Mudar o regime Servir Portugal

Manuel Beninger

quinta-feira, 5 de junho de 2014

"Não há crise absolutamente nenhuma na monarquia de Espanha"

Fundador do PPM diz que Juan Carlos teve "reinado positivo, do qual ficaram penduradas algumas situações como a da Catalunha e do País Basco".
No dia em que o mundo ficou a saber que o Rei Juan Carlos vai deixar o trono de Espanha a favor do filho Filipe, agora Filipe VI, um dos fundadores do Partido Popular Monárquico (PPM) português, Luís Coimbra, rejeita a tese de que existe uma crise na coroa espanhola e defende que a monarquia constitucional é "o sistema democrático mais adaptado aos povos". Luís Coimbra antecipa "um bom reinado", uma "solução de continuidade na democracia espanhola" e que dê uma "garantia de futuro".
Como vê a abdicação do Rei Juan Carlos?
É uma situação normal numa monarquia constitucional. Agora, resta saber a posição das Cortes espanholas [Parlamento espanhol]. Mas com certeza que vai democraticamente considerar como próximo Rei de Espanha o Filipe, filho de Juan Carlos. Isto é muito melhor do que insistirem em eleições presidenciais em Espanha, onde, como se pode imaginar, teríamos vários empreiteiros financeiros e de obras públicas a tentar eleger o seu candidato.
De que forma resume as quase quatro décadas do reinado do “rei que uniu os espanhóis”, como ele próprio se definiu?
Foi um reinado positivo, do qual ficaram penduradas algumas situações, como as da Catalunha e do País Basco. Parte do [problema] do País Basco está resolvida, pelo menos, em termos do terrorismo, porque a ETA abdicou do terrorismo. Mas, atenção: o Rei Juan Carlos representou muito bem a Espanha, merece a nossa admiração, mas, obviamente, foram os diversos governos que conseguiram moderar a questão basca e a questão catalã. Comparando os problemas constitucionais que hoje temos em Portugal com os problemas constitucionais que não existem em Espanha, é óbvio que, do ponto de vista teórico, a minha escolha é por uma monarquia constitucional.
Os últimos anos de reinado foram marcados por escândalos, um deles envolvendo um genro do rei. De acordo com uma sondagem do "El País", no ano passado, 45% dos espanhóis defendiam a abdicação do rei e os defensores da monarquia espanhola situam-se na casa dos 60%. Estará a monarquia desacreditada em Espanha?
O problema de Espanha tem a ver com as autonomias, tem a ver com esse problema de um dos genros do Rei – que, obviamente, se cometeu algum crime fiscal, terá de ir para a prisão. Na classe política em Portugal, ninguém vai parar à prisão. Mesmo assim, o sistema monárquico-constitucional mantém-se extremamente sólido em Espanha e é uma garantia de futuro, de unidade da Espanha.
Este é um período de crise ou de renovação para a monarquia espanhola?
Há crises políticas permanentes em todos os países, excepto nas monarquias constitucionais que fazem parte da União Europeia. Não há crise absolutamente nenhuma em Espanha. Penso que o Filipe vai fazer um bom lugar. Do ponto de vista democrático, estamos a assistir a uma transição perfeitamente limpa e que não mete nem interesses financeiros, nem económicos, nem particulares, o que é um facto assinalável. Em Portugal, todos sabemos o que são as eleições presidenciais e os seus custos.
O que antecipa do reinado de Filipe VI, que, ao contrário do pai, mantém níveis elevados de popularidade?
Será um bom reinado, embora tenha problemas de autonomias para resolver. Vejo com bons olhos uma solução na continuidade da democracia espanhola, que, em muitas circunstâncias, é um regime muito mais democrático do que o nosso.
E da rainha plebeia, Letizia? A Holanda já tem uma, a argentina Máxima.
Hoje em dia, do ponto de vista da monarquia constitucional, essa questão é secundária. O mundo moderno não tem plebeus, nem nobres, nem gente predestinada. Há é quem tenha mais obrigações e mais deveres para com o Estado e, eventualmente, menos privilégios. Não é o caso da monarquia espanhola, onde, penso, o rei e a rainha podem votar. O mesmo não acontece em Inglaterra. O custo de manutenção da Casa Real espanhola é quatro vezes mais barato do que o da Presidência da República em Portugal.
Juan Carlos é amigo de várias personalidades portuguesas e falava em português nos actos oficiais que tinha em Portugal. Vai mudar a relação da monarquia espanhola com Portugal?
Não vai haver alteração. O príncipe herdeiro tem dado mostras de que respeita Portugal. Não há problema nenhum como, aliás, nunca houve nos diversos processos de sucessão de reis e rainhas dos países dentro da União Europeia. Todos se mantiveram parceiros. A monarquia constitucional demonstra ser o regime democrático mais adaptado aos povos e mais genuinamente representativo de cada nação. Em Portugal, temos é de saudar o sucessor do Rei Juan Carlos, se for esse o caso aprovado pelo Parlamento espanhol. Tudo será pacífico.
RR

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