Câmara de Braga vai retirar viabilidade
construtiva
Dossiê das Sete Fontes pode acabar nos
tribunais
O processo de preservação do monumento nacional
das Sete Fontes, em Braga, poderá acabar numa batalha judicial. A possibilidade
foi admitia, ontem, pelo vereador que tutela os pelouros do Património e que
tem em mãos a responsabilidade de elaborar o Plano de Pormenor e Salvaguarda do
monumento. O novo plano anula as muitas construções que estavam previstas no Plano
de Pormenor que foi aprovado pelo anterior executivo e o vereador Miguel
Bandeira não descarta a possibilidade de os proprietários dos terrenos avançarem
com processos judiciais contra o Município de Braga.
«Não nego que poderemos vir a ter processos
judiciais, se não houver bom senso das partes intervenientes», disse ao Diário
do Minho o responsável político pela elaboração do Plano de Salvaguarda das
Sete Fontes, que prevê a construção de um parque eco-monumental na área do
monumento de matriz aquífera.
Miguel Bandeira, que falava à margem de uma
visita de D. Duarte Pio ao monumento nacional, diferenciou os direitos que
assistem a quem possui terrenos no local antes e depois de meio de 1995, data
em que o complexo monumental entrou em processo de qualificação. Em seu entender,
«quem adquiriu terrenos com expectativa deconstrução, desde maio de 1995, não
tem legitimidade para essas expectativas», porque «ninguém, de boa fé, pode
dizer que ignorava as pendências e os ónus que estão previstos na lei» que
regula os monumentos que entram em processos de classificação.
Questionado se essas expectativas não foram
legitimadas pela própria Câmara Municipal, quando aprovou o Plano de Pormenor
que contemplava amplas áreas de construção, o autarca alegou que «não», uma vez
que «o Plano de Pormenor seria ilegal».
«É provável que se não tivesse havido uma
alteração política, as coisas continuassem exatamente na mesma. Mas, provavelmente,
teríamos um outro figurino de litígio judicial», continuou Miguel Bandeira,
salientando que «as medidas cautelares que pairam sobre esses terrenos são
dissuasoras de outro tipo de veleidades e expectativas que, eventualmente,
foram criadas erradamente». Miguel Bandeira vinca que o novo PDM «tem que ir de
encontro à defesa do inte resse público e não pode ignorar uma questão que hoje
é um não plano». Já sobre os proprietários que possuem terrenos antes de maio
de 1995, o vereador da Câmara Municipal de Braga reconhece que são casos
distintos. «Acredito que quem seja detentor de terrenos antes de 1995 terão
outras razões [quanto às expectativas de construção]. Esses terão direitos adquiridos
que a Câmara terá que assumir».
Duque
de Bragança defendeu existência de compensações só para os negócios sérios
O duque de Bragança, D. Duarte Pio,
defendeu ontem que a Câmara Municipal de Braga deve compensar os proprietários
que fizeram investimentos «sérios e honestos» nas Sete Fontes, mas excluiu de
qualquer indemnização os terrenos que foram valorizados «através de corrupção e
negociatas».
Recusando validar o argumento de que os
proprietários podem «construir aquilo que lhes apetece», D. Duarte Pio disse
que «em todas as sociedades civilizadas, o bem comum passa à frente dos
interesses particulares. Neste caso [das Sete Fontes], o bem comum é preservar
um valor patrimonial, histórico e paisagístico». O candidato a monarca
reconhece que quem fez «um investimento sério e honesto» na aquisição de
terrenos «tem que ser compensado», mas excluiu da compensação a «especulação
imobiliária».
«Quando um construtor compra um terreno
agrícola e depois, através de corrupção ou de negociatas, consegue transformá-lo
em terreno de construção, esses lucros não são propriamente lícitos nem têm valor
moral», sublinhou, referindo que «o que acontece muitíssimas vezes por esse
país todo é que zonas de interesse paisagístico ou agrícolas são destruídas por
negociatas».
Na deslocação às Sete Fontes, D. Duarte
também não poupou as instituições do Estado com responsabilidades na
preservação do património monumental, ao defender que o alargamento do
perímetro de 50 metros
de área “non aedificandi”, contados a partir do monumento, é insuficiente.
«O facto é que a UNESCO e as organizações internacionais
recomendam que à volta de um monumento histórico haja uma área de proteção
visual de 500 metros,
admitindo-se apenas construções que respeitem o monumento e Portugal aplica uma
zona de proteção de 50
metros, o que não protege nada», disse, apontando o dedo
à «barbaridade que se fez no Campo da Vinha».
A intervenção «estragou completamente a
paisagem» de «uma cidade com responsabilidades enormes» ao nível do
património», resumiu.
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