais de 900 anos. Somos por isso um dos mais velhos países para o qual não foi necessário fazer novos mapas, e que vem conquistando um espaço próprio no seio das nações.
Atualmente, ilustres portugueses assumem a liderança de várias organizações mundiais, mormente são os casos da União Europeia, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, do Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, e bem recentemente tivemos outros portugueses ilustres que foram líderes nas Nações Unidas e no Tribunal de Justiça Europeu. A comunidade internacional sabe que pode contar com os filhos de Portugal para assumir responsabilidades mundiais.
Considero a Lusofonia, por ventura, um espaço novo onde ainda podemos sonhar. A língua portuguesa reúne neste paradigma cerca de 400 milhões de falantes em português, o que pode motivar novos desafios numa comunidade que possui a mesma gramática, as mesmas palavras e a mesma escrita.
Algumas questões se devem colocar para demonstrar que ao longo da história das organizações existem bons exemplos de capacidade de desempenho. Os CTT foram criados na monarquia, em 1520 por D. Manuel I. Desenvolveram-se e assumiram-se como empresa de referência. Outras organizações, que também nasceram na monarquia, continuam hoje a constituir esteios de participação social ativa. As Marcas que melhor projectam Portugal no mundo foram construídas na monarquia, com a intervenção do Marquês de Pombal, ao instituir as Regiões Demarcadas do Vinho do Porto e do Vinho Verde. Curiosamente, os atores do turismo, tem sabido tirar partido desse grande projecto que nasceu há séculos.
Veja-se o caso das mais destacadas estruturas associativas empresariais em Portugal, as Santas Casas da Misericórdia, o Montepio Geral, entre outras, que também foram fundadas na monarquia e são ainda hoje considerados esteios sociais importantes. Será que essas organizações têm afinal um melhor sentido de estado? Sabem interpretar melhor o seu papel na sociedade? Creio que a experiência acumulada, o respeito e reconhecimento dos cidadãos as tornam instituições especiais. Essas organizações, têm tido a capacidade de unir vontades e de unir os portugueses. São bons exemplos, para que os partidos políticos, se inspirem tendo em vista o desafio que têm pela frente, o de unir os portugueses e de os mobilizar para os novos paradigmas.
As forças dinâmicas da democracia, têm de promover mudanças no comportamento dos atuais partidos políticos. Será necessário, considerar uma nova leitura da vida política e, um novo grau de co-responsabilização dos políticos na sua ação.
O Alqueva, o turismo, a par dos vinhos, entre outras áreas, podem assumir-se como paradigmas de desenvolvimento. A aposta na educação é sem dúvida o mais importante paradigma, que requer novos e mais ambiciosos entendimentos. Só a educação e o conhecimento, podem unir os portugueses e restaurar a confiança. Os custos da ignorância serão sempre superiores.

Eng.º Abílio Vilaça, Presidente da Adere-Minho
Jornal Correio do Minho de 8 de Dezembro de 2013

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