sexta-feira, 21 de março de 2014

Entrevista concedida por SAR o Duque de Bragança à edição do Diário de Notícias

Entrevista concedida por S.A.R. o Duque de Bragança à edição de hoje do Diário de Notícias, a propósito dos 40.º aniversário do 25 de Abril.
“A partir de certa altura passei a dormir fora de casa”

Onde é que estava no 25 de Abril?
Estava em Saigão e na véspera tinha jantado com o presidente do Parlamento, o senhor Tram van Lang, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros. Na manhã de 25, telefona-me a dar a notícia dizendo “boas notícias: a sua revolução ganhou”. Eu tinha-lhe dito que provavelmente um grupo de militares patriotas, como  Spínola, Silvério Marques, Galvão de Melo, iriam provavelmente mudar a situação em Portugal. Daí o senhor pensar que eu estava dentro do movimento!
Qual foi a sua reação?
Mandei um telegrama ao marechal Spínola  felicitando-o e informando-o de que estava à disposição para o que fosse útil.
Que episódio o marcou mais?
O ambiente festivo e alegre que rodeou o golpe militar e que me parece uma característica única portuguesa.
Qual é a figura que na sua opinião marcou o 25 de Abril?
O marechal António de Spínola.
O que mudou na sua vida pessoal?
Passei a ter a possibilidade de transmitir as minhas opiniões políticas nos meios de comunicação,  quando antigamente só o semanário monárquico O Debate é que me entrevistava. Por outro lado, a angustiante situação que se começou a viver nos antigos territórios ultramarinos, assim como o facto de o COPCON (Comando Operacional do Continente) ter invadido o meu escritório, também me marcaram bastante. A partir de certa altura, passei a dormir fora de casa.
O que de positivo trouxe o 25 de Abril?
Obviamente, as novas liberdades políticas que a II República nunca tinha aceitado foram um dado altamente positivo. Mas a participação cívica dos portugueses na construção do nosso futuro ainda está muito longe do que deveria ser, apesar de já terem passado quase 40 anos.
E de negativo?
O mais grave foi o modo altamente irresponsável como foi transferido o poder nos antigos territórios ultramarinos para os “movimentos de libertação armados” sem qualquer consulta democrática das populações. Essa situação levou às guerras civis que destruíram a maioria desses países e durante anos provocaram centenas de milhares de mortos, comprometendo gravemente o seu desenvolvimento económico e político. A própria economia portuguesa sofreu um enorme atraso do qual ainda não recuperámos. Este atraso tem de ser calculado comparando-nos, por exemplo, com a Espanha, que em 1974 não estava mais desenvolvida do que Portugal e que entretanto nos ultrapassou graças a uma transição democrática pacífica, que ficou a dever-se ao facto de ser uma monarquia.
O que falta mudar?
Falta uma verdadeira educação cívica e moral (ou ética, como preferem dizer os politicamente corretos) para que as liberdades e instituições democráticas sejam utilizadas para o bem da sociedade e não para o enriquecimento pessoal e imoral de muitos, o que desacredita profundamente esta III República e tem sido a causa do nosso deficit e económico.
A desresponsabilização e a impunidade dos desonestos são, em parte, provocadas pela nossa obsoleta e viciada legislação.
Ainda faz sentido falar nos ideais de Abril?
Os ideais de liberdade e progresso e etc. fazem todo o sentido continuar a ser defendidos. As utopias políticas e económicas que contribuíram para o Estado entrar em falência fraudulenta é que fazem menos sentido.
O que acha quando se diz que Portugal precisa de uma nova revolução?
Eu tenho defendido a necessidade de uma revolução cultural e moral. Cultural, para que consigamos perceber que os responsáveis do drama que vivemos somos nós próprios. Por ignorância e por falta de raciocínio lógico, tomámos decisões económicas e políticas erradas. Moral, porque a imoralidade, causa da corrupção, é o principal fator do deficit das contas públicas. Uma entidade internacional especialista nos problemas da corrupção calculou que se esta tivesse sido controlada  Portugal estaria hoje ao nível económico da Dinamarca. Com uma exceção, que acaba por confirmar a regra, nos países europeus onde a chefia de Estado é independente, nomeadamente onde é assumida por reis e rainhas, os desvios dos governos têm sido melhor controlados.

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