Comemorou-se no passado dia 1 de dezembro, os 373 anos da Restauração da
Independência de 1640. Pela primeira vez não foi comemorado com feriado
nacional. Aquela data tem para Portugal um significado muito importante. Após
60 anos de domínio dos reis de Espanha, recuperamos a nossa soberania, a nossa
independência. Hoje, uma vez mais, estamos reféns, agora com outras complexidades.
Muitos dizem poder motivar uma ‘ditadura’, o que seria um retrocesso
civilizacional. Importa refletir sobre as razões que motivaram a perda da
independência financeira e sobre o caminho que foi trilhado.
Estamos novamente dependentes da vontade de outros. Só é verdadeiramente
livre quem possui independência económica e financeira. Portugal necessita de construir
um novo paradigma ao nível da organização do Estado. Não pode ter uma
organização que não tem capacidade para se auto sustentar. O tempo passa e vamos
sentindo as dificuldades que sucessivos governos vão tendo para resolver as
contas públicas. Com essas dificuldades têm arrastado toda a sociedade para uma
indesejável desmobilização e preocupante desânimo. Falta esperança e confiança.
Portugal e os portugueses necessitam de um novo desígnio que os mobilize
e lhes retorne a confiança perdida. A lusofonia é ainda uma esfera de ambição
que pode motivar os cientistas, os investigadores, os artistas, os Homens da
cultura, os empresários e políticos. Somos uma comunidade com grande dimensão
humana e social e que vai marcando a história de forma muito presente. O futuro
de Portugal requer um novo paradigma, assente em valores e princípios, como os que
motivaram o grito de liberdade conquistada e que nos tem permitido afirmar como
povo ao longo da história da humanidade. O nosso país ao longo da sua história
tem demonstrado uma inteligência extraordinária, permitindo que sejamos o país
do mundo que possui as mesmas fronteiras há mais de 900 anos. Somos por isso um
dos mais velhos países para o qual não foi necessário fazer novos mapas, e que
vem conquistando um espaço próprio no seio das nações.
Atualmente, ilustres portugueses assumem a liderança de várias
organizações mundiais, mormente são os casos da União Europeia, do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, do Alto Representante da ONU
para a Aliança das Civilizações, e bem recentemente tivemos outros portugueses
ilustres que foram líderes nas Nações Unidas e no Tribunal de Justiça Europeu.
A comunidade internacional sabe que pode contar com os filhos de Portugal para
assumir responsabilidades mundiais.
Considero a Lusofonia, por ventura, um espaço novo onde ainda podemos sonhar.
A língua portuguesa reúne neste paradigma cerca de 400 milhões de falantes em
português, o que pode motivar novos desafios numa comunidade que possui a mesma
gramática, as mesmas palavras e a mesma escrita.
Algumas questões se devem colocar para demonstrar que ao longo da
história das organizações existem bons exemplos de capacidade de desempenho. Os
CTT foram criados na monarquia, em 1520 por D. Manuel I. Desenvolveram-se e
assumiram-se como empresa de referência. Outras organizações, que também nasceram
na monarquia, continuam hoje a constituir esteios de participação social ativa.
As Marcas que melhor projectam Portugal no mundo foram construídas na
monarquia, com a intervenção do Marquês de Pombal, ao instituir as Regiões
Demarcadas do Vinho do Porto e do Vinho Verde. Curiosamente, os atores do turismo,
tem sabido tirar partido desse grande projecto que nasceu há séculos.
Veja-se o caso das mais destacadas estruturas associativas empresariais
em Portugal, as Santas Casas da Misericórdia, o Montepio Geral, entre outras,
que também foram fundadas na monarquia e são ainda hoje considerados esteios sociais
importantes. Será que essas organizações têm afinal um melhor sentido de estado?
Sabem interpretar melhor o seu papel na sociedade? Creio que a experiência
acumulada, o respeito e reconhecimento dos cidadãos as tornam instituições especiais.
Essas organizações, têm tido a capacidade de unir vontades e de unir os
portugueses. São bons exemplos, para que os partidos políticos, se inspirem tendo
em vista o desafio que têm pela frente, o de unir os portugueses e de os
mobilizar para os novos paradigmas.
As forças dinâmicas da democracia, têm de promover mudanças no
comportamento dos atuais partidos políticos. Será necessário, considerar uma
nova leitura da vida política e, um novo grau de co-responsabilização dos
políticos na sua ação.
O Alqueva, o turismo, a par dos vinhos, entre outras áreas, podem assumir-se
como paradigmas de desenvolvimento. A aposta na educação é sem dúvida o mais importante
paradigma, que requer novos e mais ambiciosos entendimentos. Só a educação e o
conhecimento, podem unir os portugueses e restaurar a confiança. Os custos da
ignorância serão sempre superiores.
Eng.º Abílio Vilaça, Presidente da Adere-Minho
Jornal Correio do Minho de 8 de Dezembro de 2013
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