Fundador do PPM diz que Juan Carlos teve "reinado positivo, do qual
ficaram penduradas algumas situações como a da Catalunha e do País Basco".
No dia em
que o mundo ficou a saber que o Rei Juan Carlos vai deixar o trono de Espanha a favor
do filho Filipe, agora Filipe VI, um dos fundadores do Partido Popular Monárquico
(PPM) português, Luís Coimbra, rejeita a tese de que existe uma crise na
coroa espanhola e defende que a monarquia constitucional é "o
sistema democrático mais adaptado aos povos". Luís Coimbra antecipa
"um bom reinado", uma "solução de continuidade na democracia
espanhola" e que dê uma "garantia de futuro".
Como vê a abdicação do Rei Juan Carlos?
É uma
situação normal numa monarquia constitucional. Agora, resta saber a posição das
Cortes espanholas [Parlamento espanhol]. Mas com certeza que vai
democraticamente considerar como próximo Rei de Espanha o Filipe, filho de Juan
Carlos. Isto é muito melhor do que insistirem em eleições presidenciais em
Espanha, onde, como se pode imaginar, teríamos vários empreiteiros financeiros
e de obras públicas a tentar eleger o seu candidato.
De que forma resume as quase quatro décadas do
reinado do “rei que uniu os espanhóis”, como ele próprio se definiu?
Foi um
reinado positivo, do qual ficaram penduradas algumas situações, como as da
Catalunha e do País Basco. Parte do [problema] do País Basco está resolvida,
pelo menos, em termos do terrorismo, porque a ETA abdicou do terrorismo. Mas,
atenção: o Rei Juan Carlos representou muito bem a Espanha, merece a nossa
admiração, mas, obviamente, foram os diversos governos que conseguiram moderar
a questão basca e a questão catalã. Comparando os problemas constitucionais que
hoje temos em Portugal com os problemas constitucionais que não existem em
Espanha, é óbvio que, do ponto de vista teórico, a minha escolha é por uma
monarquia constitucional.
Os últimos anos de reinado foram marcados por
escândalos, um deles envolvendo um genro do rei. De acordo com uma sondagem do "El
País", no ano passado, 45% dos espanhóis defendiam a abdicação do rei e os
defensores da monarquia espanhola situam-se na casa dos 60%. Estará a monarquia desacreditada em Espanha?
O problema
de Espanha tem a ver com as autonomias, tem a ver com esse problema de um dos
genros do Rei – que, obviamente, se cometeu algum crime fiscal, terá de ir para
a prisão. Na classe política em Portugal, ninguém vai parar à prisão. Mesmo
assim, o sistema monárquico-constitucional mantém-se extremamente sólido em
Espanha e é uma garantia de futuro, de unidade da Espanha.
Este é um período de crise ou de renovação
para a monarquia espanhola?
Há crises
políticas permanentes em todos os países, excepto nas monarquias
constitucionais que fazem parte da União Europeia. Não há crise absolutamente
nenhuma em Espanha.
Penso que o Filipe vai fazer um bom lugar. Do ponto de vista
democrático, estamos a assistir a uma transição perfeitamente limpa e que não
mete nem interesses financeiros, nem económicos, nem particulares, o que é um
facto assinalável. Em Portugal, todos sabemos o que são as eleições
presidenciais e os seus custos.
O que antecipa do reinado de Filipe VI, que,
ao contrário do pai, mantém níveis elevados de popularidade?
Será um bom
reinado, embora tenha problemas de autonomias para resolver. Vejo com bons
olhos uma solução na continuidade da democracia espanhola, que, em muitas
circunstâncias, é um regime muito mais democrático do que o nosso.
E da rainha plebeia, Letizia? A Holanda já tem
uma, a argentina Máxima.
Hoje em dia,
do ponto de vista da monarquia constitucional, essa questão é secundária. O
mundo moderno não tem plebeus, nem nobres, nem gente predestinada. Há é quem
tenha mais obrigações e mais deveres para com o Estado e, eventualmente, menos
privilégios. Não é o caso da monarquia espanhola, onde, penso, o rei e a rainha
podem votar. O mesmo não acontece em Inglaterra. O custo de manutenção da Casa Real
espanhola é quatro vezes mais barato do que o da Presidência da República em
Portugal.
Juan Carlos é amigo de várias personalidades
portuguesas e falava em português nos actos oficiais que tinha em Portugal. Vai mudar a relação da monarquia espanhola com
Portugal?
Não vai
haver alteração. O príncipe herdeiro tem dado mostras de que respeita Portugal.
Não há problema nenhum como, aliás, nunca houve nos diversos processos de
sucessão de reis e rainhas dos países dentro da União Europeia. Todos se
mantiveram parceiros. A monarquia constitucional demonstra ser o regime
democrático mais adaptado aos povos e mais genuinamente representativo de cada
nação. Em Portugal, temos é de saudar o sucessor do Rei Juan Carlos, se for
esse o caso aprovado pelo Parlamento espanhol. Tudo será pacífico.
RR
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